Libertando-se para comunicar-se (e vice-versa)
“Comunicação é ferramenta de libertação, de transformação. Ela desamarra preconceitos e pressupostos, fortalecendo as convicções e os pensamentos do grupo.” Essa declaração, que escutei em conversa com um gestor de comunicação de uma empresa carioca, encantou-me tanto que eu pedi que a repetisse. Se não entende o porque do meu encantamento, devo dizer que a frase traduz a minha crença nas conquistas que a comunicação pode trazer a pessoas, físicas e jurídicas.
Em visitas a empresas diferentes em seus segmentos, singulares em seus modelos de gestão e únicas na forma de conduzir o relacionamento que mantém com seus stakeholders, acabo sempre ajustando meu foco nas pessoas. É delas, em todos os níveis de hierarquia, que me vêm os sinais para entender um pouco daquele universo que, apesar dos padrões, sempre carrega peculiaridades que compõem a sua identidade. É desse entrelaçar de pessoas, em suas expressões e desejos conscientes e inconscientes, que se constituem as empresas. O sucesso dessa “alquimia” depende da qualidade do entrelace, cujo motor principal é a comunicação.
Muito simples, mas quando focalizo as pessoas – aquelas mesmas que formam as empresas - parece que há muito mais. Vejo insatisfações nos componentes dessa mistura que deveria resultar num amálgama, no mínimo, homogêneo. Acredito que a comunicação seja um dos caminhos mais eficazes para se lidar com a dissonância que impede uma sintonia mais afinada e, por isso, gostei da afirmação com que comecei o texto. Primeiro, pela consciência da existência dos pressupostos. Sim, porque ainda que muitos falem sobre o assunto, poucos conseguem reconhecer os próprios preconceitos, e um número menor ainda de pessoas consegue abster-se deles. Segundo, por enfatizar a importância da comunicação no processo de relacionamentos transformadores ou “alquimias” de sucesso.
Retorno às pessoas e à sua capacidade de comunicar, na tentativa de entender, então, porque há empresas com instrumentos de comunicação consolidados que não conseguem, de fato, interagir com seus empregados; enquanto outras, onde sequer há uma política documentada de comunicação, logram essa interação. Olhando para os players desse jogo, aposto que o sucesso dessa “alquimia” venha do compartilhar de significados, que incluem propósitos e valores. David Bohm¹ afirma que a sociedade, vista como rede de relacionamentos entre pessoas e instituições, só funcionará se conseguir formar uma cultura, o que implica necessariamente nesse compartilhar. Para que isso aconteça, Bohm preconiza o diálogo, que só acontece quando há “suspensão” de pressupostos.
É o significado comum que dará coesão à empresa, indicando a todos os seus stakeholders o caminho a seguir. Essa percepção também propiciará, quando necessário, maior boa vontade de todos os envolvidos na resolução de conflitos. E a comunicação clara, praticada por e para pessoas, é o caminho para essa construção. É simples, mas é preciso entendê-la como transformadora e libertadora para que ela tenha a possibilidade de alcançar o seu amplo papel.
Trata-se de uma conquista difícil, mas possível, a partir da prática contínua e incansável. Se, mesmo em nossos lares, não conseguimos colocar de lado estruturas mentais para entender cônjuges e filhos, o que não dizer nas empresas? Não bastam bons instrumentos, para que a comunicação promova transformações e a construção de relacionamentos saudáveis. Dentro e fora das empresas, é preciso exercitar essa capacidade de “suspender” pressupostos para encontrar o outro. As empresas que conseguem estabelecer processos de comunicação – formais ou informais – com abertura real para a expressão de todos, são aquelas onde percebo uma “química” a selar laços entre a organização e os colaboradores. E isso prescinde do ferramental, mas demanda olhar para o outro como olhamos para nós mesmos. Aliás, cito, novamente, Bohm: “O efeito que você exerce sobre as pessoas é o de um espelho e é o mesmo que elas têm sobre você.”
¹ BOHM, David. Diálogo – Comunicação e Redes de Convivência. São Paulo: Editora Palas Athena, 2005.
Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje
e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1967
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