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COLUNAS


Karen Worcman


Graduada em História pela Universidade Federal Fluminense/RJ, com mestrado em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/RJ. Fundadora do Museu da Pessoa, um museu virtual de histórias de vida, fundado em 1991. É fellow da Ashoka Empreendedores Sociais desde 1999, instituição que identifica e apoia globalmente projetos de ação inovadora e de amplo impacto social em todo o mundo, como o Museu da Pessoa. Desde 2004, Karen também é membro do Global Fellowship Team da Ashoka, com foco em estratégias de ampliação do impacto social da organização por meio do fortalecimento da rede de fellows. É também parte do board do Program Committee for Museums and the Web, do board do Portal Ourmedia.org e dos Conselhos das Organizações Observatório da Imprensa e do Instituto Avisa Lá.

Momentos que não têm preço

              Publicado em 22/10/2009

Começo esta coluna a partir de uma bela colocação feita por Paulo Nassar em seu artigo “Além do Cidadão Kane”, publicado no Terra Magazine em 9/05/2009. O artigo termina dizendo que a memória empresarial “que pode chegar à condição de memória social é aquela que, de alguma forma, consegue estimular nossos afetos e subjetividades. Através desses afetos, lembramos nossas experiências com empresas, empresários, marcas e produtos. O contrário é apenas o esquecimento ou ruína.”

Há cerca de 15 anos o Museu da Pessoa  se dedica a registrar, preservar e disseminar memórias de pessoas de todos os setores da sociedade. Grande parte desse acervo, hoje com cerca de 12 mil entrevistas, tem origem em projetos de memória empresarial. No entanto, como sempre acreditamos que a história de uma empresa transcende sua trajetória institucional, as narrativas colhidas nestes projetos dizem muito sobre a vida das pessoas envolvidas. E, neste sentido, trazem à tona momentos únicos e plenos de emoções. Um exemplo disto é o trecho da história abaixo que narra a aventura de um geólogo em sua primeira viagem de helicóptero:

“... E helicóptero cair na mata é pior do que um avião porque não tem nem asa, então quando cai na mata ele afunda, nunca mais ninguém acha. Nunca mais ninguém acha! E eu, como chefe da equipe, me julgava na obrigação de fazer o vôo com o piloto, não mandar outra pessoa para fazer o vôo, então eu tinha a responsabilidade de fazer…  era o meu primeiro vôo de helicóptero, eu nunca tinha voado de helicóptero – “... eu vou voar num lugar que se eu cair alguém pelo menos sabe onde procurar.”.. A gente saiu, foi até São Félix do Xingu, abasteceu, depois do rio Fresco pousamos num pedal no meio do rio, abastecia. No Icarapanã encontramos uma pedra no meio do rio, descemos, e no divisor de águas, quando se ficava sem rio nenhum, existia uma serra muito bem marcada, bem alcantilada e com uma pequena clareira que a gente via nas fotografias, semelhante às outras, só que menor. Então essa clareira foi escolhida também como um ponto de reabastecimento. Quando o helicóptero começou a baixar, tem um arbusto chamado canela-de-ema que tem muito em Goiás, em Tocantins e lá também tem. Parece uma pequena palmeirinha, e o piloto Aguiar, já falecido, que voava comigo e já tinha mais de 50 anos, ele me chamava de chefinho porque eu tinha 27 anos e eu era chefe dele. E ele falou: “Chefinho, olha o rotor de cauda para ver se não bate no arbusto.” E o helicóptero começou a baixar e, quando começou a baixar, aquele mundão de canga de minério de ferro, aquele negócio preto ali no chão, e eu comecei a ficar entusiasmado com aquilo e me distraí, então o rotor de cauda bateu numa pequena árvore, um pequeno arbusto... O Aguiar falou então um sonoro palavrão, me deu uma bronca por não ter olhado, e foi mais para a frente...”.

Naquele instante, em 1967, Breno Augusto dos Santos, geólogo, que  nasceu em Olímpia, SP, em 1940, estava descobrindo a reserva de minério de ferro de Carajás, que possui reservas de cerca de 16 bilhões de toneladas de ferro de alto teor.

Quando perguntado o que ganhou com a descoberta de Carajás, Breno disse: “Ganhei aquele momento.” Não tem preço! Você, como profissional da área, de repente você não sabe mas sente, eu não sabia que estava descobrindo, mas sentia que estava descobrindo algo muito grande. Quer dizer, aquele momento, você sozinho com o helicóptero no meio da selva sem nada em volta, e viver aquele momento, não tem preço. Não tem preço nenhum..."

Esta descoberta deu origem a todo o sistema norte mina-ferrovia-porto da empresa. É um marco indubitável  na trajetória da Empresa e, inclusive, consta da linha do tempo apresentada no site. Mas qual não é o potencial de comunicação de uma história como essa? Se narrado, este momento, que transformou não só a história da Empresa, mas a de todo Brasil, incorpora-se em nossa memória coletiva e torna-se parte de todos nós. Existe algo mais poderoso em termos de comunicação do que isto?


Karen Worcman é historiadora e diretora do Museu da Pessoa, um museu virtual de histórias de vida. A história completa de Breno está em www.museudapessoa.net/MuseuVirtual/hmdepoente/depoimento


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