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COLUNAS


Marcos Ernesto Rogatto
marcos@vistamultimidia.com.br

Jornalista e Mestre em Multimeios pela Unicamp. Trabalhou na TV Manchete, Revista Veja e TV Globo São Paulo. Foi diretor de Comunicação da Prefeitura de Campinas e colaborador da Gazeta Mercantil. Há 25 anos trabalha com vídeos e multimídias corporativas. Atualmente é Diretor da produtora Vista Multimídia e participa do Grupo de Estudos de Novas Narrativas/GENN.

Comunicação e Violência

              Publicado em 03/05/2013

No encontro do GENN-Grupo de Estudos de Novas Narrativas, que ocorreu na ECA-USP no mês de abril, o professor Jaime Ginzburg abordou aspectos do seu último livro “Literatura, Violência e Melancolia”. 

 
No caminho para a universidade, saindo pela Marginal Pinheiros para entrar na alça da ponte Butantã, estava na preferencial e fui vítima da imprudência de um motorista de táxi. A minha buzina enfureceu o taxista, que parou no meio do trânsito para esbravejar. Ele colocou em risco os passageiros ou a própria vida se eu também fosse da turma dos desvairados. 
 
Creio que esse fato me inspirou a indagar ao professor palestrante, se a sociedade brasileira estaria mais violenta por estar mais melancólica ou o contrário. Afinal a violência explode no Brasil. Como o caso emblemático, ocorrido no mesmo mês de abril, do jovem universitário carioca que brigou com o motorista de um coletivo por não parar no ponto. A agressão causou acidente fatal com o ônibus caindo do viaduto, matando oito pessoas e ferindo outras onze. 
 
Não é só a violência prisional que apavora os brasileiros. A do cotidiano também. Jovens privilegiados que podem cursar uma universidade praticam trotes selvagens nos calouros. É o comportamento inescrupuloso na fila do banco, o braço arrancado de um ciclista, o tiro no estudante que não entrega o celular ou a dentista queimada viva por só ter R$ 30 na conta. 
 
Algumas estatísticas mostram que em determinadas regiões houve queda de homicídios, mas os roubos e assaltos proliferam pelo País. Pagamos um dos seguros mais altos do mundo e boa parte do PIB vai para a população se defender. A cada dia, novas modalidades de roubos e assaltos como batidinha, saidinha, arrastão etc. E vamos nos acostumando com isso e cada vez mais nos escondendo em altos muros, cercas elétricas e em opacos vidros fumês. 
 
Em outubro de 2012, a Brasil Game Show mostrou o consolidado mercado consumidor de jogos eletrônicos no país. Foram 150 expositores e público estimado em 80 mil pessoas. Segundo estimativas, devemos ter 45 milhões de gamers.e, entre os Top 10 games mais vendidos, boa parte é de guerra ou de luta. O número, de certa forma, me consola, afinal que tem filho sabe como é difícil mantê-lo longe de um console nas sangrentas batalhas. Enquanto os pais assistem às tragédias da violência cotidiana nos telejornais da noite, os filhos se engalfinham com lutadores e soldados virtuais. 
 
Do lado da melancolia disparam as reclamações das pessoas em relação aos seus trabalhos, assim como as vendas de fármacos tricíclicos e de inibidores da dopamina ou da serotonina. Isso fora as fluoxetinas manipuladas que viraram commodities da tristeza. A depressão é uma estatística incômoda. Segundo a OMS, em 2030 será um enorme problema afetando mais pessoas que qualquer outra doença. Estima-se que hoje no Brasil sejam 40 milhões de pessoas com depressão. 
 
No meu entender, o projeto de sociedade brasileira desenvolvida não vingou e estamos vivendo mistura de violência com melancolia, numa sociedade apática e reclusa em que a possibilidade de consumo parece redimir a barbárie e o desalento. 
 
Quando o PT foi fundado, em 1980, falava-se que precisaríamos de duas décadas para tirar o atraso educacional e colocar o país dentro dos índices considerados humanos. Era o Brasil do meu sonho intenso, a minha torcida para que isso se tornasse realidade. 
 
