O que aprendemos com o celebratepride
A comprovação sobre os efeitos do mundo globalizado na comunicação, que o sociólogo português Paulo Finuras descreveu como “a redução do espaço e tempo e o desaparecimento das fronteiras internacionais”, aconteceu no último dia 26 de junho, momentos depois da Suprema Corte Americana ter legalizado a união de pessoas do mesmo sexo nos Estados Unidos. A rede social facebook antecipou-se e criou o aplicativo celebratepride, de fácil aplicação, linguagem universal e icônica. Partiu da foto do Zuckerberg e ganhou a aceitação instantânea de milhares de usuários da rede em todo o mundo.
A comunicação imediata, que se espalhou como “rastilho de pólvora”, foi uma verdadeira aula de boas práticas comunicacionais, tornando real a afirmação de Finuras sobre a rapidez da informação nos dias atuais: “Não precisamos de mais do que 20 segundos para, a partir de qualquer ponto do planeta, entrarmos em contato com outro ponto” (FINURAS, 2007, p. 28).
Para exemplificar a eficácia da comunicação adotada pelo facebook, relato a minha experiência pessoal com este fato. Eis que por vota das 17h do dia 26 de junho, retornava de um compromisso que durou a tarde toda, sem saber que a citada lei estava sendo votada naquele dia nos Estados Unidos. Ao checar as atualizações no feed da minha página, deparei com a foto de um amigo “desfocada” por um arco-íris. Pensei: “que diferente, como será que ele fez para ter esse efeito em sua foto”? Na sequência, vi diversas outras fotos com arco-íris e achei, num primeiro momento, que a tela do meu aparelho celular estava com defeito. “Que estranho!” Mas será que eu fui a única a achar isso?
Bem, não demorou muito para eu entender do que se tratava e também descobrir que a celebração em rede acontecia não só no facebook, mas em várias outras redes sociais. Entre outras iniciativas, logo após o anúncio da Suprema Corte, milhares de usuários começaram a postar imagens comemorando no Instagram: “Às 18h de Brasília, a publicação de fotos com a hashtag #LoveWins já tinha passado de 600 mil” (Globo.com, 26/06/2015 16h18 - atualizado em 27/06/2015 11h32).
Fenômeno semelhante ocorreu após o atentado ao jornal francês Charlie Hebdo, no dia 7 de janeiro deste ano. Segundo notícia da Folha Uol, de 07/01/2015, às 16h53, nas oito horas seguintes ao ataque, a hashtag #JeSuisCharlie, acompanhando a capa do site do jornal, já havia sido utilizada mais de 570 mil vezes no Twitter.
Portanto, retomando o texto de Paulo Finuras, convivemos com os efeitos da globalização nas nossas vidas, que passam a ser afetadas sem precedentes por acontecimentos do outro lado do planeta que, muitas vezes, desconhecemos. As fronteiras nacionais pulverizam-se, não apenas para o comércio, capital e informação, mas também para as ideias, normas, hábitos, símbolos e rituais. E a comunicação exerce papel preponderante nesse cenário, produzindo sentido e unindo os pontos pela informação e conhecimento.
Que aprendizados os comunicadores que atuam em organizações complexas podem extrair de fatos cotidianos como esses? O ato de comunicar, por conta dessa nova realidade, aparentemente se tornou também complexo, já que mais abrangente e multicultural. Por outro lado, percebe-se que quanto mais simples e de fácil entendimento e transmissão, mais eficaz se dá a comunicação em rede. A receita seria mais ou menos assim: provoque certo estranhamento, aguce a curiosidade, ofereça conhecimento, facilite a adesão e sugira compartilhamento. Quem experimentar a receita já pode passar adiante.
Referência
FINURAS, Paulo. Gestão Intercultural. 2ª edição, Lisboa: Sílabo, 2007.
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e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 2166
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