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Pollyana Ferrari


Pollyana Ferrari é escritora e pesquisadora em Comunicação Digital. Professora de hipermídia e narrativas transmídias nos cursos Comunicação e Multimeios, Jornalismo e na Pós-Graduação Strictu Sensu de Tecnologias da Inteligência e Design Digital (TIDD), todos ligados à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Autora dos livros “Jornalismo Digital”, ”Hipertexto, Hipermídia”, “A força da mídia social” e “No tempo das telas”. E instrutora da Aberje desde 2001. 

O reencantamento depende do quanto queremos ser encantados

              Publicado em 16/07/2015

Ao contrário de Kant, que considerava o conhecimento como sendo sujeito a limites, a ciência contemporânea nos mostra um universo em expansão para sempre, uma realidade em eterno vir-a-ser. Ser e devir se juntam de maneira construtiva. Nesse sentido, essas ideias vão numa direção oposta à posição de um inatismo platônico. Pensando à maneira fractal, podemos dizer que cada ser humano, como um microcosmo, contém em si todo o cosmo. Nesse sentido, nós estaríamos em expansão contínua, atualizando permanentemente nossas potências de ser, declara a pesquisadora Nize Pellanda.

Concordo 100% com ela: precisamos olhar de maneira fractal para a comunicação digital. Ouço como consultora, muitas angústias de empresas temerosas com a comunicação digital, muitas vezes ainda tentando falar só com seus públicos conhecidos e tendo arrepios quando se fala em APPs, compartilhamento, comunicação horizontal e mestiçagem de públicos.  

Estamos em 2015, já se passou mais de uma década do surgimento das redes sociais. Ousar na mídia digital significa não ter medo de arriscar. Não ter medo, por exemplo, de convencer a área de TI de que as redes sociais (Instagram, Facebook, Twitter, YouTube, entre outras) ajudam muito a marca. E mesmo que discordem, não tem como ficar de fora ou na ofensiva, pois a forma de contar histórias mudou. Vejam o exemplo da protagonista de “Mesmo Se Nada Der Certo” (2014) Gretta (Keira Knightley), uma compositora inglesa que vai aos EUA acompanhar o namorado Dave, um roqueiro em ascensão. Ao ser dispensada pelo namorado, Gretta perde o chão e aos poucos deixa que as ruas de Nova Iorque falem com ela.

O roteirista e diretor John Carney faz com que a câmera em movimento nos ofereça um passeio pelas ruas da Big Apple, com seus congestionamentos e pontos turísticos. Dan (Mark Ruffalo), na pele de um ex-produtor decadente, (em uma das minhas cenas favoritas) acompanha Gretta mentalmente com uma orquestra, enquanto ela canta tímida num barzinho local.  Dan (Ruffalo) tenta convencê-la a mudar de visual, ou mesmo fazer um estilo “Norah Jones”, mas a garota de estilo retrô tem humor ácido e se recusa, dizendo que ele está mais para um Homeless do que para um produtor de sucesso.

Eles caminham juntos e ela muda de ideia no dia seguinte, ligando para ele. Dan sugere gravar na rua o álbum de Gretta, misturando sua voz e os instrumentos aos sons da cidade.

É tão doce e real, que nos perguntamos para que criar cenários que não sejam o próprio real? A crítica gostou pouco desse filme, mas isso importa pouco. A película nos faz pensar no conceito de “Multitude”, onde Toni Negri diz que é a multidão que comanda a história, o que o diretor irlandês John Carney, ex-baixista do grupo irlandês “The Frames”, captou bem.

Carney também dialoga com o pensamento do escritor moçambicano Mia Couto. Em entrevista para revista Comunicação Empresarial (n. 94), o escritor diz que para não perdermos o encantamento no mundo de hoje precisamos entender que uma pessoa é construída de histórias, a relação com essa pessoa passa a ser um motivo de encantamento, porque essas histórias não são simplesmente reveladas. São construídas e reconstruídas na relação. Em outro trecho da entrevista, quando indagado sobre suas fontes de reencantamento com o mundo, Couto diz que “existe apenas um segredo: o estar-se disponível. (...) Não basta gostar de uma canção, de um trecho de uma sinfonia. É preciso estar disponível para que a música tome posse de nós, nos roube do tempo e do mundo. O reencantamento depende do quanto queremos ser encantados”, conclui Couto.

Quanto estamos querendo encantar nossos consumidores, parceiros ou colaboradores?


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