Desde 1990, com Itamar Franco na Presidência, leio sobre as tentativas de diminuição da pobreza, da violência, da desigualdade, do desemprego etc. Em 23 anos tivemos dois governos de um sociólogo, dois de um operário e estamos no da economista e militante. A política pode estar cheia de boas intenções, mas os lentos resultados e os exemplos de contravenção de muitos políticos e magistrados deixam máculas nos três poderes. E essa é outra forma de violência, com o desmando, a corrupção e a impunidade ainda imperando no Brasil do século 21. 
 
Enquanto isso, entre 187 países, estamos em 85º lugar no ranking de bem-estar, educação e padrão de vida. O Brasil registrou melhora no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2012, segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU). Mas manteve a posição no ranking mundial registrada no ano anterior: 85º lugar. Continuamos com 102 nações à nossa frente apesar de sermos a sétima economia do mundo, com um PIB de US$ de 2,223 trilhões no ano passado. 
 
Mas o Governo comemora, pois desde o dia 31/03 mais nenhum cidadão brasileiro é miserável. Afinal, pelas estatísticas, quem ganha R$ 71,00 ao mês deixa a condição de extrema pobreza. Como dizem os otimistas: cadastro zerado e bola pra frente que a Copa vem aí. Mas, como viver com R$ 71,00? Na mesma semana a Vejinha mostrava que uma pizza chega a custar R$ 150,00 na capital paulista. Podemos até ter passado de pobres para remediados, mas estamos longe dos desenvolvidos. 
 
Tocantins, o mais novo estado brasileiro, se destaca pela pujança da agropecuária, com seus 8 milhões de bovinos. Na soja, a produção nesta safra deve chegar a 1 milhão e meio de toneladas. Mas é só olhar para as periferias para ver parte da população vivendo como no Século XIX, em suas casas de taipa e folhas de palmeiras. Mulheres com bócio tratam seus filhos desnutridos e lamparinas iluminam as moradias. Perto dali, colheitadeiras com ar condicionado e faróis xenon recolhem grãos que são exportados in natura, sem valor agregado para o país. 
 
Por outro lado vejo os departamentos de comunicação das empresas cumprindo pautas burocráticas para house organs que quase sempre trazem abordagens similares. Os feitos da empresa, as vantagens dos colegas, as metas atingidas, os aniversários da semana, os que completaram 10 anos de casa, 15 anos etc. 
 
Os profissionais da área podem ser voluntários e trazerem grandes mudanças em ONGs engajadas na paz e na felicidade geral. Produzirem vídeos, programas, redes sociais, jornais e blogs de entidades parceiras da mudança. Utilizarem a criatividade para fazerem seus memes, impulsionarem hashtags, criarem “virais” com causas sociais. 
 
Os próprios veículos internos das empresas poderiam trazer mensagens criativas de solidariedade e mobilização humanitária. O incentivo à literatura e à arte no entorno da fábrica não para reduzir impostos, mas para fazer a diferença. Afinal, como disse o professor Jaimena na palestra do GENN, a literatura pode nos mobilizar na perspectiva pacifista. 
 
Um benchmarking rápido encontra projetos como o AfroReggae (lema Trocar o fuzil pelo berimbau), Proler, os das ONGs Leia Brasil, Amigos do Livro, Cirandar, Fundação Educar, Casa do Zezinho e tantos outros honestos e exitosos. 

Otto Scharmer, pesquisador da Sloan School of Management - do Massachusetts Institute of Technology- e autor da Teoria do U defende uma sociedade 4.0. Ela seria uma transição de uma abordagem egossistêmica, baseada no “eu” para uma conscientização compartilhada, a ecossistêmica. Um sistema baseado na inclusão de mais atores sociais, autorreflexão e transparência. Segundo o pesquisador, agentes da mudança devem fazer a conexão entre o mundo que está morrendo e o que deve nascer, reinventando a economia, a educação e a democracia. 
 
Para fazer o país do “berço esplêndido” ser mais que uma promessa é preciso menos apatia e mais ação. Os profissionais como agentes e a Comunicação como estratégia podem ser uma força incrível nesse processo de mudança. 

 


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