Carta de um comunicador ao Papai Noel
Lembra da primeira cartinha que você escreveu ao Papai Noel? O que você pediu? Uma bicicleta, uma boneca ou uma Ferrari? Por mais megalomaníacos que fossem os seus sonhos, naquela época você não pensaria na possibilidade de incluir em sua lista uma ilha deserta no Caribe ou uma cobertura em Manhattan. Então você pedia mesmo somente a bola, o carrinho e o forninho. E seria a criança mais feliz do mundo se ganhasse o que pediu.
E hoje? Se fosse escrever uma carta ao bom velhinho o que pediria de presente? Seria a hora de pedir o carrão dos sonhos, a mansão desejada? Que tal algo mais altruísta como a paz mundial, o fim da fome, a cura de doenças graves? Quer aproximar essa lente um pouco mais da nossa realidade, do nosso dia a dia?
Segue uma cartinha típica de um profissional da comunicação ao Papai Noel.
Querido Papai Noel
Em primeiro lugar, gostaria de me desculpar pelos longos anos em que fiquei sem escrever ou dar notícias. A vida passa. A gente cresce. Faz faculdade. Ganha emprego. Família. Responsabilidades de verdade. E acaba perdendo contato com os amigos.
Quero te contar que hoje trabalho com comunicação e, por isso, não poderia deixar de cumprir com meu papel justamente com você. Decidi escrever.
Não quero te pedir muita coisa. Algumas talvez pareçam impossíveis. Sonhos. Grandes ilusões. Que mal pode haver em dividi-los com alguém, não é?
Vou começar pela Língua Portuguesa. Gostaria muito que os brasileiros parassem de assassinar a nossa língua. Como bom comunicador, tive um comportamento impecável este ano. Escrevi, li e revisei diversas vezes os meus textos para que nenhum acento, hífen ou pontuação passasse em branco. Mesmo assim continuo vendo, dia após dia, gente importante, influente e inteligente cometendo as maiores atrocidades com a Língua Portuguesa e, pior, corrigindo os meus textos como quem diz ‘assim fica bem mais claro’. Até colegas da área, como jornalistas, publicitários e relações públicas. Pior ainda, tem professor de Língua Portuguesa que não sabe o que faz.
Meu primeiro pedido: quero que as pessoas respeitem nossa língua, suas regras e a tratem com carinho.
Quero pedir também que as pessoas parem de achar que sabem ‘fazer comunicação’. Ninguém ‘faz comunicação’. Além de ser mais um tropeço na Língua Portuguesa, não existe uma fábrica que produz comunicação em série, com matéria-prima, estoque, máquinas e sistema de logística e distribuição. Comunicação não é shampoo! Comunicação é uma ciência. É preciso estudo, treino e experiência para exercer. Apesar disso, ainda vejo cada vez mais gente assumindo posições em comunicação sem o menor preparo. Tem advogado ‘fazendo comunicação’. Tem engenheiro ‘fazendo comunicação’. Tem até médico ‘fazendo comunicação’. Nada contra esses profissionais, desde que tenham estudado e estejam sufucientemente preparados para exercer a arte da comunicação. Se eu disputar uma vaga de neurocirurgião em um hospital e disser que já assisti a alguns filmes e me sinto preparadíssimo para o cargo eles me aceitam? Posso entrar para a OAB sem ter feito curso de Direito?
Meu segundo pedido: quero que a comunicação seja mais valorizada. Seja reconhecida como disciplina que exige o mesmo nível de preparação e dedicação que todas as outras.
Para não deixar a lista muito longa, gostaria de pedir de uma só vez que todas as áreas da empresa colaborem com a comunicação. Quero que a liderança valorize minha atividade e não me consulte apenas quando as situações já fugiram de controle. Quero que a área de Recursos Humanos entenda que a comunicação não se presta somente a publicar comunicados, mas que nossa atividade é fundamental na manutenção de um bom clima organizacional. Desejo ser informado antecipadamente sobre os planos e estratégias das demais áreas, assim tenho condições de atender mais prontamente suas necessidades. Na verdade gostaria de fazer parte desses planos desde o princípio, mas entendo que não se pode ter tudo nessa vida, não é mesmo? Quero que os funcionários enxerguem a minha área e as ferramentas que desenvolvo como canais confiáveis de comunicação entre eles e a liderança. Quero também ter fornecedores de qualidade, que sejam ágeis ao atender minhas solicitações, que não me ofereçam soluções caras e que não resolvem meus problemas. Verba! Quase me esqueço dessa parte tão importante. Gostaria de ver uma distribuição mais equilibrada de verbas entre as áreas. Não preciso de muito. Apenas o suficiente para desenvolver meus projetos de forma mais profissional.
Meu terceiro pedido, portanto: desejo que a área de comunicação seja tão importante quanto todas as outras dentro de uma organização.
Viu só, caro Noel. Até que não estou pedindo muito. Entretanto, se você tiver dificuldades em encontrar algum desses itens, pode subtitui-lo por uma Ferrari, um iate ou um castelo na França!
Até logo!
Se você não acredita em Papai Noel, sinta-se à vontade para transformar essa carta em uma lista desejos ou até mesmo de atitudes que você queira exercitar no dia a dia. No final das contas, como eu, você vai chegar à conclusão de que tudo isso só depende de nós mesmos.
Nunca é demais escrever para lembrar. Não é mesmo?
Um ótimo Natal e um excelente 2010!
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