Múltiplas vozes e o valor da escuta
Há cerca de vinte anos, participei de um projeto que era comunicar a instalação de um novíssimo mecanismo de controle ambiental numa usina siderúrgica. A partir dessa inovação, a planta industrial deixaria de expelir uma fumaça avermelhada, resultado do processamento do aço, e nada além de vapor de água poderia ser visto pela comunidade. Nessa época, ouvi uma frase que, de maneira recorrente, me lembro: “antigamente, a chegada de fumaça a uma cidade era sinal de progresso; hoje, de atraso”.
Mais de duas décadas me separam desse projeto, que, para mim, foi um primeiro grande sinal de novos tempos na relação entre empresas e comunidade. Isso porque a expectativa das pessoas em relação às empresas, à sua forma de gestão – inclusive de impactos e de relacionamentos – mudou drasticamente.
O argumento (por muitos anos aceito) de que, em nome do progresso e da geração de emprego/renda as empresas poderiam exercer suas atividades e expandir seu campo de atuação sem cuidar muito dos efeitos gerados no meio ambiente (e nas relações sociais, culturais e simbólicas) está definitivamente fora do jogo.
Neste contexto, as organizações se veem diante da necessidade de desenvolver plataformas de escuta, diálogo e relacionamento mais profissionais e, ao mesmo tempo, mais humanas. Num mundo onde há cada vez mais múltiplas vozes e pontos de vista, escutar nunca foi tão importante.
Assim, à comunicação das empresas vai caber cada vez mais influenciar do que enviar mensagens; mais estar junto do que liderar; muito mais fazer com, do que fazer por ou para. E essa é uma regra que vale tanto para dentro quanto para fora dos muros das empresas (aliás, onde está esse muro?), mudando radicalmente o nosso desafio como comunicadores.
Na cacofonia de ideias e sentimentos que se manifesta nas interações das pessoas com empresas, como poderemos ajudar nossos líderes a identificar o que de fato será mais relevante – para as pessoas e para as organizações? Mediar relações e ser portadores de vozes são habilidades que certamente definirão o sucesso de qualquer estratégia de comunicação. Mas nosso papel de desenvolver líderes capazes de cada vez mais entender o contexto e as expectativas das pessoas, será a grande contribuição que poderemos oferecer no nosso exercício profissional. Precisaremos ter, cada vez mais, a consciência de que lideramos processos institucionais, mas, sobretudo humanos.
Os textos que aqui publico não podem ser compreendidos como posicionamento da C&A.
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