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COLUNAS


Francisco Viana
viana@hermescomunicacao.com.br

Jornalista, Doutor em Filosofia Política (PUC-SP) e consultor de empresas.

 

Atentado contra todos nós

              Publicado em 08/01/2015

Foi um crime bárbaro, chocante e cruel como todos os crimes. Mas esse atentado contra a redação do Charlie Hebdo precisa ser olhado de muito, muito perto. Primeiro porque fere a liberdade de todos de dar boas risadas sobre qualquer tema. Não é por ser um líder político e religioso, por mais expressivo que seja, que não pode ser alvo de uma sátira ou uma ironia. Essa liberdade, mais do que conquista democrática, é da humanidade. Ou alguém imagina algo semelhante ao que acaba de acontecer na civilizada Paris na antiga redação do Pasquim carioca, que ria, às gargalhadas, da ditadura militar?

Em paralelo, é um atentado contra todo e qualquer gênero de jornalismo. O que aconteceu na redação do Hebdo poderia ter acontecido na redação de qualquer grande ou pequeno jornal do planeta. Bastaria que o alvo de uma reportagem ou de uma notícia se sentisse prejudicado e resolvesse agir com incruenta violência. Não? Na realidade, isso já acontece, em especial por parte das máfias. Jornalistas são mortos todos os dias na América Latina, por exemplo, e nada (ou quase nada) acontece com os assassinos. No Brasil tivemos o emblemático caso do jornalista Tim Lopes. Serviu de alerta, mas é preciso ir mais adiante.

Todo e qualquer tipo de fundamentalismo, seja político ou religioso precisa ser veementemente rechaçado. O que está em questão é, ante de tudo, a vida democrática. Atravessamos um momento em que os discursos políticos tradicionais estão ruindo e, com eles, antigas contradições vindo à tona com veemência. Há inegável ascensão de correntes conservadoras, ultraconservadoras mesmo, que almejam fazer das suas verdades a verdade do mundo.

Tais tentativas não deram certo no passado, não darão certo no presente. A novidade é que a sociedade aprendeu. Sabe que nada irá mudar pela violência. No caso brasileiro, basta olhar a Internet e ver o número de pessoas que clamam por golpes de estado, ditaduras, homofobia, racismo, entre outras atitudes barbarias já hegelianamente superadas pela civilização. Agora chega a notícia da barbárie que abala a França e há uma corrida para prender e punir culpados.

É indispensável, mas não suficiente. É preciso ampliar os espaços de civilização, educar a sociedade para a democracia e defender a tolerância. Políticos ou religiosos em países livres que vão contra a lei são criminosos. E matar é crime, ferir a constituição democrática de um país é crime. Corrupção é crime. Caso não fossem, na democracia a justiça não existiria para igualar os homens.

Porém, suas práticas ganham a mídia sempre que há grandes escândalos e desaparece. O Hebdo, como é carinhosamente conhecido, vem sendo alvo de atentados e ameaçado desde que publicou as famosas charges do profeta Maomé. O que fazer? Precisamos ser menos mediáticos e mais práticos nas soluções dos problemas. O fundamentalismo e a violência são novas formas de histeria e, como tal, precisam ser enfrentadas.

Além disso, cada país tem o seu quinhão nesse bolo de fatias envenenadas. Na França, o dilema é o elevado número de muçulmanos; no Brasil, o elevado número de excluídos mais a violência crescente, a impunidades e a polarização política. Daí a necessidade de prevenir, criar cultura de tolerância, sempre pensando na democracia. Por que, de violência, o mundo está cansado. Nada resolve. Apenas comunica o caos. 


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