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Marcos Ernesto Rogatto
marcos@vistamultimidia.com.br

Jornalista e Mestre em Multimeios pela Unicamp. Trabalhou na TV Manchete, Revista Veja e TV Globo São Paulo. Foi diretor de Comunicação da Prefeitura de Campinas e colaborador da Gazeta Mercantil. Há 25 anos trabalha com vídeos e multimídias corporativas. Atualmente é Diretor da produtora Vista Multimídia e participa do Grupo de Estudos de Novas Narrativas/GENN.

Empresas gigantes e seus problemas extraordinários

              Publicado em 17/03/2015

Dois gigantes mundiais enfrentam dias difíceis, envolvidos em questões éticas, sociais e econômicas. Os problemas têm grande potencial de abalo da imagem e as soluções não se encontram em seus manuais de gerenciamento de crises.

O HSBC, gigante financeiro inglês, teve o ex-funcionário Hervé Falcioni por trás do maior vazamento de dados na história dos bancos. O esquema revelado por ele mostrou que, entre 2005 e 2007, centenas de bilhões de euros transitaram em contas secretas de empresários, políticos, estrelas do showbizz, bem como traficantes de drogas e armas e suspeitos de ligações com atividades terroristas.

Dados apontam que 100 mil contas bancárias ilegais movimentaram mais de US$ 100 bilhões no HSBC da Suíça. O que se denominou de SwissLeaks teve repercussão global. O Ministério Público daquele país abriu investigação penal por lavagem de dinheiro, enquanto a instituição bancária admitia ter feito "vista grossa" a um escândalo de fraude fiscal. O jornalista Peter Oborne, do Daily Telegraph, pediu demissão, acusando o jornal britânico de ter censurado vários episódios que continham informações tenebrosas sobre o HSBC, “com o objetivo de manter esse importante anunciante”. O banco várias vezes apareceu como a marca mais valiosa do mundo financeiro pela pesquisa Brand Finance Global Banking. Já no Brasil, ele ocupa o segundo lugar entre as instituições bancárias por índice de reclamações procedentes, segundo dados do Banco Central.

A Receita Federal do Brasil adotou medidas de cooperação internacional para investigar os contribuintes daqui, com contas na subsidiária suíça do banco. Nosso país aparece em nono lugar, com US$ 7 bilhões de depósitos entre 2005 e 2007. A lista, fornecida por autoridades europeias à unidade de inteligência da Receita, contém os nomes das 342 pessoas que utilizaram artifícios para manter dinheiro não declarado.

No Brasil, também foi um ex-funcionário quem trouxe informações que viraram escândalo. Coube a Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás, ser arquivo vivo e detentor dos segredos. Graças ao acordo de delação premiada e às prisões da operação Lava Jato, veio à tona o esquema de desvio e lavagem de dinheiro da estatal.

Executivos da gigante do petróleo se uniram com outros grandes da construção civil e aos políticos de sempre. Segundo estimativa do banco americano Morgan Stanley, R$ 21 bilhões foram desviados da Petrobras durante os anos de governo petista. Essa confluência trouxe malefícios éticos, econômicos e sociais de difícil reparação. E não é somente o patrimônio físico e o grau de investimento que se dilapida, é a imagem tão competentemente construída por profissionais de Estratégia, Marketing Comunicação.

Lá fora, a estatal está sendo processada por acionistas e detentores de seus títulos no Tribunal Distrital de Nova York. É investigada pela Securities Exchange Comission e pelo Departamento de Justiça dos EUA. Para evitar multas pesadas e a responsabilização de seus executivos, a empresa terá de provar que foi "vítima" e não conivente com o esquema de corrupção.

Não foi só a Petrobras que perdeu grau de investimento. Os escândalos estão afetando a nota de crédito de várias empresas brasileiras. Nos dois primeiros meses deste ano, 27 companhias tiveram seus ratings rebaixados no país e nenhuma delas subiu.

