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COLUNAS


Francisco Viana
viana@hermescomunicacao.com.br

Jornalista, Doutor em Filosofia Política (PUC-SP) e consultor de empresas.

 

O ódio não constrói

              Publicado em 12/03/2015

A tese do economista Luiz Carlos Bresser Pereira, que foi ministro dos governos José Sarney e Fernando Henrique Cardoso, é perfeita: há ódio político contra o PT. Ele falou sobre o tema em entrevista à Folha de S.Paulo domingo, 8, ao discutir o seu novo livro, A Construção Política do Brasil, agora nas livrarias. Trata do candente tema dos pactos políticos, de 1930 para cá, e do fracasso do pacto que o PT tentou articular, mas que não deu certo porque o crescimento econômico não aconteceu. Mas o que merece destaque na entrevista é o fato de Bresser ter tocado no nervo sensível do “espírito golpista dos ricos”, este “estranho fenômeno” que surge não do medo de alguma coisa, mas do “ódio coletivo da classe alta, dos ricos, contra um partido e uma presidente”.

Refinada a visão de Bresser. Olha-se as mídias sociais e o que se vê é exatamente isto: ódio. Não dos ricos, mas de representantes de uma classe média raivosa, irracional. Evidentemente, o que não faltam ao Brasil são problemas. Mas uma coisa é criticar este ou aquele governo, este ou aquele partido, mergulhar fundo no momento em que o País vive e buscar soluções. Outra, radicalmente diversa, é desejar fazer a Constituição em pedaços e derrubar um Governo legitimamente eleito. Esse é o fato que os comunicadores precisam ver, analisar e rechaçar sempre que o ódio e as versões manipuladoras superarem os fatos. Essa é a beleza da contribuição de Bresser a esse particular momento da vida brasileira.

O  que fazer? Um caminho é utilizar a energia para dizer não, na prática, à corrupção que grassa em todo o tecido social e precisa ser superada. Ou protestar democraticamente contra atitudes que sejam consideradas abusivas, a exemplo dos problemas ligadas à água, energia, impostos e infraestrutura. Alinhar-se a campanhas pelo impeachment de presidente ou defender que o regime democrático ceda lugar à ditadura é mera inconsequência.

Em 1964, os americanos, em nome do combate ao comunismo, apoiaram o golpe militar. Hoje virariam as costas aos golpistas. O mundo mudou, o Brasil mudou, a liberdade tem se tornado valor universal. Como as tristes figuras dos golpistas ficariam? Terminariam presas, execradas pela opinião pública internacional. O Brasil não é uma república de bananas. É uma grande democracia de massas.

Golpes são caminhos fora do lugar. Não são alternativas sérias. O que o País precisa é de ampla reforma jurídica e política e que, em consequência, a comunicação seja colocada a favor da sociedade e não para dividi-la ou manipula- la. Em lugar do ódio, a convergência precisa torna-se prioritária. Como são prioritários os ajustes econômicos, o combate público à corrupção e a mudança de valores sociais. Isso inclui o marketing político, que não deve ser a arte de enganar e iludir, mas o caminho para tornar visíveis qualidades.

O Brasil passou meio século vendo comunismo em qualquer tema de cunho social. Foi um erro crasso. Pessoas foram presas, torturadas, mortas. Essa é uma crítica que o Estado e a sociedade precisa fazer. A história não pode se repetir. Não se pode mais viver à beira do delírio. Os graves problemas sociais estão diante dos olhos de todos à espera de soluções. O comunismo perdeu força e magnetismo. Tornou-se uma ideia que precisa ser revista. A igualdade social, ao contrário, se afirma. É esse o caminho brasileiro. Ser uma nação forte e moderna.

Bresser condena o ódio e valoriza que a luta conterá a pobreza. Valoriza o papel que a burguesia tem a desempenhar. Seria, na essência, o resgate dos ideais da Revolução Francesa. Abraçar a igualdade é o desafio. Não se ergue democracia com ódio. O ódio conduz à irracionalidade, às trevas, nunca ao Iluminismo. O que constrói a democracia é, sim, a lucidez, a tolerância, a generosidade e boa consciência, o não egoísmo. Ficam as lições da atualíssima entrevista de Bresser Pereira. Como guia para reflexão e, sobretudo, para a ação. 


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