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COLUNAS


Luciana Panzuto
luciana.panzuto@hp.com

Gerente de Marca HP para a região Américas. Atualmente responsável pela Estratégia da Marca, já gerenciou as áreas de Estratégia Digital, Comunicação Interna e Relações Públicas da HP no Brasil. Luciana é graduada em Propaganda & Marketing pela ESPM em SP, e pós-graduada em Comunicação Empresarial pela Faculdade Cásper Líbero.

Vestir a camisa! Mito?

              Publicado em 16/11/2009

Em meus contatos pessoais, tenho observado um número crescente de profissionais insatisfeitos com as empresas em que trabalham. Insatisfeitos com o retorno em itens como remuneração e benefícios. Insatisfeitos com seus gestores. Insatisfeitos com o volume de trabalho. Insatisfeitos com a cultura da empresa. Isso me fez lembrar de uma expressão, ou melhor uma busca recorrente da área de comunicação: o funcionário que veste a camisa!

Minha mãe trabalhou por 35 anos na mesma empresa. Nunca perguntei a ela se o motivo da permanência por tão longo período era a paixão que ela tinha pela empresa. Creio que a resposta mais conveniente seria a necessidade de estabilidade. Afinal de contas ela tinha uma família e, assim como meu pai, precisava de um emprego estável que garantisse a educação das filhas.

O fato de permanecer por tão longo tempo não significa necessariamente que ela tinha paixão pela empresa, por seus empregadores ou pelo fruto de seu trabalho. Analisando então os profissionais de hoje, que trocam de empresa como trocam de carro, qual seria o motivo real da permanência? O que os prende a uma companhia? Se no passado já não era a fidelidade e o amor à camisa, o que seria hoje? Será que o funcionário fiel não passa de um mito? O pote de ouro no fim do arco-íris dos comunicadores e gestores de RH?

Trago esse tema para os profissionais de comunicação pois muito do que fazemos em nossa rotina é desenvolver textos, campanhas e ações para informar, inspirar, comprometer e engajar funcionários na busca por resultados cada vez melhores. Sim! Queremos funcionários fiéis. Queremos que tenham paixão por nossa empresa. Queremos que tomem atitudes em nome da camisa. Fica a pergunta: é possível?

Vamos analisar dois cenários.

Na pintura ideal o funcionário perfeito tem:
·    Salário acima da média de mercado;
·    Bom pacote de benefícios;
·    Chefia competente e sensível;
·    Colegas sinceros, honestos e comprometidos com o bem estar geral;
·    Volume de trabalho tolerável;
·    Oportunidades de aprendizado e crescimento;
·    Comunicação aberta e participativa com a empresa;

No cenário real, esse mesmo funcionário tem:
·    Salário, na melhor das hipóteses, satisfatório;
·    Pacote de benefícios cada vez mais básico;
·    Chefia de competência questionável;
·    Colegas insatisfeitos e egoístas;
·    Trabalho dobrado, triplicado;
·    Tarefas mecânicas e pouco desafiadoras;
·    Baixas perspectivas de crescimento;
·    Comunicação aberta e participativa com a empresa;

Um momento. Isso não foi um erro de digitação. Você acabou de ler novamente o item Comunicação aberta e participativa com a empresa. O que quero mostrar com esses extremos é que – não importa o cenário, a empresa ou os fatores que afetam o clima de uma organização – a área de comunicação será sempre cobrada e infelizmente responsabilizada pelo nível de fidelidade e satisfação dos funcionários.

Entretanto, se avaliarmos esses mesmos cenários, o que vemos é que, além de inúmeros outros fatores que não listei, diferentes variáveis têm peso no nível de satisfação de um funcionário com sua empresa e com o trabalho que realiza. E não importa o esforço feito pela comunicação quando um ou mais fatores não vão bem.

O que ocorre é que a disciplina de comunicação ainda não é vista como peça estratégica na gestão das empresas. Somos o departamento que resolve os problemas criados por outras áreas. Enquanto nossas habilidades e técnicas não forem parte do processo decisório, continuaremos alimentando a ilusão do ganha-ganha na relação empresa e empregado.  Continuaremos redigindo comunicados e desenvolvendo campanhas de motivação enquanto o funcionário trabalha por mais de dez horas ou não gosta do tempero do refeitório.

Caro leitor, se sua conclusão é que de fato não é possível conquistar olhos, mentes e corações de nossos funcionários, digo que você está certo. Afinal de contas ele é um ser humano, como eu, como você! Um eterno insatisfeito.

Entretanto, é nessa insatisfação que reside a beleza da nossa missão como comunicadores nas empresas. Não estou me referindo à atividade mecânica de redigir comunicados. E sim à nossa capacidade e sensibilidade de enxergar e entender as inquietudes dos nossos colegas e usar a comunicação para levá-las à liderança da empresa assumindo um papel ativo na indicação da raiz dos problemas e na recomendação de como solucioná-los. A área de comunicação não é somente porta-voz da empresa e sim o canal mais aberto e sensível a todas as variáveis que afetam o clima e o nível de satisfação dos funcionários.

O funcionário precisa de modelo, cor e tamanho de camisa que se ajuste às suas necessidades e expectativas para finalmente vesti-la. O que me faz pensar que precisamos ajustar nossa mira e não buscar o funcionário perfeito e sim a camisa perfeita. Um mito também? Vou me lembrar de discutir em outro artigo.


Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor. 2797

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