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Rozália Del Gáudio
rozalia.delgaudio@uol.com.br

Doutora em Ciências Sociais pela Universidade de Paris I, Panthéon Sorbonne (2004), onde também obteve o Master em Sociologia e Antropologia (2001);  mestre em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG (2000), graduada em Comunicação Social, opção Jornalismo, também pela UFMG (1993). Certificada em Gestão da Reputação pelo Reputation Institute (2012). Atua em Comunicação Empresarial desde 1993, tendo trabalhado em empresas como Alcan (atual Novelis), Acesita (atual Aperam), Vale e Grupo Votorantim. Atualmente é gerente de Comunicação Corporativa da C&A no Brasil e professora no MBA de Gestão da Comunicação da ABERJE/ESEG. 

A sustentável leveza dos desejos e a gestão de marcas

              Publicado em 06/11/2009

Já faz um tempo que a questão da sustentabilidade me inquieta. Há alguns anos, durante meu doutorado no Instituto de Estudos sobre o Desenvolvimento Econômico e Social da Sorbonne, na França, acabei me dedicando a estudar o mercado da reciclagem e a institucionalização das atividades a ela ligadas no Brasil. Vi, ouvi e presenciei a importância da reutilização dos resíduos para gerar emprego e renda para catadores e cooperativas, ressignificando vidas, trabalho e esferas de sociabilidade; constatei como a atividade era potencial fonte para menores custos de produção na indústria; e como, a partir do apoio político e da mídia, configurava-se como solução socioambiental e econômica legitimada, seja nas experiências vistas no Brasil, no Egito ou mesmo na Bélgica.

Fim do doutorado, retorno ao país e à carreira que tinha escolhido antes mesmo de sair da faculdade: a de comunicadora empresarial.  As minhas inquietações não pararam. Pelo contrário, ao planejar ações e iniciativas para apoiar as estratégias de negócio das empresas por onde passava, ficava mais e mais patente a importância de buscarmos a sustentabilidade nas organizações, nos processos e na nossa vida.  E de fazer uma comunicação sustentável: verdadeira, próxima, legítima, autêntica e consistente. Desde então tenho refletido, escrito e posto em prática algumas idéias. Por isso, nesta minha primeira coluna aqui na Aberje, não poderia falar de outro tema.

Dados do Instituto Akatu¹ indicam que a humanidade consome atualmente 30% a mais de recursos naturais que a capacidade de renovação da Terra. Já a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO²) alerta que, ao final de 2009, o número de vítimas da fome poderá ultrapassar a marca de 1 bilhão de pessoas.  Essas duas informações mostram, independentemente de “guerras estatísticas”, um dos paradoxos mais constrangedores do nosso mundo: a coexistência de padrões de consumo acima das necessidades com ausências assustadoras de itens básicos para a vida, como alimento.

Neste (s) mundo (s), há quem defenda que o avanço da globalização e de um modo de vida ancorado na produção e no consumo é a única saída viável para eliminar a vergonhosa fome de muitos. Outros denunciam que o consumismo num padrão inspirado no modo de vida ocidental poderá extinguir as condições da nossa vida neste planeta.

O fato é que assistimos nas últimas décadas a uma revolução tecnológica e logística que possibilitou ampliar a produtividade das empresas assim como multiplicou a gama de bens e serviços. Se vamos a um supermercado para comprar um xampu, por exemplo, temos à nossa disposição várias marcas, origens, preços e finalidades para um produto que, anteriormente, servia apenas para deixar os cabelos limpos. Hoje podemos lavar e hidratar, usar um produto com ou sem sal, com embalagem econômica ou de um design premiado, feito com ingredientes tradicionais ou industrializados.

Neste mundo multi-tudo, a construção e o gerenciamento de marcas tornaram-se efetivamente fator de competitividade, já que facilitam a identificação de produtos, serviços e negócios, ao mesmo tempo em que os diferenciam dos concorrentes, assegurando que uma empresa ou produto ganhe a disputa pela preferência do consumidor. Isso porque nos relacionamos e tendemos a gostar de quem e do que conhecemos.

Assim, a gestão de marca traz para o primeiro plano da cena comunicacional a importância do diálogo e a interação. Diálogo e interação só acontecem quando se tem respeito pelo outro e pela vida, e este é um dos princípios de uma ação sustentável. Não basta mais apenas a empresa entregar bens e serviços dentro de um padrão esperado de qualidade e destacar estas qualidades numa abordagem mercadológica pura, sem se preocupar com os efeitos do produto/serviço ou mesmo do seu ciclo produtivo.

É necessário o estabelecimento e a manutenção de canais abertos com os consumidores, potenciais consumidores e até mesmo não-consumidores, para que a marca ganhe vida, voz e se ressignifique não apenas no plano material, mas, sobretudo, imaterial.  Afinal, o bem ou serviço, uma vez adquirido, já trará em si os genes da obsolescência do movimento próprio da sociedade do consumo, e as marcas devem ser fortes o suficiente na mente e nas preferências das pessoas para sobreviverem à insaciabilidade dos indivíduos ou às contingências do cenário.

Se o nosso mundo é um mundo mediado por organizações, devemos lembrar que elas são feitas – e dirigidas - por pessoas.  Assim, tanto na construção de organizações mais humanas quanto de um mundo menos desigual e mais sustentável, cada um de nós pode ter sua parcela de protagonismo. E, principalmente, se temos o privilégio de trabalhar a comunicação das organizações com seus diferentes públicos, podemos nos tornar agentes propulsores de mudanças necessárias para nós, para as pessoas a nossa volta e, por que não, para o mundo? 

 


 ¹ Organização não-governamental brasileira criada em 2001 e  que milita pelo consumo consciente (www.akatu.org.br)
 ² www.fao.org


Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor. 4853

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