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Francisco Viana
viana@hermescomunicacao.com.br

Jornalista, Doutor em Filosofia Política (PUC-SP) e consultor de empresas.

 

Modelo de porta-voz ou porta- voz modelo?

              Publicado em 01/11/2013
“Por que devo ser desagradável se posso simplesmente ser agradável”. Quem pensa assim, e precisa ser ouvido, é o tenista Roger Federar – ele dispensa apresentações -, um exemplo universal de relacionamento de qualidade com a mídia. Tranquilo, elegante, determinado a repetir respostas, não tem medo de falar com jornalistas, é considerado acima de qualquer provocação. É muito social, não quer provar nada para ninguém e parece dizer sempre: “O coração de um tolo está na boca, a boca de um sábio está no coração”.
  
Um modelo a ser seguido? No Brasil, o tema do porta-voz passa a ser candente por força das mudanças que o país está começando a exigir. O porta-voz pode não ser um modelo de precisão, mas pode ser modelo de credibilidade e simpatia. Como? A precisão é sempre um dilema. Como a verdade está sempre nos bastidores, a pergunta recorrente é: o porta-voz fala a verdade? E em falando, a quem interessa a verdade da qual ele fala?
 
Não são questões simples. Mas, independente da profundidade da resposta, desde que não minta,  a conquista da credibilidade não é difícil. O porta-voz pode se limitar ao respeito aos fatos e contextos, sem necessariamente precisar iluminar os bastidores. É como faz Federar. O tênis exige: força, coragem, habilidade, liderança e, sobretudo, frieza para enfrentar situações de crise ou de derrotas. Nada muito diversos da vida de um político ou de um empresário. Nada muito diferente da vida de um dirigente de uma entidade médica ou de um representante de classe.
 
Pode mudar a forma de agir, mas o paradigma de exigência e comportamento não muda. Nesse particular, a regra geral é não brigar com a realidade, nem tentar ideologizar as respostas. Fatos são fatos e não adianta bater de frente com eles. Como a tendência a negar a realidade é fortíssima, fugir dos fatos é igualmente tentador. Parece fácil, não é.
 
Ser agradável torna-se, por fim, o papel mais fácil do porta-voz exercer. Por quê?  É o único comportamento, a bem da verdade, que depende dele exclusivamente. No mais, vai predominar a vontade e as linhas estratégicas da organização ou pessoas que estão por trás do porta-voz.  Por teoria e tradição, o porta-voz é o mensageiro. Ele representa um sistema de poder. Por isso, geralmente não fala o que deseja ou o que pensa, mas o que lhe é determinado. Pode ter traumas de consciência, sentir-se eticamente frágil ou ter uma visão radicalmente oposta do que fala em público. A regra é clara: ou ela veste a camisa ou não veste. Não há meio porta-voz.
 
A simpatia, ao contrário, depende de sua atitude. E por que não? É mais uma questão de psicanálise da comunicação do que uma questão de atitude política. Há porta-vozes que primam pela antipatia, como se a antipatia rendesse dividendos à sua imagem ou reputação. A chave, portanto, é se tornar consciente de uma necessidade ainda inconsciente: o porta-voz é uma exigência da democracia. E, acima de tudo, vivemos uma sociedade plural.
 
A sociedade exige informações. E ser simpático não é apenas sorrir, tratar bem os jornalistas, ser atencioso. É ter vasta formação humanística, estar atento ao lado humano dos fatos e, sobretudo, ter boa formação. Exprimir posições com firmeza, mas não abrir mão, em hipótese alguma, da elegância e do respeito. Daí a construção de um porta-voz ser o desafio de toda uma vida. Exigir crítica e autocrítica, mesmo nas melhores atitudes públicas.
 

Se há boa formação, haverá credibilidade. E o respeito aos fatos e contextos surgirá naturalmente. Como surgirão, também naturalmente, a rejeição à cultura da arrogância e do improviso. 


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