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COLUNAS


Francisco Viana
viana@hermescomunicacao.com.br

Jornalista, Doutor em Filosofia Política (PUC-SP) e consultor de empresas.

 

Dilma, 100 dias

              Publicado em 22/04/2015

Sim, passaram-se mais de cem dias do Governo Dilma Rousseff. A economia continua claudicante, sem rumo certo, mas politicamente houve avanços. O primeiro, e certamente o mais importante, foi a decisão da presidente, claramente anunciada, de que a liberdade de expressão e de imprensa é soberana. Isto significa que a mídia terá terreno livre para a crítica, mas responderá junto à sociedade pelos seus erros e exageros. O leitor tornou-se o verdadeiro juiz. E não se pode esquecer, trata-se de um juiz implacável. Foi um grande acerto, embora tenha passado quase desapercebido.

Em paralelo, houve ainda dois acontecimentos marcantes. Um foi a decisão do governo de deixar que as passeatas se esvaziassem pelas suas próprias contradições, em especial as brigas pela liderança. O objetivo de derrubar o governo revelou-se fora do lugar e, de repente, as mobilizações  foram reduzidas ao que realmente eram: passeios dominicais, sem alvo mobilizador, nem lideranças consistentes. Lamentável, pois uma oposição com bandeiras reais se faz necessário, inclusive para que o governo e os partidos se movimente.

Ao mesmo tempo, o governo também vem lançando pontes na direção dos seus aliados e opositores. E, apesar das derrotas no Congresso, parece estar arrefecendo os ânimos e afastando o risco de crises mais contundentes. Espera-se avanços na comunicação e decisões firmes no rumo do enfrentamento das questões sociais. Se diluídas, é certo que o governo conseguirá se consolidar e avançar para novos patamares de estabilidade. E confiança.

Um fato, porém, parece inescapável.  Não pode haver política econômica sem a abolição da exclusão. E não pode haver essa mudança sem que o pais reúna todas as suas forças criativas. É um anacronismo querer que a esquerda e os marxistas sejam excluídos do processo. A expressão livre do pensamento de esquerda é uma conquista da Revolução Francesa que o Brasil procurou excluir por mais de meio século e que agora renasçe e tende a ganhar forma.

A esse pensamento soma-se o próprio PT. O partido, assim como o liberalismo e o conservadorismo, nas suas diferentes matizes, fazem parte do cotidiano brasileiro. Não há como desprezá-lo ou eliminá-lo como pretende fazer o conservadorismo retrógrado ao defender o impeachement da presidente Dilma Rousseff. O alvo não é o suposto crime de responsabilidade, seja com relação ao escândalo da Petrobras ou a alegados crimes fiscais. O alvo é a esquerda. Em nome de uma democracia de elite, se deseja banir de cena o pensamento crítico, como se isso fosse possível.

A tentativa em tornar uma eleição legítima em ilegítima tem essa nuança oculta. O que se esquece nessa manobra desesperada - e ingênua - é que o Brasil não é uma " república de bananas"  ou uma " republiqueta" , como se diria no surrado jargão político, mas uma nação com pretensões hegemônicas.

Em 1964, com o golpe militar-civil a principal vítima foi a democracia. A geração da presidente Dilma Rousseff não acreditava na democracia, com razão. Quando os problemas se agravara, optou-se pela força das armas, não para a força de argumentos democráticos. E os resultados estão ai: além da tortura, mortes, corrupção, estagnação, uma cultura em frangalhos a exigir rápida recriação.

Agora, a questão é a retomada dos caminhos da liberdade. A novidade é que a democracia, como símbolo do igualitarismo se afirma e o pensamento conservador, dentro e fora do pais está isolado. Mas não é só. Haverá necessidade de um novo pacto político para que a sociedade se torne mais solidária, mais igual e livre, sem retrocessos. É imperativo avançar e envolver o pais numa mesmo corrente de progresso e desenvolvimento. Nada disso acontecerá sem reformas. Que ninguém duvide.

O desafio que se impõe ao Governo é a renovação. Na prática, precisa acordar para a realidade de uma cultura escravista que se revela resistente. Contra ela, de imediato só existe um remédio: eficiência em todas as frentes. Isso exige forte aliança com o setor privado que empunhe a bandeira do progresso, além de punição severa, doa em quem doer, à corrupção. Não importa que sejam estrelas petistas ou não, desrespeitou a coisa pública precisa ser afastado, investigado é, se for o caso, punido sem clemência.

Fora disso é deixar-se guiar pela ilusão. Mais cem dias nos esperam. A expectativa é que a vida se torne mais amena e que o governo volte a inspirar legítima confiança.


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