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COLUNAS


José Eustáquio Oliveira de Souza


Presidente da Editora VEGA Ltda. e membro do conselho da Aberje. Atuou em cargos de destaque na área de comunicação de grandes multinacionais, como o Grupo Gerdau.

Queridos, assim não há marketing que aguente o marketing!

              Publicado em 27/11/2013
De ciência quase entronizada no pódio da Comunicação como divindade capaz de produzir milagres, o marketing - quem diria? - corre o sério risco de acabar virando galhofa no Irajá, como a Greta Garbo da maior comédia de sucesso no Brasil dos anos 1980. Aos fatos. Largamente utilizado como ferramenta de cooptação de eleitores pela maioria dos políticos contemporâneos, o marketing – e os marqueteiros cada vez mais, ainda, endinheirados – já não é tão bem visto assim por uma população desconfiada de suas artimanhas e discursos vazios.
 
Ou vocês, amigos leitores, ainda creem na existência de alguém, com razoável quantidade de neurônios funcionando na cabeça, que leve a sério as promessas dos candidatos a cargos públicos, ou em propagandas de governos, apesar da enxurrada de reclames que somos obrigados a engolir diariamente por meio das mídias? Querem uma prova da pertinência das observações acima? É simples. Basta lembrar as inúmeras palavras de ordem que uniram – e unem – milhões de brasileiros, que desde junho deste ano protestam nas ruas em manifestações que exigem padrão FIFA para matérias como educação e saúde públicas, habitação, segurança e mobilidade urbana. E não é só pelos 20 centavos que eles lutam, é por mudanças mesmo.
 
Quem pensa que é só o marketing político que está perdendo a credibilidade por tentar substituir o debate sério, o comprometimento dos gestores com a causa republicana e o embate democrático de ideias entre as correntes em disputa na arena pública, está muito enganado. A lata do lixo também está se transformando no destino do chamado marketing comercial. É que, como os políticos, uma significativa parte das empresas que integram o mercado brasileiro tem feito de tudo para destruir a sua reputação junto ao seu amado público, quer dizer, seus clientes. E não são apenas as empresas de telefonia e os bancos – campeões de reclamações dos Procons e nas páginas de direito do consumidor dos jornais.
 
O não entregar o que vende é generalizado no Brasil. E, verdade seja dita, a criatividade para promover a enganação tem sido infinita. É o que mostra a página dedicada ao “Direito ao Consumidor” de O Globo, edição de domingo, 17 de novembro, sob o título “Querido, encolheram as embalagens!”. Segundo a autora da matéria, Daniela Costa, “consumidores que vão ao supermercado com frequência e são fiéis a determinadas marcas têm a sensação de que produtos estão encolhendo, enquanto os preços permanecem os mesmos. Refrigerantes, achocolatados, biscoitos e sorvetes, são alguns dos alimentos e bebidas que surpreenderam nos últimos anos, ao terem o peso ou a quantidade diminuídos pelos fabricantes.” Detalhe: apesar de legal, redução do peso deve ser comunicada com destaque, mas empresas descumprem a regra.
 
É o que os especialistas em direito ao consumidor chamam de “maquiagem do produto” ou “aumento de preços disfarçados”, praticados por gigantes do mercado como a Unilever, dona da marca de sorvetes Kibon que, de acordo com a Secretaria de Proteção e Defesa do Consumidor do Rio de Janeiro, Cidinha Campos, tem 15 dias para apresentar uma justificativa ao órgão para escapar de ser multada em até R$ 6 milhões; ou a refrigerantes Minas Gerais, produtora da Coca-Cola que, em maio deste ano foi condenada a pagar multa de R$ 460 mil por reduzir o volume de refrigerantes de 600 ml para 500 ml sem informar adequadamente os consumidores.
 
“É muita má fé”, reclama o consumidor Eliton Rosa, que queixou-se ao O Globo da aveia e do achocolatado preferidos pela família, das marcas Quaker e Ovomaltine, que diminuíram seus produtos de 250g para 200g, o primeiro, e de 400g para 300g, o segundo, mantendo os mesmo preços. “Me sinto enganado e de mãos atadas diante desta prática usada pela indústria para manter o lucro e mascarar a inflação, principalmente com os produtos alimentícios usados por crianças e idosos como farinhas, leite em pó e cereais”,  desabafou o consumidor ao jornal carioca.
 

O onírico e delirante presidente Maduro, do Venezuela, substituto do falecido Hugo Chaves – com quem se comunica até hoje – na empreitada de implantar o tal socialismo do Século XXI na América Latina, desrespeitando empresas e prendendo empresários, não faria melhor contra a reputação da iniciativa privada na região. A brilhante, valente e laboriosa colônia italiana que fez de São Paulo a locomotiva do Brasil sofre até hoje por causa da “esperteza” de meia dúzia de comerciantes conterrâneos que no início do século pesavam suas mãos nas balanças que “pesavam” os produtos que vendiam nas feiras e mercados, transformando um quilo em meio quilo e por aí afora. No que foram impiedosamente punidos pelos paulistanos que os apelidaram de carcamanos. Alcunha que ainda hoje, faz tremer de ódio até o mais novo descendente italiano que mora em São Paulo. Como se vê, com reputação não se brinca. Ela significa os valores, a alma e o DNA de uma organização. As empresas, e os marqueteiros, deveriam por sentido no assunto. A população está de olho. Cada vez mais crítica. O povo não é bobo. 


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