Já pensou na sua TV como um APP?
Para o fundador e presidente da Netflix, Reed Hastings, “a provedora de TV paga vai ser mais um aplicativo. Todo conteúdo vai chegar pela internet. A TV vai ser muito parecida com o que seu smartphone é hoje”, declarou em entrevista à revista Exame em 18 de março. O telespectador mergulhado em alguma tela, seja do celular, tablet ou laptop, quer assistir o que quiser, quando quiser e na tela que escolher.
Essa é a maior revolução dos últimos 70 anos da história da televisão. No Brasil não está sendo diferente. Muitos brasileiros já deixaram de ver TV aberta – principalmente os mais jovens – e até trocaram a TV a cabo por assinatura da Netflix, justificando o alto custo da TV paga. Assiste-se TV com o laptop no colo, ou conectando o laptop em uma das entradas HDMI da TV, ou ainda com conectores do tamanho de um pendrive como, por exemplo, o Chromecast, do Google, que transforma a TV da sala em uma smart TV.
Esses gadgets só reafirmam que o jeito de ver TV mudou. Isso sem falar na segunda tela, que também alterou a maneira de assimilar a programação, já que recebemos informações ao mesmo tempo que mandamos informações pelas diversas redes sociais que usamos. Mas nem por isso, a líder cinquentona ficou parada: de olho no mercado de streaming, a Globo criou um serviço proprietário chamado Globo TV+, com direito a novelas e jornalismo na íntegra e sem anúncios, entre outros programas da grade.
Como entender essa explosão da comunicação imagética “sem fazer interpelações e reflexões sobre o movimento atual de decomposição e de recomposição que se exerce sobre as técnicas e suas utilizações” explica a pesquisadora Priscila Arantes. Como Priscila, também acredito que estamos tecendo uma nova utopia cognitiva, do mesmo modo que os modernos encontraram no surgimento da fotografia e do cinema o reflexo de uma cultura em mutação. É inegável que a televisão trouxe a modernidade para os lares no século XX, mas o que vemos hoje (2015) é uma profunda mudança nesta sociedade remixada e em transformação, sendo a TV pela internet a grande vedete.
Uma locadora de DVDs e o crescimento do storytelling audiovisual
Em 1997 a Netflix chega ao mercado norte-americano como uma locadora de DVDs, e pouco tempo depois passa a oferecer serviço de streaming de filmes e séries e leva a Blockbuster à falência e como efeito dominó muitas outras locadoras. Se olharmos a Netflix hoje, com séries próprias fortíssimas e concorrentes de peso como a Amazon, que recentemente contratou Woody Allen para fazer sua estreia no mundo do streaming, percebemos que esse mercado mudou rapidamente em menos de dez anos.
Gosto muito desse pensamento de Lucia Santaella quando nos lembra que “não podemos esquecer que as linguagens não são simples instrumentos para ligar os homens entre si. “Somos constituídos pelas linguagens que produzimos. Estamos nelas e somos prescritos por elas”.
Basta olharmos para a linguagem oferecida pelo YouTube, que recebe a cada mês a visita de 1 bilhão de pessoas, sendo o Brasil o segundo mercado mundial, para ver que o hábito de consumir notícias, séries, filmes, documentários se modificou. Os consumidores, com suas mudanças de hábitos, modificaram o sistema de comunicação, agora integrado e digital. “O audiovisual transmite coisas que na mídia impressa você não consegue”, declara Renata Brandão, diretora-executiva da Corp, para revista Comunicação Empresarial (n. 93). As mudanças sociais levadas pelo avanço tecnológico, principalmente em decorrência do impacto da chegada da web – e suas inúmeras possibilidades de interação –, transformaram o público consumidor em agente. Neil Postman vai “nos ensinar que a mudança tecnológica não é nem aditiva, nem subtrativa, é ecológica”.
Pensando nessa ecologia audiovisual, que linguagem construímos diariamente com nossos smartphones? Que conteúdos via streaming estamos oferecendo na TV corporativa da nossa empresa? Ainda reproduzimos o modelo de TV aberta da década de 1990 ou estamos mais para o modelo de negócio do Porta dos Fundos? “Vemos, hoje, o audiovisual entrando em lugares que nunca entrou antes: no elevador, em TVs internas dentro das empresas, nos canais do YouTube, nos sites das empresas”, analisa Renata, da Corp.
Na próxima vez que assistir a uma série na Netflix se pergunte quanto tempo vai demorar para termos, por exemplo, jornalismo diário e talkshows via streaming?
Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje
e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1419
Outras colunas de Pollyana Ferrari
09/09/2015 - Outra cidade possível, outra comunicação possível
16/07/2015 - O reencantamento depende do quanto queremos ser encantados
05/06/2015 - Curadoria para uma sociedade "desbussolada"
06/05/2015 - Já pensou na sua TV como um APP?
01/04/2015 - Por uma ecologia social: olhar antropológico e sustentabilidade na mochila
O primeiro portal da Comunicação Empresarial Brasileira - Desde 1996
Sobre a Aberje |
Cursos |
Eventos |
Comitês |
Prêmio |
Associe-se |
Diretoria |
Fale conosco
Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial ©1967 Todos os direitos reservados.
Rua Amália de Noronha, 151 - 6º andar - São Paulo/SP - (11) 5627-9090