O escândalo no comércio de carne na Europa fez dois gigantes se desentenderem. A suíça Nestlé - maior fabricante de alimentos do mundo - afirmou que testes em alguns de seus produtos constataram presença de carne de cavalo e não de vaca. A carne era fornecida pelo grupo brasileiro JBS - maior produtor de carnes do mundo - que garantiu ter comprado o produto da Schypke, na Alemanha, antes de repassar para a Nestlé. O JBS informou, por meio de nota, que a empresa alemã, não possui qualquer relação societária ou operacional com o grupo e que suspendeu todos os contratos. Já a Schypke rebate acusações e diz que não tem nada com isso. No jogo de empurra, confianças abaladas e segurança alimentar em questão.
Como a fraude envolveu várias outras empresas, em diversos produtos (embutidos, hamburguês, molhos, pastas etc) e países (Itália, Inglaterra, Irlanda, Alemanha e França), o fato virou grande problema para todos. Comer carne de cavalo é até comum na Europa, mas ocultar sua presença não é certo. Além disso, oito das 206 carcaças de cavalo examinadas apresentaram traços de fenilbutazona, analgésico que vira veneno se ingerido por humanos.
O comissário europeu de saúde, Tonio Borg, convocou a imprensa para esclarecer que o escândalo não configurava uma crise de segurança alimentar. Mas, a população do Reino Unido ainda traumatizada pelo mal da Vaca Louca, acusa as autoridades sanitárias de falta de controle sobre os alimentos na Europa.
Vale lembrar que a encefalopatia espongiforme bovina, doença conhecida como da Vaca Louca, fez o governo britânico proibir o uso de proteína originada de tecidos de ruminantes na alimentação desses animais. Ocorrências anteriores, como as das gripes aviária e suína, levaram pânico às populações afetadas e obrigaram criadores a abater milhões de animais.
Outro fato que ocupou vastas coberturas jornalísticas no mesmo período foi a renúncia e o discurso do papa Bento XVI. O ato, cheio de significados, colocou em polvorosa as relações entre as diferentes alas do catolicismo. Na homilia da quarta-feira de cinzas ele criticou individualismos e rivalidades e conclamou às mudanças prementes, resvalando-nos sérios problemas no interior da instituição.
Mesmo a igreja católica, provavelmente a maior em número de seguidores (são 140 milhões só no Brasil), enfrenta problemas de imagem. A renúncia, além de questões de vivacidade, mostra a necessidade de mudança e de maior transparência. Segundo a revista Panorama, o que ajudou o papa a tomar a decisão de renunciar foi ter conhecido o resultado de investigações que ordenou. Quando os seus documentos pessoais acabaram nas mãos de jornalistas, mais que um ato isolado do mordomo, a investigação revelou que a trama era maior e que havia resistência generalizada às mudanças. Entre as resistências estariam punição aos corruptos em institutos pontifícios e aos pedófilos espalhados por vários países. Nos EUA, nos últimos 15 anos, a igreja católica pagou 3,3 bilhões de dólares em indenizações a essas vítimas. Lá expuseram a instituição ao escrutínio público. A promiscuidade veio à tona e o que era só pecado também virou crime.
Tanto as ocorrências da igreja católica como as de abastecimento de carne demonstram urgente necessidade de relações mais nítidas nas instituições e empresas. Clientes e seguidores clamam por mais valores humanos e menos valores mercadológicos.
Stakekolders engagement, profissionais de Comunicação das empresas, agências e consultorias gastam altas cargas neuronais para aprimorar Missão, Visão etc. Fazem quase uma etnografia das marcas na busca de verdades e valores capazes de direcionar o discurso externo, a comunicação interna, a relação com stakeholders e até os processos.
Tudo para gerir bons tangíveis e intangíveis da marca e / ou a empresa, com alinhamento de ideais e objetivos claros. Aí a necessidade de escala e / ou a ganância exasperada engaveta o manual de política de comunicação, os preceitos da Sarbanes-Oxley, os códigos de ética e de defesa do consumidor.
Mesmo com rígida legislação, normas, manuais de ética e governança não é raro ver empresas multadas por danos ambientais ou por não cumprirem o prometido ou, ainda, acusadas de repatriar de forma irregular lucros de suas atividades.