No blog do jornalista Lauro Jardim, ele aponta que do dia 27 de setembro de 2010 - data em que a Petrobras promoveu sua capitalização de R$ 120 bilhões na Bovespa – até final de fevereiro desse ano, a ExxonMobil cresceu 22,7%; a Shell cresceu 13,7% e a Chevron valorizou 27,5%. Já a Petrobras perdeu 85,2% do seu valor de mercado.

E o que parecia ter chegado ao fundo do poço, ficou pior, com a nomeação do ex-presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, para a presidência da Petrobras. O nome foi mal recebido por analistas do setor e pelos mercados. Com isso, as ações da estatal caíram mais de 7%, após sua indicação "vazar" para a imprensa. O mercado o considera obediente demais, o 'mais do mesmo', e não o CEO que a companhia necessitaria nesse grave momento de sua trajetória. Somado a isso, pesam acusações de que Bendine, na época em que presidiu o banco, deu carona em voo oficial do BB para Buenos Aires à estrela do reality Mulheres Ricas, Val Marchiori e a dois amigos.

Tempos depois, a socialite Val obteve empréstimo de R$ 2,7 milhões do Banco do Brasil para a sua empresa. A operação, segundo a imprensa, contrariou as normas internas do banco. Mais recentemente, o Estadão noticiou o patrocínio do BB ao programa Amaury Jr., durante o período em que a socialite teve um quadro dentro do programa de colunismo social eletrônico. Competência e credibilidade são fundamentais a qualquer presidente de empresa. Ainda mais em uma empresa gigante, mergulhada em problemas de gestão e escândalos de corrupção.

Quando realizei trabalhos para algumas dessas grandes companhias, fiquei admirado com o rigor do Edital e do processo licitatório. Na prestação dos serviços me deparei com rígidas normas de segurança, atestados, comprovações e regulamentos para a equipe de trabalho. Depois, novas comprovações, medições e avaliações. Só depois de tudo nos trinques, trinta dias depois, o recebimento. O processo levava a crer que havia uma invejável governança corporativa.

Em diferentes eventos, já ouvimos discursos, assistimos a vídeos e vimos PPTs, em que gestores dessas grandes companhias nos mostravam seus cases exitosos em Governança, Responsabilidade Social, Ética e Transparência. Comunicavam muito bem os seus feitos, apesar de atuarem como no ditado que diz “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.

Faziam grandes esforços para serem empresas ”melhores para trabalhar”, mas hoje, as investigações constrangem seus funcionários. Admiração vira indignação. Matéria da Folha de S. Paulo, em 30/11/14, noticiou que, agora na Petrobras, trabalhadores de diferentes escalões, quando passam na catraca do edifício sede no Rio de Janeiro, logo procuram guardar o crachá no bolso antes de saírem na rua.

Em caminhos como esses e em tempos de SwissLeaks e Petrolão, não tem Plano de Comunicação que dê conta do recado. Imagino o estresse dos colegas de Imprensa e Comunicação dessas grandes companhias. Quando o circo pega fogo, só um grande trabalho de rescaldo e um bom tempo poderão mitigar os enormes estragos. E, em breve, haverá mais fogo para se apagar em outras estatais e empreiteiras. Com isso, virou realmente sonho o grandioso polo petroquímico mundial, a quarta maior companhia do mundo ocidental e os enormes estaleiros produzindo a todo vapor.

O núcleo duro do Planalto dava como certo que as manifestações do dia 15 de março deveriam atrair muitos descontentes. Mas não imaginavam que quase dois milhões de pessoas iriam aos protestos. Entre elas, especialmente os jovens, mais indignados com a corrupção desenfreada e a parca perspectiva de futuro. Me lembrou a música Terra de Gigantes, do Engenheiros do Havaii.

 

... “as revoltas, as conquistas da juventude são heranças. 

São motivos pras mudanças de atitude.

A cara limpa, a roupa suja, esperando que o tempo mude.

Nessa terra de gigantes, tudo isso já foi dito antes”.


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