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COLUNAS


José Eustáquio Oliveira de Souza


Presidente da Editora VEGA Ltda. e membro do conselho da Aberje. Atuou em cargos de destaque na área de comunicação de grandes multinacionais, como o Grupo Gerdau.

Melhor a verdade. Ainda que doída.

              Publicado em 03/11/2009

Todos os dias a violência cada vez mais radical da guerra entre a polícia do Rio de Janeiro e os traficantes de drogas, e desta dupla contra a sociedade civil carioca, tem aumentado substancialmente ao número de vítimas entre a população carioca, sem escolher classe social, raça, gênero, idade, ideologia política ou credo. Porém, no episódio em que uma equipe de policiais militares comandada pelo capitão Bizarro, da Polícia Militar do Rio de Janeiro, prendeu, assaltou e soltou os assassinos do coordenador do núcleo de Parada de Lucas do AfroReggae, Evandro João Silva, além da ética e da quase inexistente credibilidade dos Poderes Públicos daquele estado, outra instituição cara à democracia foi novamente ferida de morte: a comunicação social.

O leitor tem alguma dúvida quanto à tese levantada acima? Às provas, pois. No dia seguinte ao vergonhoso episódio, o governador do Rio de Janeiro puniu severamente com exoneração do cargo, o Relações Públicas da PMRJ, major Odilei dos Santos, por não ter se comportado como porta-voz da instituição e sim como advogado de defesa dos criminosos fardados. O que fez o major RP, ao atender a imprensa? Saiu-se com a versão de que a equipe do capitão Bizarro teria simplesmente cometido desvio de conduta e não uma série de crimes como roubo, prevaricação, omissão de socorro e otras cositas más (com duplo sentido, por favor!).

A questão é a seguinte: o porta-voz é a voz do dono da voz ou é, como ensina o Aurélio, a pessoa que fala, não raro, oficialmente, em nome de outrem? Qualquer manual chinfrim de banca de revista reza que porta voz é a voz do dono da voz. Portanto, no caso, quem deveria ser exonerado pelo governador é o comandante da PMRJ, chefe do major Odilei dos Santos. Por vários motivos. A começar por ter instruído seu comandado a apresentar para mídia uma versão que minimiza os absurdos cometidos pela corporação, como é recorrente nas inúmeras vezes em que valorosos defensores da Lei e da Ordem achincalham a Lei e produzem a Desordem.

 A mídia, por sua vez cumpriu o seu papel de porta voz crítico dos interesses da sociedade e caiu de porrete na versão apresentada, cobrou a prisão dos assaltantes e dos policiais assaltantes dos assaltantes. Flagrado sem roupa no meio do salão da festa desagradável, o que faz o chefe do chefe do major para não ficar mal diante do público? Demite o porta-voz. Ou seja, ao encontrar a casa suja, varreu a sujeira para debaixo do tapete. E estamos conversados: nada de exigir a punição dos policiais, a prisão dos assaltantes civis e de cobrar resultados da polícia em prol da segurança da população. Como sempre.

O mais desagradável da história, no entanto, é que ela acontece diariamente em muitas empresas públicas e privadas em todo o mundo. Em situações mais, ou menos graves. É que infelizmente uma quantidade enorme de organizações ainda teimam em manter políticas pouco transparentes de relacionamento com seus diversos públicos: empregados, investidores, fornecedores, clientes, acionistas e, principalmente, sociedade civil.

Mas, como se sabe, a mentira tem pernas curtas em qualquer lugar do mundo. E mais ainda nas sociedades democráticas, onde a mídia e os grupos organizados são atuantes e muitos, como começa a acontecer no Brasil. E aí não vale jogadinhas de marqueting, mentirinhas filantrópicas ou arrogância intimidadora para esconder a verdade.

Principalmente nesses casos, o dever do profissional de comunicação sério e ético (porta-voz ou não) é mostrar para os seus chefes que a atitude garante a boa reputação da organização e respeita a mídia e a sociedade tem que ser, sempre, fundamentada na verdade dos fatos. Mesmo que eles sejam desagradáveis. Até porque é melhor ser demitido por defender uma causa justa e nobre do que virar bucha de canhão de poderosos sem compromisso público.
 


Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor. 1375

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