Comunicação acessível: estamos preparados para isso?
Meu artigo para a coluna do mês de agosto é em homenagem à minha querida colega de faculdade e amiga Claudia Werneck, uma das pessoas mais engajadas e atuantes que conheço nas questões da inclusão social de crianças e adultos com deficiência. Claudia é jornalista, escritora e fundadora da ONG Escola de Gente, que trabalha em prol de sociedades mais inclusivas e sustentáveis.
Apesar de estarmos sempre em contato, seja nos encontros anuais da turma da faculdade, seja pelas redes sociais, confesso que até assistir à entrevista que ela concedeu ao programa do Jô no último dia 5 de agosto, não havia me dado conta de que a plataforma que ela usa para o seu trabalho não é a responsabilidade social e sim a comunicação. Suas palavras foram de uma clareza tal que para mim soaram como um alerta sobre quanto nos falta evoluir nas empresas para tornar a comunicação acessível às pessoas com deficiência que têm sido contratadas pelas empresas nos últimos anos, até por força da lei de cotas, criada em 1991, que lhes abriu as portas do mercado de trabalho.
“Inclusão não é botar para dentro quem está fora”, disse Claudia na entrevista. Sua atuação visionária nos mostra que o caminho para a inclusão está justamente na comunicação e não somente numa ação burocrática ou de responsabilidade social das empresas ao contratarem pessoas com deficiência para integrarem suas equipes. Inclusão é partilhar informação e conhecimento, adaptando o canal e o conteúdo aos diversos públicos de relacionamento de uma organização. Essa deve ser a missão primeira dos profissionais de comunicação corporativa.
Salvo algumas exceções, até por experiência própria, temos muito a aprender com experiências como a de Claudia, ao afirmar que “a comunicação é um universo em expansão”. De fato é, mas para isso precisamos expandir a visão que temos da comunicação.
Acostumados a padrões considerados normais ou usuais de comunicação nas empesas, muitas vezes caímos no erro de achar que cabe somente a quem ingressa a responsabilidade de integrar-se e ir atrás da informação. Claro, cada um tem que fazer a sua parte. Mas quando se trata de uma pessoa que tem alguma limitação, não basta querer. É preciso ter acesso.
Vou relatar minha experiência pessoal quando recebi em minha equipe de trabalho uma profissional com deficiência auditiva e de fala, a Lívia. A empresa já havia contratado algumas pessoas com deficiência semelhante, mas nada ou pouco fazíamos para incluí-las nos processos de comunicação interna. Os vídeos que passavam nas telas da TV Corporativa não tinham legenda; os eventos não contavam com tradução em libras; e muitos de nós, gestores, não sabíamos nos comunicar na linguagem de libras.
Eu me comunicava com a Lívia pelo messenger, por e-mail ou pelo whatsapp. E depois de algum tempo vim a saber, por ela mesma, de sua dificuldade com o português, tendo iniciado seus estudos depois que começou a trabalhar na empresa.
A Lívia nos ensinou, com seu esforço em usar a nossa linguagem, que precisávamos fazer a nossa parte, e a partir daí passamos a tomar algumas medidas para ampliar a acessibilidade dos colegas com deficiência auditiva aos conteúdos de comunicação, colocando legenda nos vídeos e contratando tradutores de libras para alguns eventos. Além disso, eu estava pronta para começar a estudar a linguagem de libras quando a Lívia teve seu contrato terminado.
O cenário mudou, eu saí da empresa, e não pensei mais nisso até assistir a entrevista da Claudia Werneck. Sei que algumas organizações estão em patamares bem elevados de preocupação com a inclusão, mas são exceções. Não conheço estudos ou inciativas em comunicação que mapeiem o profissional com deficiência como um de seus stakeholders. Ainda temos muito a fazer nesse sentido. E os bons exemplos estão aí. Basta estarmos abertos para aprender com quem faz.
A entrevista de Claudia Werneck ao programa do Jô pode ser acessada aqui.
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e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1336
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