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COLUNAS


Marcos Ernesto Rogatto
marcos@vistamultimidia.com.br

Jornalista e Mestre em Multimeios pela Unicamp. Trabalhou na TV Manchete, Revista Veja e TV Globo São Paulo. Foi diretor de Comunicação da Prefeitura de Campinas e colaborador da Gazeta Mercantil. Há 25 anos trabalha com vídeos e multimídias corporativas. Atualmente é Diretor da produtora Vista Multimídia e participa do Grupo de Estudos de Novas Narrativas/GENN.

E Teve Copa

              Publicado em 14/07/2014

E não é que, contra a previsão de muita gente, tivemos a Copa do Mundo no Brasil. Apesar do histórico 7X1, o pessimismo passou, o Mundial bateu os recordes anteriores e a renda da FIFA ultrapassou US$ 4 bilhões. Infelizmente, os estádios também bateram recordes com custos - mais de R$ 8,5 bilhões - o triplo do que a CBF indicou em 2007. O comércio e os vizinhos dos estádios sofrem com as rígidas restrições da FIFA (raio de 2 km em torno deles é território FIFA).

Por outro lado, o País fez um belo exercício de Relações Públicas. A Copa foi elogiada por torcedores, jogadores, turistas e jornalistas internacionais. Teve o mais alto saldo de gols, ótimo nível técnico, boa segurança nos entornos, vitórias e viradas espetaculares.

Algumas surpresas angustiaram torcidas e deram muito trabalho para as assessorias de imprensa. Todos se lembram do lance em que o algoz Zúniga nocauteou Neymar, os vacilos dos juízes que parece terem engolido os apitos, a famosa mordida de Suárez, que realmente marcou o zagueiro italiano Chiellini e o adeus precoce de campeões como os favoritos Espanha, Inglaterra, Itália e Uruguai. E, claro, no penúltimo jogo do Brasil. Também a se lamentar o fato do diretor de comunicação da CBF, Rodrigo Paiva, ter agredido o atacante chileno Mauricio Pinilla em intervalo do jogo entre Brasil e Chile. O profissional foi proibido de comparecer a três partidas e multado em US$ 11.200 pela FIFA.

Apesar dos pesares, o País fez bonito. Há três meses o jornal inglês The Times colocou na capa o título Caos no Brasil, faz a FIFA alertar para a pior Copa do Mundo. Nas quartas de final, outro inglês, o Financial Times, publicou o texto Por que o Brasil já ganhou, tecendo elogios ao País e ao povo brasileiro, que são "elemento de que qualquer futura Copa não deveria prescindir”. Segundo o artigo, a Copa do Mundo do Brasil é a melhor dos últimos tempos. E os brasileiros tem parcela significativa de crédito pelo sucesso do Mundial. A atual edição do evento teria se notabilizado, inclusive, como “uma Copa do Mundo onde não há medo”.

Do lado business, a competição deve gerar um impacto de aproximadamente R$ 30 bilhões à economia, de acordo com estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, encomendada pelo Ministério do Turismo.

Gol de placa da Polícia brasileira que desbaratou o esquema milionário da quadrilha que fornecia ilegalmente ingressos e que mantinha relações próximas com a FIFA. Federação que já havia sido questionada pelas vastas exigências e parcos serviços mostrados. Nos estádios sobrou alegria, mas faltou comida e segurança, itens do planejamento FIFA. Mesmo antes das partidas, em 107 anos de história, a entidade jamais havia enfrentado uma situação tão embaraçosa, com denúncias de corrupção atingindo boa parte da cúpula da entidade.

 

Da abertura ao apito final

Outro fiasco foi a abertura do Mundial. O italiano Franco Dragone, diretor da criticada exibição - queridinho do poderoso Joseph Blater, presidente da FIFA -, escolheu a coreógrafa belga Daphné Cornez para a malfadada empreitada. Nada contra a globalização, mas foi triste ver essa abertura pobre, tristonha e sem criatividade em pleno País do Carnaval. Afinal, estamos acostumados a dar maravilhosos shows nas avenidas. Temos muitos “Joãozinhos Trinta” da vida que poderiam fazer bem melhor.

Balanço ruim para a FIFA, mas bom para o Brasil. Se não foi em termos futebolísticos, foi bom para a imagem que deixou. O tal legado foi legal. Faltou superação e controle emocional, mas sobrou simpatia. Característica do povo dessa Nação que pôde partilhar, por alguns dias, o patrimônio cultural e o potencial turístico, de forma harmoniosa, mesmo vivenciando o abismo que há entre as nossas classes sociais.

Extracampo, tivemos a consciência da população sobre os gastos excessivos e o desejo coletivo de que tenhamos serviços públicos mais próximos do padrão FIFA. Não só por questão de dignidade, mas para justificar um pouco dos mais de 1/3 do PIB que os nossos governos arrecadam com impostos no Brasil.

Bola nas redes sociais também. Essa foi a Copa delas, com posts, fotos e vídeos publicados incansavelmente. Foi uma média de 8 mil fotos, por minuto de jogo, enviadas pelos torcedores. O Facebook divulgou que viveu o maior evento de sua história. Entre curtidas e comentários, a rede social ultrapassou 1 bilhão de interações antes das quartas de final.

O lado RP mostrou imagem positiva do País lá fora. E dentro dos estádios também. De cada sete ingressos comercializados, um era de hospitality, de caráter corporativo, utilizado como ferramenta de relacionamento com clientes e parceiros de negócios.

Cerca de 200 empresas investiram em ingressos ou espaços de hospitality. Alguns em privilegiados camarotes com direito a mordomias. A Apex comprou cota de patrocínio como forma de atração de negócios com essas áreas em cinco estádios, trazendo 2,3 mil convidados internacionais ou, como diz a agência, “compradores internacionais” com negócios estabelecidos junto a empresas brasileiras.

Pena que o “País do Futebol” não foi para a final. Mas, o que vem ao caso agora é que o tal legado da Copa não pode ser apenas material ou de imaginário coletivo. Os estádios – apesar de que a palavra da moda é arena - têm que ser muito bem aproveitados, assim como os bons momentos de cidadania que ficaram nas memórias do mundo. Foi bom ver estrangeiros elogiando o País e a imprensa internacional dando a cara pra bater pelo derrotismo inicial.

A capacidade de planejamento do Brasil é mesmo complicada. Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Roberto DaMatta, Darci Ribeiro, entre outros intelectuais, ajudaram a interpretar os “brasis” presentes no Brasil. Mas, é sempre tarefa difícil.

Somos sentimentais, não gostamos que cortem nosso Hino Nacional antes da metade, cantamos à capela, choramos e chegamos a perder o controle emocional. Mas, como diz a música cantada por Ney Matogrosso, “a gente é torto igual Garrincha e Aleijadinho; ninguém precisa consertar; Se não der certo a gente se vira sozinho; decerto então nunca vai dar”. 


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