Foi difícil não se sensibilizar com a dramaticidade do noticiário nessa virada de ano. Dezenas de vidas e uns tantos séculos de história que se perderam como decorrência de um fenômeno natural aparentemente tão simples quanto uma forte tempestade.
As lágrimas dos que perderam entes queridos em Angra dos Reis nos dão o nó na garganta, enquanto a imagem da derrocada da torre da igreja matriz de São Luiz do Paraitinga, do século XVII, nos faz refletir sobre a responsabilidade que temos pelo patrimônio da história – e da vida.
Esses quadros são apenas os mais frescos, recém-retocados, da galeria de imagens que se apresentou com as retrospectivas do ano e da década – tsunami, Santa Catarina, Katrina... o “fiasco” de Copenhagen.
Mas das imagens e profecias catastróficas, das acusações à humanidade pela velocidade do aquecimento global, dois fatores muito positivos se apresentam para o ano que começa: a discussão e a esperança. E a passagem de 2009 para 2010 demonstrou que o Brasil tem muito a contribuir para isso.
Alguns fatos: em dezembro a presença brasileira foi das maiores na Cop-15, com representantes do governo, de ONGs e de empresas e instituições de vários setores da iniciativa privada – agronegócios, minas e energia, indústria em geral, construção civil; o presidente Lula se diferenciou dos demais líderes presentes no evento, com discurso – ainda que improvisado – comovente e contundente sobre mudanças climáticas; o governo fechou o ano sancionando a lei que institui a Política Nacional de Mudanças Climáticas no país, mantendo a meta de redução das emissões de gases de feito estufa no país entre 36,1% e 38,9% até 2020.
Em seguida os reflexos: aumentam os espaços na imprensa escrita e na mídia em geral para assuntos como seqüestro de CO2, matriz energética, consumo consciente, educação ambiental. Em outras palavras, o cuidado com o planeta vira realmente pauta nacional.
E o que nós, profissionais de comunicação, temos a ver com isso? Tudo. Pois – não querendo ser repetitiva em relação à coluna de novembro, mas já sendo, pois acho importante – , está evidente que a comunicação é grande propulsora da ação no domínio da sustentabilidade.
Estando a serviço da iniciativa privada ou do setor público, os profissionais da área, detentores e propagadores da informação, têm a imensa oportunidade de levar à frente a consciência sobre as possibilidades do desenvolvimento sustentável, com auxílio dos cientistas, engenheiros, ambientalistas e demais profissionais dedicados ao assunto – e cada vez mais as empresas e os governos precisarão deles.
E, na perspectiva de que o Brasil deverá estar entre as cinco maiores potências econômicas mundiais, em meados do século, não se pode deixar o bonde passar, sob o risco de falhar por omissão ou simplesmente por não se ter encontrado os melhores caminhos para um progresso econômico que sirva de fato às próximas gerações – e sem dúvida elas vão cobrar, visto que já há muito filho por aí ensinando pai a reciclar lixo ou a comprar carro flex.
Que pesem os interesses econômicos ou simplesmente os do bem-estar dos mais jovens no futuro, o importante é que encontremos com nossos clientes a melhor maneira de contribuir para essa que parece ser a grande revolução do século XXI: pensar e agir no mundo de uma forma holística, em que desenvolvimento econômico e riqueza harmonizem com preservação do meio ambiente e bem-estar humano. Forma única de aumentar e compartilhar o conhecimento necessário para evitar tragédias como as desse início do ano. Pois a natureza sempre terá sua fúria. Caberá a nós a melhor maneira de atuar no mundo sem despertar a fera que ali vive.