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COLUNAS


Rodrigo Cogo
rodrigo@aberje.com.br

@rprodrigo

Relações Públicas pelo Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria , é especialista em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e RP e Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Trabalhou por 10 anos com planejamento e marketing cultural para clientes como AES, Bradesco, Telefonica e BrasilTelecom. Tem experiência em diagnósticos de comunicação, para empresas como Goodyear, HP, Mapfre, Embraer, Rhodia e Schincariol. Atualmente, é responsável pela área de Inteligência de Mercado da Aberje, entidade onde ainda atua como professor no MBA em Gestão da Comunicação Empresarial.

Tecnologia social da memória como método de captação e registro do storytelling

              Publicado em 07/02/2014
As bases conceituais de História Oral são preciosas para quem estuda e trabalha com captação de histórias para utilização como argumento em comunicação organizacional. Afinal, é desta área do conhecimento que está inspirada a ‘Tecnologia Social da Memória’ que postulo como base para planejamento, captação e registro do storytelling. Trata-se de um conjunto de conceitos, princípios e atividades que ajudam a promover iniciativas de registro de memórias e a ampliar o número de autores na História. Foi organizado em forma de metodologia conjuntamente pela Fundação Banco do Brasil e pelo Museu da Pessoa entre 2005 e 2009 e está disponível em http://migre.me/a36Xu.
 
Este material nos ensina que há três etapas para a realização de um projeto de storytelling, a saber: construir histórias, organizar histórias e socializar histórias. Primeiro, o grupo é estimulado a produzir narrativas, coletar documentos, fotos, objetos e identificar espaços e construções que considere parte de sua história. Da história individual à história coletiva, o grupo pode usar diferentes ferramentas (entrevistas, rodas de histórias, linhas do tempo, coleta e seleção de objetos, fotografias) para produzir registros que se tornem fontes e referências de sua história. Depois, para que os conteúdos registrados e coletados possam ser utilizados, é necessário organizar a história produzida. A ideia é permitir que o usuário acesse e relacione os conteúdos e estabeleça conexões entre eles. Então, o ciclo se completa quando o conteúdo produzido é socializado. Toda história pressupõe interação social.
 
Segundo José Sebe Bom Meihy, um dos maiores estudiosos brasileiros e mundiais no tema, são três os tipos de história oral: de vida, temática e tradição oral, ainda que em todos os casos se pretenda uma versão dos fatos como impressão subjetiva registrada no inconsciente e expressada com lógica própria da memória. A história oral de vida parte de entrevistas livres, com poucos estímulos oferecidos por um entrevistador junto ao relator, que faz as conexões que desejar dentro de um escopo de trajetória histórica, cujo início, meio, fim e retornos, aleatoriamente arranjados, são inteiramente adequados e com muito espaço para argumentos pessoais. Há uma tendência, nesta modalidade, a ser usada uma linha do tempo e um perfilamento cronológico ou sequencial, com forte presença de datas julgadas marcantes. Já a história oral temática é muito mais pontual, objetiva, com recortes de assuntos específicos estimulados pelo entrevistador em sessões de entrevistas mais planejadas, porque voltadas para um fim previamente pensado. A tradição oral, por sua vez, trabalha com as continuidades dos mitos e com a visão de mundo de culturas que têm valores filtrados por estruturas mentais transmitidas oralmente. 
 
Existe ainda uma variação da história oral de vida conhecida como narrativa biográfica, que segue um roteiro mais cronológico e factual da pessoa, aliado a particularidades que remetem a acontecimentos julgados importantes. Neste caminho, está a reconstrução biográfica, aplicada em casos em que os narradores não tenham indicações precisas sobre fatos de suas vidas e se valem de recursos oferecidos como recordação de catástrofes, marcos de mudanças na saúde coletiva, falecimentos de autoridades importantes ou de membros da família e amigos.
 
Há cinco formas principais de narrações: 1) narrativas de vidas públicas, em que políticos, esportistas e artistas contam suas histórias fixadas numa imagem a ser zelada, marcadas por factualismos e pouca introspecção, com total foco nas atitudes públicas e não na experiência privada, com forte negociação de discurso; 2) figuras que leem as próprias histórias contadas de maneiras épicas, com evocação de modelos de guerreiros, santos, figuras mitológicas ou personagens de romances; 3) narrativas de vidas trágicas, vindas de pessoas doentes, malsucedidas ou com problemas traumáticos, com desenvolvimento de um relato dramático e ocorrência de choro; 4) narrativas cômicas, com dose exagerada de humor, num estilo de domínio sobre a evocação e numa condução crítica em relação à sociedade e com algum descontrole sobre o entendimento sequencial do relato; e 5) narrativas misturadas, fazendo composição de alguns formatos anteriores.
 
É no ramo da tradição oral que o storytelling encontraria maior ressonância, por ser expressão de trabalhos feitos com base na observação de condutas sociais, na constatação das tradições míticas explicadoras de atitudes coletivas. Meihy acrescenta que a tradição oral “remete às questões do passado longínquo que se manifestam pelo folclore e pela transmissão geracional, de pais para filhos ou de indivíduos para indivíduos”. Explicações sobre a origem dos povos, crenças referentes às razões vitais do grupo e ao sentido de existência humana enquanto experiência que imita a vida e o comportamento, bem como destino de deuses, semideuses e personagens históricos são aspectos típicos da tradição oral. Também estão nesta linha a retomada de festividades, rituais de passagem e cerimônias cíclicas. Naturalmente que, relacionada ao universo organizacional, ganha corpo também a variante de história oral temática em evocações estimuladas sobre a vida em ambiente de trabalho para a melhor compreensão da teia de relações de poder e de afeto.
 

O relato de uma história de vida fala sobre existência através do tempo, reconstituição de acontecimentos vivenciados e transmissão da experiência adquirida numa tentativa de narrativa linear e individual dos acontecimentos. É, entretanto, um depoimento marcado pelas relações com membros de um grupo, de uma profissão, de uma camada social. Como diz Meihy, implica numa percepção de passado como algo que tem continuidade e cujo processo histórico não está acabado, trabalhando com questões do cotidiano numa lógica de vida coletiva. 


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