O QUE NOS UNE e o que nos separa
Tenho assistido com bastante preocupação esse interminável Fla X Flu em que nos atiramos desde a campanha eleitoral para presidente em 2014, visivelmente agravado pelas manifestações de rua e pelo aumento do nível de ódio e intolerância observado nos comentários das redes sociais. Escrevi “tenho assistido” quando, na verdade, o que ocorre é que tenho efetivamente participado dessa guerra entre lados, dando minha contribuição para o acirramento da separação. Faço isso quando expresso meu ponto de vista sem me preocupar com o impacto que ele terá sobre o outro que pensa diferente de mim. “Vivo num país livre, sou livre, portanto, para expressar o que penso quando e onde quiser – tudo dentro da lei, é claro!” É isso o que falo para mim quando faço um comentário ou posto uma imagem em alguma rede social. E é esse mesmo mantra que costumo repetir quando percebo que o que postei, eventualmente, causou alguma dor ou desconforto em outra pessoa. Exceto quando não.
Meu pai, uma pessoa extremamente pacata a maior parte do tempo, se transforma em um crítico feroz e combatente ao menor sinal de injustiça. Em outras ocasiões, derrete-se feito manteiga, solidarizando-se com a dor alheia. Não sei se por algum defeito de fabricação, mas o fato é que vejo em mim essas duas características aparentemente antagônicas hiperdesenvolvidas. Sou capaz de chorar em desenho animado e me jogar na frente de um trem para defender meus ideais. Isso resulta numa mistura complexa e em doses cavalares de paixão e compaixão. E se a paixão tem me levado a agravar o “ladismo”, a compaixão me coloca frequentemente no lugar do outro, provocando uma identificação tão forte que, como um guerreiro que cansou de lutar, abaixo minhas armas e não consigo mais me ver entre inimigos. Tudo aquilo que nos separa, de repente, fica tão pequeno, mas tão pequeno, que o único desejo que resta é de abraçar o outro, esse outro ser humano que, como eu, também nasceu, como descreve o biólogo chileno Humberto Maturana, um Homo Sapiens Amans. Como eu, portanto, ele ou ela também tem gravado em cada célula de seu corpo essa capacidade de respeitar e aceitar o outro como um legítimo outro, legítimo em sua corporeidade, legítimo em seus valores e crenças, legítimo em suas necessidades e desejos, legítimo em suas perfeições e imperfeições. E quando me descubro nesse espaço, percebo infinitas possiblidades para construirmos algo realmente importante juntos, algo muito mais poderoso do que eu achava estar construindo sozinho com minhas paixões.
Faço um convite a você que se sentiu chamado ou chamada pelo título deste texto a também refletir sobre o que o ou a une a esse outro de quem, neste momento, você se sente separado ou separada. Aposto que você irá se surpreender com o quão parecido esse outro é com você.
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