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COLUNAS


Marcos Ernesto Rogatto
marcos@vistamultimidia.com.br

Jornalista e Mestre em Multimeios pela Unicamp. Trabalhou na TV Manchete, Revista Veja e TV Globo São Paulo. Foi diretor de Comunicação da Prefeitura de Campinas e colaborador da Gazeta Mercantil. Há 25 anos trabalha com vídeos e multimídias corporativas. Atualmente é Diretor da produtora Vista Multimídia e participa do Grupo de Estudos de Novas Narrativas/GENN.

A Comunicação nas Eleições Brasileiras

              Publicado em 26/08/2014

O horário eleitoral de rádio e TV começou no dia 19/08 e se estenderá por 45 dias. Os três principais candidatos, a receber a faixa presidencial, somarão quase 200 horas de exposição. Nesse importante palanque eletrônico, Dilma Rousseff aparecerá por 123 minutos, seguida por Aécio Neves, com 50 minutos, e Marina Silva, com 22 minutos.

Veremos candidatos beijarem crianças que a cada dia terão menores chances de chegarem à fase adulta. Afinal, a estatística mostra que hoje somos o 12º colocado no triste ranking dos países em que mais se morre violentamente, perdendo apenas para algumas nações que estão em guerra. Já no Índice de Desenvolvimento Humano, o Brasil está em 79º lugar entre 187 países pesquisados pelas Nações Unidas. Os candidatos também abraçarão idosos que são obrigados a zerar a aposentadoria para pagar inflacionados planos de saúde privados, que já foram bem melhores. Outra cena típica serão as visitas às escolas públicas, em que alunos se formam sem saber escrever nem fazer operações matemáticas corretamente.

Campinas, considerada o Vale do Silício brasileiro, ainda tem 25% dos eleitores sem ensino fundamental. Dos 807,5 mil votantes, 200 mil apresentam baixa escolaridade e outros 42,8 mil só sabem ler ou escrever. Apenas 8,9% tem ensino superior, ou seja, pouco mais de 71 mil eleitores do município.

Pesquisa da PUC-Rio mostra que o Brasil avançou menos que os países emergentes. O mercado de trabalho melhorou, mas a renda per capta, produtividade, escolaridade e segurança caíram de 2003 até agora. O Indicador de Clima Econômico Brasileiro - segundo sondagem da FGV e do Instituto Ifo Rio - atingiu em julho o menor nível desde janeiro de 1991. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico alerta para a produtividade estagnada no País na última década, o que é um grave problema para o crescimento sustentável do Brasil.

As previsões do PIB foram até motivo de brincadeira do sisudo jornal britânico Financial Times. Ele comparou o PIB brasileiro à “dança da cordinha” na qual a corda sempre desce para dificultar que a pessoa passe por baixo.

Mesmo com tantos indicadores ruins, não faltam candidatos querendo entrar no páreo eleitoral. A cada ano aumenta o número de interessados a nos representar em um dos Poderes. Nessas eleições, os 32 partidos registrados lançarão 13,4 candidatos a deputado federal por vaga, o dobro de 1990. Será a eleição mais disputada. É gente querendo ajudar o Brasil que não acaba mais.

Outra coisa que sempre aumenta são os custos das campanhas. O limite de gastos na disputa presidencial subiu 380% de 1994 até agora. Há duas décadas, na primeira campanha em que empresas puderam fazer doações, os candidatos gastaram R$ 190 milhões, em valores atualizados. A previsão de despesas para essas eleições é de R$ 916 milhões. Ainda hoje, infelizmente, as maiores doações vêm de companhias que participam das licitações e que prestam serviços aos governos.

Na disputa pelo governo de São Paulo, Paulo Skaf, do PMDB, escolheu Duda Mendonça para seu marketing eleitoral. Já Alexandre Padilha, do PT, vai de João Santana (que já fez e fará novamente a campanha de Dilma Rousseff para a reeleição). São os dois grandes marqueteiros, de custos proporcionais à genialidade. De maneira geral, o pessoal do Jornalismo e do Marketing, que se especializou em campanhas políticas, faz fortuna nesses períodos.

O STF aprecia ação da OAB para vetar doação eleitoral de empresas. Mas a decisão só iria valer para a próxima eleição. Enquanto isso, várias empresas, incluindo as citadas na Operação Lava Jato, já doaram fortunas para os candidatos. Só as envolvidas na investigação da Polícia Federal deram contribuições de mais de R$ 24 milhões, antes mesmo do início do Horário Eleitoral. Ao mesmo tempo, a Lei Anticorrupção completou um ano neste mês de agosto, mas ainda aguarda regulamentação do Palácio do Planalto.

Muitas companhias fazem aportes eleitorais volumosos e mantém projetos sociais exitosos ou fundações que fazem diferença. Algumas vão fazer doações a candidatos que, se eleitos ou reeleitos, trarão danos sociais cujo estrago pode ser maior do que a ação exemplar executada pela empresa. E assim caminhamos a passos lentos nos progressos sociais, em um embate entre Deus e o diabo na terra de ninguém.

Hoje o consumidor tem a percepção de que é preciso jogar limpo em todas as frentes, e eles também estarão de olho nessas doações políticas. Com os vários indicadores decaindo, as insatisfações manifestadas pela população e o poder das redes sociais ficará cada vez mais difícil para essas empresas continuarem mantendo a boa imagem. Os ativos intangíveis, conquistados através de longo trabalho, podem se tornar algo como passivos exigíveis. Crises que podem afetar reputação e gerar mácula na missão da empresa.

Comunicadores precisam participar desses processos relacionados às campanhas eleitorais. Devem opinar, sugerir e, principalmente, evitar nomes dentro dos parâmetros ditados pela cidadania, transparência, ficha limpa etc. Em caso de desacertos, o Departamento de Comunicação - participante na construção dos ativos intangíveis - poderá enfrentar crises e ter que mitigar seus efeitos nocivos. Afinal, ele, como guardião da imagem que contribuiu para construir, deve aconselhar gestores a dar fim na velha estratégia do “morde e assopra”. Aí ajudará a zerar a dicotomia desta política de boa vizinhança e clientelismo tão comum desde o Brasil Colônia. 


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