Impossível qualquer profissional de comunicação e marketing não ter sido impactado por informações sobre o Festival de Cannes nas últimas semanas. Confesso que por estar mais envolvido com publicidade neste ano do que nos demais da minha carreira, dediquei mais atenção que habitualmente e daí surgiram algumas reflexões que aproveito para compartilhar com você.

Para começar: quanto vale uma boa ideia? Muito do que vi sobre o prêmio foi pensado de forma direcionada para aquele momento, mas independente de críticas que possam surgir a respeito disso, tratam-se de criações tão brilhantes que é inegável o potencial de contribuição que elas podem trazer para uma marca. Mais do que estatuetas, talvez o principal benefício de Cannes seja fazer as pessoas saírem do automático, do lugar comum. É aquele momento que exige uma ruptura com o modelo tradicional para que o olhar à distância possa enxergar o diferente. Nós, comunicadores, precisamos nos habituar a criar um festival desses em nossas atividades. Não falo sobre um mega evento. Falo da capacidade de conseguir enxergar algo diferente do óbvio - às vezes até mesmo o óbvio, tão difícil - dentro das atividades que conduzimos. Sabe aquela máxima do "está construindo um muro ou uma catedral"? Está construindo um site ou uma solução de relacionamento? Fazer um site é fácil e você pode seguir um roteiro. Agora, dá pra fazer um site tipo Cannes, que, mais do que cumprir seus objetivos básicos, tem ali algo que é uma sacada genial. Isso não significa pensar em um site que ninguém tem, criar um layout fora do comum. Pode significar oferecer uma funcionalidade que muda para sempre - e para melhor - a vida do seu cliente. O seu negócio. Ou o que quer que seja e tenha valor para sua empresa. Esse é um desafio enorme diante de uma rotina que nos força a ser gestores de e-mails. Precisamos caçar leões semanalmente, e eles estão escondidos nessa selva de projetos e ações que tentamos desbravar.

Outro aspecto diz respeito à produção de uma ideia leonina. Uma ideia transformadora pode ter várias formas. Pode ser caríssima, mas se de fato for boa e o retorno valer à pena, ok, zero de problema. Mas é importante perceber que determinadas soluções são tão boas, mas tão boas, que impressionam pela simplicidade e pelo custo baixo. Na Unimed-Rio, há alguns anos lançamos o Vídeo Corredor, como uma ação de Comunicação Interna. O profissional da área sai pela empresa com seu smartphone, liga a câmera, faz um pergunta a alguém, que dá uma resposta. Colocamos uma cartela de abertura, uma de encerramento e publicamos o vídeo na intranet. Esforço mínimo de edição. Não é um vídeo ultra super blaster, mas atende 100% a uma necessidade de informação em tempo real, em formato atraente e com custo zero. Geralmente, ficamos presos à necessidade de ter uma produtora, com um roteiro, atores e efeitos que geram um custo que duela com outras ações e acaba engavetando a necessidade. Uma ideia tipo Cannes não precisa necessariamente ter produção tipo Cannes.

A conclusão disso tudo é que precisamos treinar de forma constante nosso olhar e nossa mente para que percebam as pegadas de leões que estão pelo caminho. E orientar ideias e criações para resultados que solucionem problemas reais. Do contrário, seremos cordeiros disfarçados de leão.