Parece óbvio. E é mesmo. Só se comunica de verdade quem está disposto a fazê-lo de verdade. Mas será que isso é assim mesmo, tão óbvio? Óbvio pode parecer, mas não é fácil. Como a palavra amar, comunicar não é verbo intransitivo. Como o verbo amar, comunicar é transitivo direto, indireto, indireto e direto ao mesmo tempo. Comunicar e amar são palavras que dependem umbilicalmente de complemento. No texto e na vida. Assim como o amar depende do outro, do outro também depende o comunicar. Que fique bem claro: os poetas estão errados. O amor não nos chega sorrateiro como a cigana que nos engana com encantos e feitiços para nos furtar o coração. Amor e mentira não combinam. Essa liga fica por conta da paixão, do tesão. Que passam logo e, muitas vezes, deixam dor, frustração, embora nos proporcionem momentos bons. Amor dá trabalho. Amor é um processo. Que deve ser urdido continuamente como a aranha tece a teia. A aranha, dizia João do Vale, vive do que tece. O amor é uma construção que se faz com o outro. É compartilhamento. É relacionamento. Implica aceitação e superação dos conflitos que surgem entre os diferentes. Seres humanos são diferentes.

 O mesmo se dá com a comunicação. Embora o tempo presente seja o de quem mente (demente), devemos ter em mente que o verdadeiro comunicar é diferente. Porque é um ato que exige vontade, disposição, abertura para se relacionar com o outro, desprendimento... Algo assim: “você me abre os seus braços / e a gente faz um país”, como canta Marina Lima, em Fullgas. Não se faz um país – e tampouco relacionamentos – sem braços abertos. Mais que isso: braços, ouvidos, coração, espírito, olhos e mente abertos são atributos essenciais para percorrer a travessia que poderá nos levar ao outro. Esse é o ponto, ensina Guimarães Rosa em Grande Sertões: Veredas: “Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.” Travessia também é ponte, é caminho, estrada, via de mão-dupla. Associada à comunicação, significa troca de emoções, sentimentos, afetos, impressões, objetivos, conhecimentos e informações.

Criar pontes deve ser o primeiro movimento dos líderes, esses desejos de estabelecer relações de comunicação com seus públicos de relacionamento. Como? Demonstrando, na prática, que estão decididos a dialogar abertamente sobre qualquer assunto, em qualquer situação. Voltando ao início da nossa conversa, significa demonstrar que querem comunicar mesmo, mostrando-se permanentemente prontos para dialogar. O diálogo passa a fazer parte do DNA da organização de maneira institucionalizada, com hora marcada com as equipes e tudo mais. Querer comunicar seriamente para o líder verdadeiro é estar claramente determinado a fazer com que todos os integrantes da organização conheçam, apoiem, critiquem e pratiquem a estratégia e os objetivos da companhia, sejam eles estratégicos, institucionais, táticos ou operacionais.

Três dicas de como fazer

1 – Crie reuniões de comunicação regulares com os públicos de relacionamento para tratar dos assuntos de interesses das partes. Abrir espaços de comunicação em todas as reuniões estratégicas da empresa para discutir a comunicação das decisões e demais temas importantes de interesse dos empregados.

2 – Defina, claramente, os objetivos que a empresa pretende atingir: lucro, aumento de participação no mercado, produtividade, produção, redução de custos e despesas, melhoria da qualidade de produto e de atendimento, reputação da marca, sustentabilidade, participação nos lucros e nos resultados, etc.

3 - Trabalhe a comunicação tendo como premissa que a eficiência e a eficácia do processo dependem da conciliação dos objetivos da organização com os dos empregados e demais pessoas que integram ou dependem da empresa.

P.S. - Você pode aprofundar mais no tema lendo o livro O Gerente Comunicador – Um Guia Prático da Comunicação Gerais, da coleção Grandes Nomes da Aberje. Autor: José Eustáquio de Oliveira.