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COLUNAS


Marco Antônio Eid


Jornalista, escritor e executivo da área de comunicação, é Diretor de Conteúdo da RV&A (Ricardo Viveiros & Associados - Oficina de Comunicação).

Um trem para Lisboa e um voo para Seul

              Publicado em 27/01/2014
Ao ler “Trem noturno para Lisboa”, de Pascal Mercier, pseudônimo literário do filósofo suíço Peter Bieri, lembrei-me da história real de um gerente de companhia aérea no aeroporto de Seul, que conheci quando era editor de uma revista de turismo e fui encarregado de fazer matéria na Coreia do Sul. O romance despertou-me tal memória porque, exatamente como ocorreu com seu protagonista, o metódico professor Raimund Gregorius, o fato de se apaixonar pela língua portuguesa mudou o destino de Sang-woo.
 
O grupo de jornalistas do qual eu fazia parte havia participado de uma conferência de imprensa com o presidente da empresa responsável pela gestão do aeroporto de Seul. Quando cruzávamos o saguão do terminal de passageiros para tomar o transporte de volta ao hotel, um chamado ecoou forte: “Brasileiros, brasileiros!” Sang-woo aproximou-se. Começamos a conversar. A sua fluência em português do Brasil e a total ausência de sotaque sugeriam que poderia ser nosso conterrâneo. Ledo engano! Nascera na Coreia e jamais havia saído de seu país.
 
O jovem contou-nos sua história. Havia ingressado na faculdade de letras/inglês. Um dia, deparou-se com “Dom Casmurro”. Ficou fascinado. Começou a se interessar pela literatura e a cultura de nosso País. Quanto mais pesquisava, mais sonhava com a possibilidade de ler a obra de Machado de Assis no idioma nativo do autor. Então, consultou a universidade sobre a possibilidade de mudar o seu curso para Letras do Brasil. Foi atendido, o que demonstrou as virtudes de uma política pública adequada para o ensino. Estudava muito e passava horas de seu tempo livre assistindo a filmes e ouvindo música popular brasileira.
 
Sang-woo formou-se. Fluente em português, conseguiu trabalho, muito bem remunerado, como gerente de uma companhia aérea com voos diários para o Brasil e Portugal. Seduzido por nosso irresistível idioma, mudou os rumos de sua vida. Com certeza, já deve ter embarcado em muitos voos de Seul para São Paulo, Rio de Janeiro e outras de nossas cidades, concretizando o sonho de conhecer a terra de Machado de Assis. 
 

É imenso o fascínio que a língua portuguesa consegue causar naqueles que descobrem seus encantos, entendem a sua complexidade e suas infinitas possibilidades semânticas. Por isso, é lamentável que, em nosso próprio País, tanta gente a esteja maltrando e desrespeitando. 


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