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Lidiane Amorim


Gerente de Comunicação Corporativa da Rede Marista e docente na área de Comunicação Organizacional. Doutora e Mestre em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS), com estágio doutoral na Universidad Complutense de Madrid (UCM-Espanha). Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Maria (2006), com formação em Comunicação Institucional pela Universidade Austral (Arg). Tem experiência em Comunicação Organizacional e Integrada, tendo atuado em assessorias de comunicação e marketing e também tem passagem em rádio e TV como editora, apresentadora, repórter e produtora. 

Organizações: lugar de produtividade ou espaço de sentidos?

              Publicado em 17/08/2015

Pensar a comunicação empresarial/organizacional, e nela atuar, requer um esforço importante que nem sempre ganha espaço na agenda do comunicador: compreender as dimensões e dinâmicas das organizações contemporâneas, em toda sua complexidade. Porque não há como dissociar os sentidos que emergem do nosso trabalho, das empresas, das marcas, do espaço onde eles acontecem.

Desde que passei a estudar as organizações optei por compreendê-as como espaços organizacionais, amparada no pensamento de Milton Santos (1979, 1988, 2006) para quem o espaço é um conjunto indissociável do qual participa um certo arranjo de objetos geográficos, naturais e sociais, junto à vida que os preenche e anima. É, portanto, lugar material mas também de linguagem, fruto do trabalho humano e onde ele ganha sentido. Ou seja, a compreensão de espaço vai além dos seus atributos físicos, assim como o espaço organizacional ultrapassa sua materialidade, sua configuração estrutural.

O espaço organizacional é um todo de partes em relação. Para compreendê-lo, é preciso que o façamos em relação, na intercompreensão entre as dimensões que o conformam: as concretas e, sobretudo, as simbólicas, subjetivas, incertas. No espaço organizacional o estático convive dialogicamente com a mobilidade característica de nossos tempos.

Também eles, os ambientes organizacionais, virtualizam-se, tornam-se espaços hiperconectados, cujos sentidos de localização, visibilidade, reputação e até de duração já não obedecem às certezas e às regras estanques do tempo em que tudo estava, aparentemente, sob pleno controle. Muito mais que em qualquer outra época, falar de espaço na contemporaneidade é falar de uma realidade em constante movimento e transformação.

Nesse sentido, o espaço organizacional pode ser compreendido como a relação entre seu conjunto de atributos estruturais e físicos e as relações sociais, humanas, culturais, identitárias, históricas, trabalhistas, hierárquicas que se entrecruzam diariamente, em um cotidiano complexo e, por isso, incerto, ainda que repleto de repetições, de processos delineados e previsíveis. Um espaço que congrega a ordem e a desordem, objetividade e subjetividade, regularidade e caos, certezas e incertezas. Não se trata de um lugar que se esgota na sua funcionalidade e produtividade e/ou no seu impacto econômico, político e mercadológico na sociedade em que está inserido. É um espaço complexo e vivo, onde circula vida, onde habitam relações recursivas entre as partes que o compõem, assim como com o meio que o acolhe.

Foi em Maffesoli (2003) e no seu modo de perceber as cidades que descobri a possibilidade do olhar sensível também para o espaço organizacional. A caracterização do espaço urbano como um território essencialmente relacional, onde circulam emoções, afetos e símbolos, parece-me também revelar a realidade das organizações. Por serem espaços de vida, também são espaços múltiplos e sinestésicos, onde circulam emoções, afetos e símbolos, sentimentos diversos, pessoas de diferentes crenças, de perfis complementares e antagônicos. São palco da “teatralidade do cotidiano”, parafraseando o sociólogo, que se faz no entrosamento simbólico, material, emocional e ao mesmo tempo racional.

(Re)pensar as organizações sob este e outros prismas, ultrapassando as fronteiras das teorias clássicas, é um desafio para os profissionais de comunicação que almejam, realmente, contribuir com as organizações, por meio da comunicação. Sair dos limites de uma atuação meramente burocrática e instrumental e alcançar, efetivamente, um pensar e agir estratégicos requer aprofundar conhecimentos não apenas em comunicação, mas também sobre as organizações [e tantas outras áreas do conhecimento]. O pensar redutivo e superficial sobre as empresas/ organizações/ instituições provavelmente irá gerar iniciativas e estratégias redutivas e superficiais de comunicação empresarial/organizacional. Há uma certa relação de causalidade entre o pensamento sobre as organizações e o nosso jeito de pensar e fazer comunicação organizacional.

Resumidamente, compreendo o espaço organizacional, assim como o pensamento de Mafessolii sobre as cidades: como um espaço comum, de coabitação cotidiana, do être ensemble, do estar junto (MAFFESOLI, 2006), espaço em que pessoas coexistem, coabitam (WOLTON, 2006, 2010), enquanto tornam possível a existência e sobrevivência da organização. Para além do espaço de produtividade, de execução de ações, programas, projetos, produtos, de alcance de metas, resultados, as organizações são, a meu ver, espaços de sentidos, de vínculos, de relações, de pessoas e sonhos, de dialogismos, de lugares, entre-lugares e não-lugares que são (re)tecidos cotidianamente em/por comunicação.

Essa reflexão foi aprofundada na tese de doutorado. Caso queira ler mais acesse este link.

 


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