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COLUNAS


Denise Pragana
denise.pragana@hotmail.com

Mestranda do Programa de Ciências da Comunicação da ECA/USP, com foco em Comunicação e Cultura Organizacional, pós-graduada em Administração de Marketing pela Fundação Armando Álvares Penteado, especialista em Comunicação Internacional pelo programa Aberje-Syracuse University  e jornalista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.  Atua há mais de 25 anos na área de Comunicação Empresarial, à frente da gestão de Comunicação Corporativa de empresas multinacionais brasileiras, como a Construtora Camargo Corrêa, Votorantim Cimentos e Votorantim Celulose e Papel, atual Fíbria. Foi também responsável pela comunicação institucional e assessoria de imprensa da TV Cultura na gestão do jornalista Paulo Markun.  
Áreas de atuação:

  • Desenvolvimento de sistema global de comunicação interna, com uso de plataforma mobile (conceito de “aplique e adapte”)
  • Tratamento da comunicação interna com técnicas de gestão dos atributos da marca: Endobranding
  • Coordenação de processo de comunicação para plano de transição de cultura organizacional
  • Utilização de técnicas de story telling na produção de conteúdos midiáticos
  • Gestão de Responsabilidade Social
  • Planejamento e execução de eventos empresariais
  • Elaboração, implantação e gestão de programa de premiação anual, baseado em indicadores de performance
  • Gestão de crise de imagem e reputação

O desafio de encontrar o elo perdido entre a casa e a rua no cotidiano do trabalho

              Publicado em 30/10/2015

Já foi o tempo em que a casa e a rua eram espaços distintos quando o assunto é local de trabalho. Hoje, com as facilidades da internet e os dispositivos móveis, a noção de que lugar de trabalho é na rua e que casa não foi feita para se trabalhar começa a perder totalmente o sentido. Tanto do ponto de vista das empresas quanto dos indivíduos.

 Roberto DaMatta, autor brasileiro de importantes estudos de antropologia urbana, levantou a questão da diferenciação que é feita no Brasil entre a casa e a rua. Segundo o autor, o espaço da rua é um espaço de luta e de batalha pela dura realidade da vida. Já a casa é um espaço dotado de emoção, sentimento, história e personalidade. Ele argumenta que a rua compensa a casa e a casa equilibra a rua. “A rua é essencialmente o espaço do trabalho e do famoso “batente”” (DaMATTA, 2004, p. 18), complementando com a noção de que o trabalho ainda é algo cercado de muita ambiguidade, senão de negatividade. E a casa, “onde somos reis e donos, nos protege da rua, onde não somos coisa alguma” (idem, p. 17).

Mas será que ainda somos e agimos assim? Enfrentamos a frieza da rua e nos refugiamos no calor de nossos lares para compensar e enfrentar a dura realidade da vida do trabalho? Ou será que começamos a querer estreitar essa fronteira e buscar uma realidade que nos traga a casa e tudo o que ela representa em termos de afeto e identidade para dentro do nosso cotidiano de trabalho?  E as organizações, ainda percebem seus profissionais apenas como mão de obra ou já começam a buscar novos formatos de relacionamento com os trabalhadores?

Vale a reflexão. Penso que vivemos um tempo onde todas essas realidades ocorrem de forma simultânea. Vamos pegar o exemplo das pessoas que hoje fazem sucesso e ganham dinheiro nas mídias sociais digitais, como os youtubers, uma geração de jovens que gosta de se comunicar através de vídeos na internet, falando sobre moda, música, cinema, gastronomia e diversos outros assuntos, de maneira informal e caseira (talvez seja exatamente essa a receita do sucesso e de terem tantos seguidores), obtendo excelente remuneração com essa atividade. E podemos também falar sobre a prática do home office, que se torna cada vez mais comum no Brasil. Conheço pessoas que  não precisam mais ir ao escritório todos os dias. Conheço outras que não têm nem equipe e nem chefe no mesmo local de trabalho. Pessoas que são gestoras de suas próprias rotinas e que mantêm uma relação de trabalho mais madura e feliz com suas empresas exatamente por não precisarem cumprir a rotina diária de estar no ambiente de trabalho por oito ou mais horas seguidas.

A crença de que era proibido levar a casa para dentro do escritório, assim como o escritório não deveria entrar em nossas casas, perdeu força. Lidamos com uma realidade fluida, intercambiável e ao mesmo tempo híbrida. No linguajar popular, precisamos saber viver em meio a tudo junto e misturado ao mesmo tempo. Pois a verdade, contrariamente a antigas teorias racionalistas, ao sair de casa para trabalhar ninguém deixa para trás a necessidade de atenção e afeto, de se sentir acolhido, sentimentos ligados ao ambiente de nossas casas. Assim como, conformar-se com  o antigo conceito de que trabalho significa “castigo”, já não encontra mais eco na geração contemporânea.

E aí surge a pergunta que não quer calar: de que forma o comunicador organizacional deve atuar nesse contexto?

Um possível caminho talvez seja desenvolver formatos e conteúdos que tragam a casa para dentro do trabalho, e vice-versa. Afinal, conviver no local de trabalho pode ser tão prazeroso e gratificante para alguém quanto chegar em casa,  tirar o sapato, deitar no sofá e assistir ao seu programa favorito. Vamos descobrir esse poder encantador e gerador de felicidade. Está lançado o desafio.

Referências:

DaMatta, Roberto. O que é o Brasil? Rio de Janeiro: Rocco: 2004.

Por que os jovens brasileiros querem se tornar ‘youtubers’?  El País, de 6 de junho de 2015. Disponível em http://brasil.elpais.com/brasil/2015/05/09/politica/1431125088_588323.html?id_externo_rsoc=FB_CM


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