Quando política e comunicação interna se (des) encontram!
Anice Bezri Pennini*
Em tempo de sociedade midiatizada, no qual os discursos e as tecnologias de comunicação são integrantes das tramas e processos de diferentes campos sociais, não nos surpreendemos com a imbricação entre política e organizações. Sabemos que uma organização que atua internamente, empreendendo ações de comunicação e relacionamento com seus empregados, também empreende interações com outras organizações, em dinâmicas comunicacionais, que buscam seu bom posicionamento no ecossistema político e econômico.
Todas essas relações, contudo, são passíveis de construção de sentidos, pelos diversos atores sociais. Embora a construção de sentidos tenha existido desde sempre, a teia de relacionamentos torna-se mais complexa em um contexto de midiatização, principalmente em países em que as redes sociais da internet tornam-se acessíveis a um número cada vez maior de sujeitos. A partir dessa ideia que apresentamos o texto que busca refletir sobre as interligações entre política e comunicação interna no contexto organizacional.
Temos visto no noticiário da mídia brasileira organizações públicas e privadas, sendo citadas em coberturas jornalísticas que apuram supostos envolvimentos de partidos políticos, candidatos e ocupantes de cargos públicos e executivos de empresas. Em um contexto de hibridização, as matérias divulgadas na mídia são disseminadas também nas redes sociais da internet, tornando-se mais ampla a repercussão junto à sociedade. Contudo, o caso específico da empresa JBS, responsável pela marca Friboi, chamou atenção recentemente, quando empregados e sindicalistas utilizaram as redes da internet como uma forma de denúncia e resistência.
A empresa se viu em uma situação inusitada, depois que uma paródia da propaganda “Carne tem nome - Friboi”, protagonizada pelo ator Tony Ramos, passou a ser veiculada em redes sociais – inicialmente no “whatsapp”, e depois em várias redes sociais da internet. Nesse vídeo**, uma senhora chega ao açougue, interessada em comprar a carne recomendada por “aquele ator famoso”, em referência a Tony Ramos. O vendedor pergunta se ela realmente gostaria de comprar o produto, pois a empresa responsável pela carne estaria renegociando o plano de saúde dos empregados, que passaria de R$ 45,00 por dependente para R$ 104,00. Na paródia, o açougueiro sugere que o valor que a empresa tem que arcar para o plano de saúde dos empregados é muito menor que o montante de doações que a mesma empresa fez para campanhas políticas de 2014, que seria de mais de R$ 350 milhões.
O vídeo é assinado pela Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (Contact), ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT). Por ter legenda em inglês, acredita-se que o vídeo visava atingir não só a opinião pública brasileira, mas também a estrangeira.
Diversos blogs independentes e sites da mídia tradicional divulgaram a ocorrência, após o intenso compartilhamento do vídeo nas redes sociais, dando a ver que o processo de visibilidade das conexões entre empresas e políticos foi expressivamente potencializado pelas redes sociais da internet que, nesse caso, chegaram a pautar algumas mídias de referência.
As narrativas contemporâneas que envolvem a comunicação no contexto organizacional cada vez mais produzirão e também serão produto das interações que se dão nas redes sociais da internet, o que demandará mais ponderação das organizações em suas ações de comunicação e em suas relações com os diversos segmentos. Segundo Esteves (2012, p.219), neste cenário de novas tecnologias da informação e da comunicação “cabe às organizações sociais de um modo geral reequacionar profundamente as questões de cidadania no âmbito do seu funcionamento – e, muito em especial, no quadro de suas práticas e de seus processos comunicacionais”.
Referência
ESTEVES, João Pissarra. Opinião pública e mídias sociais: deliberação nas novas redes de comunicação e interação. In: OLIVEIRA, Ivone de Lourdes e MARCHIORI, Marlene (Orgs.). Redes sociais, comunicação, organizações. São Caetano do Sul, SP: Difusão, 2012, p.219-244.
*Anice Bezri Pennini é jornalista, mestre em Comunicação Social pela PUC- Minas e membro do Grupo de Pesquisa “Comunicação no Contexto das Organizações: aspectos teórico-conceituais” – CNPq/PUC-Minas. Tem experiência nas áreas de pesquisa e comunicação organizacional e política. E-mail: anicepesquisa@gmail.com
**Para assistir ao vídeo pelo youtube, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=52jCZ3SoweQ
Ao receber o convite da Aberje para assumir mensalmente esta coluna no site, propus a participação do Grupo de Pesquisa, “Comunicação no contexto organizacional: aspectos teóricos conceituais”, PUC-Minas/CNPq. Publicamos mensalmente pequenos artigos sobre temas relacionados à comunicação organizacional. Esperamos opiniões de nossos leitores.
Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje
e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 2577
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