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Pollyana Ferrari


Pollyana Ferrari é escritora e pesquisadora em Comunicação Digital. Professora de hipermídia e narrativas transmídias nos cursos Comunicação e Multimeios, Jornalismo e na Pós-Graduação Strictu Sensu de Tecnologias da Inteligência e Design Digital (TIDD), todos ligados à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Autora dos livros “Jornalismo Digital”, ”Hipertexto, Hipermídia”, “A força da mídia social” e “No tempo das telas”. E instrutora da Aberje desde 2001. 

Curadoria para uma sociedade "desbussolada"

              Publicado em 05/06/2015

NET demite funcionário que assediou cliente pelo Whatsapp no final de maio; a cantora e compositora norte-americana Amanda Palmer pede por WhatsApp para repórter do jornal Folha de S. Paulo adiar entrevista com mensagem em linguagem pessoal “Desculpa, este é o dia mais louco da minha vida”, referindo-se ao fenômeno do financiamento coletivo onde ela arrecadou 1 milhão de dólares em uma semana no site Patreon. Palmer de 39 anos ficou conhecida há três anos por suas arrecadações no Vaquinha online, outro site de financiamento coletivo. As duas histórias, a princípio sem conexão, aconteceram na mesma semana, uma nos Estados Unidos e outra em São Paulo, mas o eixo comum é a troca de mensagens pessoais por WhatsApp entre pessoas que não se conhecem.

As relações no espaço público, no trabalho, na contratação de serviços, na oferta de imóveis, nas metas dos chefes para os subordinados, ou seja, em quase 90% do nosso dia a dia estão utilizando linguagem coloquial em redes sociais como se fosse um grupo de amigos próximos que trocam emoticons, kkkk ou hehehe. Quando viramos tão próximos um dos outros? Nem os criadores do WhatsApp imaginavam isso.

O que mudou é que agora a conversa, a propaganda, o escândalo sexual, o assédio, a denúncia de abusos, a receita de feijoada do sábado, a lista de compras do supermercado ou a foto de capa do principal jornal do país estão no mesmo saco, ou melhor, no mesmo WhatsApp. As pessoas perderam o conceito de hierarquia e censo de de intimidade.  

No caso da NET, a jornalista Ana Prado, após receber uma oferta da TV a cabo por telefone e descartar, recebe uma mensagem por WhatsApp dizendo: “Oi, falei com você hoje. Desculpa, mas fiquei curioso por conta da sua voz”. A conversa foi salva e Prado publicou-a na sua timeline do Facebook. Milhares de comentários e a exposição de outros casos de uso indevido do WhatsApp por funcionários de empresas foram engrossando a discussão que resultou na demissão do funcionário da NET.

Mas me pergunto: como a NET treina seus funcionários do SAC? Qual o limite da conversa entre a entrevistada Amanda Palmer e a repórter da Folha que estava tentando entrevista-la? Elas viraram amigas? A conversa continuou? O jornal tem uma política clara para o uso do WhatsApp entre fonte e jornalista? A entrevista foi por WhatsApp? Se foi, o copyright desse material é da Folha de S. Paulo ou da cantora Amanda Palmer?

Onde está o limite do público e do privado em nossa sociedade? Há 20 anos sabíamos como se comportar na igreja, no clube. Nossas mães ensinavam que ligar depois das 22h para casa de alguém era falta de educação e hoje recebo por WhatsApp propaganda de loja de lingerie às 2h da manhã, sem nunca ter sido cliente da marca. Não conversávamos com estranhos na rua, mas fazemos isso no WhatsApp, no Facebook, e em outras redes sociais.

O psicanalista Jorge Forbes, em artigo para revista 29 horas, distribuída em maio no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, diz que “as pessoas perderam seus parâmetros porque o laço social não é mais vertical como antigamente, quando havia comportamentos fixos e padronizados. Quando você sabia, por exemplo, que nunca poderia colocar na mesa feijão com filé de peixe. Nessa época em que se perdeu o how to do, o que é certo e o que é errado, as pessoas têm angústia de exercer essa liberdade (...). Vivemos um período em que as pessoas se sentem muito perdidas, a sociedade está desbussolada”. Concordo em gênero, número e grau com Forbes. Acredito que os gestores precisamos investir em áreas de treinamento permanente nas empresas. Mas isso só não basta, precisamos regulamentar o uso de dados. Projetos como o Marco Civil da Internet a nível corporativo e global. Por que o próprio Google não usa criptografia para preservar meu e-mail? Por que a NET não investe em segurança para preservar os dados do cliente?

O ciberespaço já está incorporado à nossa vida. Não tem mais dois mundos (virtual e real). Anda faltando reflexão e investimento em educação, pois o avanço do bigdata não pode servir apenas para as marcas terem acesso aos nossos dados e telefones e venderem o que acham que precisamos.


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