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COLUNAS


Marcos Ernesto Rogatto
marcos@vistamultimidia.com.br

Jornalista e Mestre em Multimeios pela Unicamp. Trabalhou na TV Manchete, Revista Veja e TV Globo São Paulo. Foi diretor de Comunicação da Prefeitura de Campinas e colaborador da Gazeta Mercantil. Há 25 anos trabalha com vídeos e multimídias corporativas. Atualmente é Diretor da produtora Vista Multimídia e participa do Grupo de Estudos de Novas Narrativas/GENN.

Banda Larga e Comunicação: muito a ver

              Publicado em 10/06/2010

Recentemente, a internet completou 20 anos de existência. De acordo com o site World Stats são mais de 1.8 bilhões de internautas, ou aproximadamente 25% da população mundial. Nenhuma mídia ganhou tão rápido reconhecimento e crescimento como a Web. Hoje, de alguma forma, tudo passa por ela e tudo que cai na rede movimenta milhões, seja em audiência ou em faturamento. Projeção do instituto Outsell mostra que nesse ano, nos Estados Unidos, os meios online e digital receberão mais investimentos publicitários que a mídia impressa.

Comércio eletrônico, páginas pessoais, portais corporativos, hot sites para lançamentos, aulas online, chats, blogs, publicação de vídeos e redes sociais se espalharam pelos 233 países que acessam a World Wide Web.

Cada vez mais surgem novas oportunidades de acesso a bons conteúdos, como sites dos quais se pode baixar livros gratuitos. Obras de domínio público de escritores conceituados como Fernando Pessoa, Machado de Assis e Franz Kafka, por exemplo. Mas, no Brasil, em plena era da informação, dos livros digitais e das duas décadas da Web, apenas 29% das bibliotecas públicas brasileiras têm internet.

Levantamento realizado pelo Ibope Nielsen Online sobre o acesso à rede mostrou que, em dezembro do ano passado, o número de internautas chegou a 66,3 milhões de brasileiros. Cada um deles passou média de 66 horas conectado, especialmente para trocar e-mails e acessar a sites de relacionamento. Uma razoável porcentagem de acessos e de tempo dedicado à Web.

Por outro lado as empresas paulistas ainda não estão usando o e-commerce como ferramenta de vendas. Estudo da Associação Comercial de São Paulo mostra que 62% das empresas, do setor de serviços, ainda não realizam negócios pela internet. Nas grandes companhias ainda são poucas as que se utilizam das ferramentas de comunicação como TV Corporativa, transmissões ao vivo, murais eletrônicos ou palestras online para integrar, informar e treinar colaboradores. O papel - em suas variáveis folder, jornal e revista -, ainda é utilizado na grande maioria das organizações em detrimento de mídias mais atuais e sustentáveis.

De acordo com os dados do Barômetro Cisco, em dezembro do ano passado, o Brasil chegou a mais de 15 milhões de acessos de banda larga. (22% dos que navegam). As velocidades média de conexão mais frequentes ainda são as de 512 Kbps a 999 Kbps (26,6% do total). Como a maioria dos países considera banda larga acima do patamar de 2 Mbps podemos observar que ainda somos tartarugas digitais.

Uma das explicações para o baixo uso corporativo das ferramentas de comunicação, que se relacionam com a Web, é a limitação da banda. A sua largura é diretamente proporcional às possibilidades de utilizar a rede para potencializar a comunicação e a gestão do conhecimento. Produções em vídeo e Digital Signage necessitam de boa conexão para chegarem aos displays eletrônicos e veicularem suas mensagens. Além das limitações de banda e da falta de hábito em meios eletrônicos, as empresas brasileiras são as que exercem mais controle sobre o uso de mídias sociais no trabalho, segundo pesquisa da empresa Manpower.

No seu Raio X Anual a União Internacional de Telecomunicações aponta que o acesso à banda larga no país é caro e lento. No geral, um brasileiro gasta 4,1% de sua renda para pagar por tecnologias de comunicação. Essa taxa é a pior do BRIC e superior à de 86 outros países. Para dar inveja, na França, a Numericable oferece plano de 100 Mbps por US$ 32,44 ou US$ 0,32 por Mbps. No Brasil, o preço médio de 1 Mbps é de US$ 21 (média entre Net e Telefônica). Na Coréia do Sul paga-se US$ 25 para ter 50 Mbps, sem limitações de dados baixados ou levantados.

A banda larga via telefone móvel 3G é assinada por quase meio bilhão de pessoas em todo o mundo, segundo os dados da 3G Américas. Esses assinantes representam 11,4% de toda a base mundial de 4,3 bilhões de usuários de telefonia móvel. As redes baseadas no padrão 4G começam a evoluir nas operadoras. No primeiro trimestre deste ano a banda larga móvel registrou expansão de 81% nas três Américas. Enquanto se discute a internet das coisas e muitos já navegam em 4G o Brasil precisa de intervenção da Agência Nacional de Telecomunicações para obrigar as operadoras de internet móvel a informar, nas peças publicitárias, a velocidade mínima do serviço. Isso porque os consumidores acabam navegando em velocidade bem inferior à contratada. Ao mesmo tempo, apenas 5% das maiores empresas em atuação no Brasil têm um pé na mobilidade. Esse é o baixo número apontado em pesquisa realizada pela Mowa.

Enquanto há meses o governo discute a volta da Telebrás, cada dia era um CEO de operadora que partia para a ofensiva se oferecendo para capitanear o processo. O decreto que instituiu o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) prevê triplicar a base de acessos do Brasil e chegar a 40 milhões de residências. É voltado principalmente para as classes C e D e terá planos, com limitação de downloads, a uma velocidade de até 512 Kbps, por R$ 15 mensais. O custo do PNBL, até 2014, está estimado em R$ 12,8 bilhões. Parte desse recurso virá do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

O decreto do PNBL prevê responsabilidades da Telebrás como a implantação da rede de comunicação da administração pública federal, o provimento de links a empresas privadas e administrações federal, estadual e municipal e a prestação do serviço final quando a localidade não for atendida por nenhuma outra operadora de banda larga. Com isso o governo terá que dar vida à extensa malha de fibras óticas já implantadas pela falida Eletronet.

Creio que seria bem melhor não haver tanto dinheiro público para potencializar a inclusão digital e melhorar a sofrível conexão Web brasileira. Reduzir a carga tributária também ajudaria a melhorar a universalização da banda larga. A iniciativa privada tem que participar, mas a discussão é salutar e deveria envolver vários outros setores. Competição é sempre bem vinda e pode aumentar acessos, melhorar qualidade e baixar preços.

A cultura da internet já se fixou por aqui, mas falta aproveitar melhor os potencialidades que se abrem, como o armazenamento de vídeos, interatividade na Comunicação, Web TV, transmissões ao vivo e on-demand. A Cisco, maior fabricante mundial de equipamentos de comunicação, lançou um roteador com capacidade para suportar 1 bilhão de videochamadas simultâneas. Para a companhia o vídeo é a próxima onda tecnológica mundial, pois terá grande presença na Web e em aplicações como teletrabalho, telemedicina e teleeducação.

Apesar dos progressos, comparativamente a países como Coréia, França e Espanha, estamos meio que na idade da pedra digital. Afinal, a internet ainda é inacessível a mais de 105 milhões de brasileiros, ou 65% da população acima dos 10 anos. Essas redes são as estradas do conhecimento e o acesso a elas têm que ser também um serviço público, um direito de todos e fazer parte dos preceitos da cidadania.


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