A construção de sentido no ambiente organizacional
Pensar sobre a construção de sentido no campo da comunicação no contexto organizacional requer elucidar o que vem sendo denominado por “construção de sentido” na Linguística e em sua vertente social e, também, explicitar como se dá a apropriação desse conceito pela comunicação organizacional, bem como as especificidades que a “construção de sentido” adquire ao operar neste campo específico do conhecimento.
Entender a “construção de sentido” é percebê-la como processos historicamente localizados e, portanto, condicionados por fatores sociais, políticos, econômicos, culturais e educacionais que estruturam as regras, os hábitos e os modos de proceder dos atores sociais que, por meio de práticas discursivas, entram em interação. Esses atores em interação buscam estabelecer trocas simbólicas por meio do diálogo, da negociação, da contestação e/ou da tomada de decisão, de modo a se posicionarem socialmente, conforme seus interesses, preferências, expectativas e intenções. É bom perceber que a “construção de sentido” é um conceito multirreferencial, ou seja, vários fatores condicionam seu entendimento e sua aplicação.
A “construção de sentido” passa, necessariamente, pelo entendimento das três instâncias constituintes de qualquer processo comunicativo: a produção, a circulação e a recepção. Qualquer que seja o ambiente da interação - seja ele presencial, audiovisual, escrito ou digital - a comunicação ocorre quando, simultaneamente, a instância produtora seleciona, edita e evidencia aquilo a que se quer dar visibilidade. Visibilidade essa que acontece na instância da circulação, onde ocorre uma disputa, por vezes estratégica, por espaços onde a recepção possa consumir e apropriar-se de informações e produtos simbólicos que circulam na esfera pública.
É válido lembrar que não há garantias de que o processo da recepção se dê nos moldes previstos pela instância produtora, sendo a circulação a instância onde ocorrem interações sociais em torno dos produtos midiáticos, sejam eles produtos propriamente ditos, imagens, serviços, discursos, pessoas públicas ou organizações. Como não há uma correspondência direta entre os produtos intencionalmente elaborados pela produção e as interpretações que esses produtos adquirem ao serem apropriados na recepção, o processo comunicativo possibilita oportunidades múltiplas de atribuir sentidos novos àquilo que fora inicialmente pré-definido.
Nas articulações entre instâncias e no desenrolar do próprio processo social da comunicação, há possibilidades múltiplas de inovação, tanto na produção, como na circulação e, principalmente, nos modos de interpretar os produtos midiáticos. Novos sentidos podem ser elaborados, novas interpretações acontecem conforme os contextos da interação, bem como conforme as preferências, expectativas e interesses dos receptores.
As organizações podem ser entendidas como agentes de práticas discursivas, que buscam significação de sentidos na recepção, ou seja, junto aos grupos que compõem o espectro do relacionamento organizacional. Esses grupos públicos também podem ser entendidos como agentes de práticas discursivas e responsáveis pelos sentidos atribuídos às ações comunicativas das organizações. Se, por um lado, a organização dita normas de condutas e comportamentos aos seus diversos públicos, por outro existe também um processo de (re)significação por parte deles, que vão construir os sentidos de acordo com seus repertórios sociais, econômicos, políticos, culturais e educacionais. Nessa perspectiva, é preciso entender como os sentidos são construídos e reconstruídos nas organizações e como lidar com as formas pelas quais eles podem ser aceitos, negociados e/ou contestados por parte dos grupos de relacionamentos.
Aplicar a “construção de sentido” nos estudos da comunicação organizacional é uma oportunidade para perceber que o processo comunicativo no contexto organizacional está além da perspectiva dos suportes e da intenção de transmitir informações e publicizar ações.
Carine Fonseca Caetano de Paula
Graduada em Relações Públicas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial pelo Instituto de Educação Continua da PUC Minas (2003).
* Ao receber o convite da Aberje para assumir mensalmente esta coluna no seu site, propus a ampliação de participação com os meus colegas do Grupo de Pesquisa “Comunicação no contexto organizacional: aspectos teóricos conceituais”, PUC-Minas/CNPq. O diálogo aberto permite a troca, as reflexões e o estabelecimento de um vínculo com o mundo profissional. Traremos mensalmente assuntos relacionados à comunicação no contexto organizacional e desejamos receber opiniões de nossos leitores.
Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje
e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 2337
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