Busca avançada                              |                                                        |                            linguagem PT EN                      |     cadastre-se  

Itaú

HOME >> ACERVO ON-LINE >> COLUNAS >> COLUNISTAS >> Lidiane Amorim
COLUNAS


Lidiane Amorim


Gerente de Comunicação Corporativa da Rede Marista e docente na área de Comunicação Organizacional. Doutora e Mestre em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS), com estágio doutoral na Universidad Complutense de Madrid (UCM-Espanha). Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Maria (2006), com formação em Comunicação Institucional pela Universidade Austral (Arg). Tem experiência em Comunicação Organizacional e Integrada, tendo atuado em assessorias de comunicação e marketing e também tem passagem em rádio e TV como editora, apresentadora, repórter e produtora. 

É preciso repensar a abordagem geográfica da comunicação

              Publicado em 09/02/2015

As noções de Comunicação Interna e Externa valem para um tempo de territorialidades reconfiguradas, de fronteiras diluidas, diante de novos modos de pensar/fazer comunicação? Na tese de doutorado que acabo de concluir, entre outras reflexões, me propus a (re)pensar a abordagem geográfica que há muito tempo é utilizada para distinguir dimensões da comunicação organizacional e que, a meu ver, já não dão conta dos sentidos e contornos que assumem na realidade.

A exemplo do que ocorreu com a noção de públicos, repensada no final dos anos 90 e início dos anos 2000, diante da não suficiência do critério geográfico diante da complexidade das relações que se estabelecem entre organizações e seus interlocutores, a Comunicação Organizacional também enfrenta o impasse da perspectiva que a classifica a partir da sua atuação interna ou externa, tampouco suficiente para dar conta das dimensões complexas que envolvem a comunicação no universo organizacional.

De certo modo, é natural que tenhamos herdado a abordagem geográfica, uma vez que a gestão e as teorias organizacionais também se pautavam nessa perspectiva. Os lugares e ambientes na Era Pré-Eletrônica eram definidos por suas fronteiras físicas e experienciais e as situações eram determinadas por onde e quando ocorriam (ou não) e por quem estava (ou não) presente. Foi uma perspectiva adequada se considerarmos seu tempo, um momento histórico-social-cultural analógico, de territórios mais estáticos, de fronteiras espaciais e temporais delimitadas e concretas, em alguns níveis até intransponíveis. Período em que se acreditava ser possível exercer certo controle sobre o que ocorria “dentro” e/ou “fora”, e delimitar com mais clareza os limites do que era considerado “interno” ou “externo”.

Contudo, a perspectiva/abordagem geográfica se esvazia num tempo de ubiquidade e onipresença. Espaços ubíquos, hiperconectados, hiperlugares, os múltiplos espaços que nos rodeiam e onde nos encontramos imersos, desafiam os sentidos de localização, permanência e as noções clássicas do que se compreende por interno e externo, na medida em que, num contexto de fronteiras diluídas, já não é possível ‘encerrar’ nessa aparente dualidade geográfica dimensões como públicos e comunicação. Se a ubiquidade e a onipresença marcam nosso tempo, como garantir que os sentidos de um diálogo permaneçam delimitados a um determinado espaço geográfico, se nem mesmo os sujeitos estão neles restritos?

Nessa perspectiva, a expressão comunicação interna pode ser considerada reducionista. A relação estabelecida entre organizações e sujeitos organizacionais não se restringe ao espaço geográfico edificado das organizações, uma vez que os vínculos são tecidos em/por comunicação entre sujeito e organização a todo momento. Além disso, a organização não se configura apenas pelo resultado do que se vive em seu universo “interno”, tampouco é um sistema articulado de partes isoladas – embora o seja algumas vezes – é um todo, complexo, contido (e em relação) em/com outros conjuntos complexos, como o bairro, a cidade, o país, o continente, o planeta.

Se o espaço, segundo Santos (2006), é resultado do conjunto de formas contendo frações da sociedade em movimento, também o espaço organizacional pode ser compreendido como um produto social que carrega frações do contexto social, econômico, político, cultural, histórico do tempo e do lugar em que se encontra. Ao compreender que não há de um lado a espécie do outro os indivíduos, de um lado as organizações do outro a sociedade, conforme defende Morin (2006, 2008), podemos dizer que não há comunicação ‘interna’ ou público ‘interno’ de um lado, e ‘externa’ do outro. Por essa perspectiva, ‘externo’ já não é o oposto de ‘interno’, uma vez que se autoinfluenciam, interferem-se, autoproduzem-se e autoeco-organizam-se.

A organização, enquanto contexto social compartilhado e realidade coconstruída por/em comunicação, extrapola um lócus específico e a materialidade de seus espaços físicos. Suas paredes já não são capazes de clausurar sentidos e significados, porque eles, em última instância, não estão nos ambientes e espaços organizacionais, eles estão e pertencem a nós, e estão em nós, sujeitos, pessoas. As organizações, assim como os lugares, já não estão mais contidos em sua fisicalidade (SANTAELLA, 2010), mas nas humanidades que as compõem.


Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1728

O primeiro portal da Comunicação Empresarial Brasileira - Desde 1996

Sobre a Aberje   |   Cursos   |   Eventos   |   Comitês   |   Prêmio   |   Associe-se    |   Diretoria   |    Fale conosco

Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial ©1967 Todos os direitos reservados.
Rua Amália de Noronha, 151 - 6º andar - São Paulo/SP - (11) 5627-9090