O Caso Enron, de 2001, um dos maiores escândalos do mundo corporativo, foi emblemático ao evidenciar manipulações de dados contábeis que desencadeia situação irreal do verdadeiro estado financeiro e econômico. De lá para cá foram muitas as companhias expostas a escândalos globais como recentemente a Olympus - conhecida pelas suas câmeras fotográficas e líder mundial na fabricação de endoscópios para diagnóstico médico - que admitiu que ocultou prejuízos por décadas. Ela utilizou métodos indevidos de contabilidade que, segundo o jornal The New York Times, teria um aparente rombo de US$ 4,9 bilhões nas contas, bem como o possível envolvimento do crime organizado.
No Brasil o Conselho Federal de Contabilidade vez ou outra investiga a maquiagem nos balanços para apurar se houve desvio ético ou falha técnica de contadores e auditores nas empresas com rombos contábeis, como foram os casos recentes do Carrefour e do Banco Panamericano. Algumas denunciadas culpam as Big Four, como são chamadas as gigantes de auditoria, pelos erros. Esses fatos geraram discussões sobre a criação de um órgão independente para fiscalizar a atuação delas. Nos Estados Unidos, o Conselho de Supervisão de Contabilidade de Companhias Abertas foi criado justamente após os escândalos contábeis de Enron e Worldcom.
O Chief Compliance Officer (CCO) ajuda na aderência às normas e à legislação. Um recurso eficaz de prevenção e investigação na estrutura operacional corporativa. É certo que níveis de governança e presença de áreas de compliance contribuem para fechar as portas às velhas práticas duvidosas. Ainda assim, algumas empresas escondem explosivos que a qualquer momento podem detonar a reputação longamente construída. Ai, para certos gestores, é só chamar o pessoal da comunicação e contratar o consultor famoso que a crise será gerenciada. Porém, pode não haver guru que segure os estilhaços.
No livro 'Armas, germes e aço', ganhador do Prêmio Pulitzer, Jared Diamond investigou como e por que as civilizações ocidentais desenvolveram tecnologias e imunidades que permitiram que dominassem a maior parte do mundo. Depois, em 'Colapso - como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso', Diamond analisou o outro lado, ou seja, o que fez com que algumas civilizações do passado entrassem em colapso e o que podemos extrair disso.
O professor da Universidade da Califórnia conclui que danos ambientais, mudanças climáticas, rápido crescimento populacional, parcerias comerciais instáveis e pressões de indivíduos foram fatores na queda de algumas sociedades. Mas, o mais significativo é o que ele chama de resposta da sociedade aos seus problemas. O sucesso ou o fracasso está diretamente associado aos valores aos quais a sociedade se apega. Reafirma a possibilidade de estarmos cavando agora o fosso do nosso futuro.
A primeira doença emergente, grave e contagiosa do Século 21, a Síndrome Respiratória Aguda Grave, mundialmente conhecida como SARS (Severe Acute Respiratory Syndrome), é causada por vírus não patogênico ao homem, embora possa causar doença grave em animais. Foi primeiramente descrita na Ásia, em 2003. Poucos meses depois sua ocorrência já era descrita em cerca de 29 paises. Sua rápida disseminação alertou o mundo demonstrando o quão rapidamente a infecção pode disseminar-se num planeta interligado.
O mundo está ficando sem tempo para garantir que haja alimentos, água, energia e produtos para atender a demanda de uma população em rápido crescimento e evitar que 3 bilhões de pessoas sejam levadas à pobreza, advertiu um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU). A população mundial está preparada para crescer dos 7 bilhões de hoje para quase 10 bilhões até 2040? O número de consumidores de classe média aumentará em 3 bilhões nos próximos 20 anos e a demanda por recursos crescerá exponencialmente. Daremos conta do recado?
A escala produtiva com a performance quantitativa fazem os recalls dispararem a cada ano. No Brasil o número mais que dobrou nos últimos nove anos. Em 2011 foram 78 chamadas por defeitos que envolveram mais de 46 milhões de produtos.
Cientistas pesquisam arduamente soluções que reduzam emissões e, ao mesmo tempo, melhorem produtividades. A proposta deveria ser trabalhar P&D para utilizar recursos de forma eficiente e honesta, sem colocar em risco as riquezas naturais.
Nas bandeiras e territórios de valor do homem moderno não cabem ambientalistas alarmistas, nem céticos homens de negócios e nem mesmo investidores predadores. Como disse o ex papa – o primeiro a utilizar o Twitter– precisamos de um momento de desaceleração reflexiva e resgate dos valores essenciais e verdadeiros. Concordo com ele e acho que, se antes não formos pegos por alguma variação viral, ainda iremos engolir muito gato por lebre.