A crise da comunicação
Faz tempo. O tema pegava fogo nos corredores do curso de Comunicação da UFMG em 1973, no auge da ditadura. E só perdia em intensidade para os debates que nos envolviam a todos na luta pela democracia. O curso dividia-se em três habilitações: Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas. E o pau quebrava entre os futuros jornalistas, publicitários e relações públicas.
Por quê? Jornalistas não se davam com os publicitários, e muito menos com os RPs, por achá-los politicamente alienados (e eram mesmo, em sua maioria), tecnicistas e borra botas de empresários e de governos. Eles, por sua vez, chamavam os jornalistas de esquerda festiva e donos da verdade, entre outros xingamentos.
O debate não acabou quando comecei a trabalhar em jornal e depois como professor de jornalismo na PUC-MG. A luta diária pela informação naqueles tempos bicudos tornava os jornalistas ainda mais intransigentes com os publicitários e principalmente com o pessoal de relações públicas. A birra contra os publicitários era porque, além de ganharem muito mais do que os repórteres, pintavam de cor de rosa um Brasil miserável, movido a arrocho salarial dos trabalhadores, censura política, repressão policial e tortura como práticas do poder.
Mas a antipatia era contra os RPs. Simplesmente porque, depois da censura, eles eram as principais barreiras ao trabalho do jornalista. Que iam dos inúmeros dos releases (a maioria inúteis, mentirosos e mal escritos) que invadiam as redações diariamente, passavam pelas dificuldades que os assessores de imprensa criavam para evitar o contato dos repórteres com as fontes e culminando com as pressões contra os jornais para demitir os jornalistas ”inconvenientes”.
A ditadura derreteu-se, o país virou uma democracia, controlou a hiperinflação, estabilizou a moeda. Com isso, as relações entre profissionais da mídia e as assessorias de comunicação tornaram-se mais civilizadas e profissionais, apesar dos naturais conflitos entre as partes. O relacionamento jornalistas X fontes é sempre difíceil. O bom jornalista busca a informação que interessa à sociedade (a verdade). A fonte, na maioria das vezes, desejar esconder os fatos e aproveitar-se da ocasião para fazer seu “comercial” – se for político, então...
As coisas funcionavam razoavelmente até que os atuais donos do poder chegaram ao paraíso. E aí tudo ficou da ordem, como nos tempos do militares. Além da tentativa de reedição da censura política por meio do “controle social da mídia”, instalou-se nas assessorias dos ministérios, autarquias e empresas estatais, o reinado dos políticos, sindicalistas e militantes do partido hegemônico. Mais ainda: entronizou-se no centro do poder o marqueteiro como o dono da voz, dos discursos, das narrativas. Nesse novo ambiente a imprensa crítica virou Partido da Imprensa Golpista (PIG), a oposição taxada de inimiga do povo e o pensamento dissonante virou coxinha.
No mundo privado a coisa encaminhou-se para o mesmo sentido. As empreiteiras e demais empresas dependentes do governo, envolvidas em escândalos ou não, abdicaram de fazer comunicação social transparente e aberta ao diálogo com os seus públicos de relacionamento. Respeitar os consumidores e enfrentar a concorrência com competência e ética cedeu lugar ao lobby sujo das propinas, arranjos e tenebrosas transações. E a comunicação tornou-se o ambiente ideal para mistificadores e dos “comunicadores de narrativas a favor”. Para além dos prejuízos financeiros da Petrobras e das empreiteiras envolvidas com a operação Lava-jato, a perda do valor de marca e de reputação dessas companhias é incalculável.
Mas esta não é uma questão que preocupa os assessores de comunicação e marqueteiros instalados no poder. Sua estratégia e repetir conselho do ministro da propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, para quem uma mentira contada mil vezes torna-se verdade. E tome comerciais de governo e das estatais na mídia a dar com o pau, apesar dos cada vez mais baixos índices de popularidade do governo, e do emagrecimento crescente da credibilidade das empresas junto à população.
Pior, boa parte das assessorias retomou as antigas práticas dos militares de maneira ampliada: cerceamento da informação, notas oficiais para “responder” às matérias que não lhes agradam, blogueiros pagos para divulgar narrativas de interesse partidário, ameaça à integridade física dos jornalistas “de oposição”, entre outras. Nessa briga entre assessores e jornalistas, quem perde é a comunicação séria.
Mas como tudo neste mundo tem jeito, da crise econômica e política do país, virá também a solução para a crise da comunicação. Que a solução venha logo, antes que jornalistas e relações públicas voltem se engalfinhar como nos tempos nos tempos da ditadura.
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