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COLUNAS


José Eustáquio Oliveira de Souza


Presidente da Editora VEGA Ltda. e membro do conselho da Aberje. Atuou em cargos de destaque na área de comunicação de grandes multinacionais, como o Grupo Gerdau.

Em tempos de mentira, mentiras

              Publicado em 28/11/2014

Imagine a seguinte situação: você é um homem (ou mulher) de governo, ou um executivo que tem a responsabilidade de liderar uma organização qualquer, e é surpreendido pela informação de que alguns de seus funcionários mais graduados foram flagrados pela Polícia Federal, ou pelo Ministério Público, praticando “malfeitos”. Se for no governo, o escândalo vai parar na mídia, vira objeto de Comissão Parlamentar de Inquérito e gera indignação no povo. Se na empresa, além dos prejuízos evidentes para os acionistas, o caso vai parar na Justiça. Qual atitude você tomaria para enfrentar a situação? Calma, companheiro. Antes de responder a pergunta, aconselho-o a esquecer o que os mais simples manuais de comunicação corporativa recomendam e adote a versão Brasil 2014 para a solução de crises. Como? Comece por negar a existência dos fatos (os malfeitos). Se não der certo, acuse a oposição (ou a concorrência) de ter inventado mentiras para prejudicar seu governo, ou sua empresa.

A mídia continua insistindo no assunto? Fique tranquilo. Finja que o assunto não lhe diz respeito, não fale com jornalistas, prepare seus aliados para abafar o assunto numa eventual CPI, ou na reunião do conselho administrativo da empresa. E arrume uma viagem de “negócios” no exterior, se você for empresário. Mas, como você bem sabe, jornalistas são muito chatos, gostam de dar notícias e adoram escândalos, principalmente. O que fazer com eles? Publique uma nota oficial paga nos jornais dando a sua versão para os fatos, de tal maneira que ninguém entenda nada do que foi escrito, diga que está colaborando com as investigações e coisa e tal. Se for político, use a tática muito em voga no Brasil atual que diz que as notícias adversas devem ser enfrentadas matando-se os mensageiros que as divulgam. Como? Se você for político “de esquerda”, reaja acusando a imprensa de burguesa, de neoliberal e insensível para com os problemas do povo, ou qualquer coisa assim e ameaçando jornalistas pessoalmente, ou por meio de inflamados discursos para a militância do seu partido, chamando-os de “inimigos do povo”. No caso de você ser empresário, acuse a imprensa de incompetente e os jornalistas de inimigos do mercado.

Ah, ia me esquecendo. Se o assunto estiver bombando também nas redes sociais, adote a estratégia mais usada na atualidade: contrate blogueiros profissionais para falar bem de sua empresa ou governo e atacar a oposição ou a concorrência. E também atacar e ameaçar a imprensa e os jornalistas. Não se preocupe, esse tipo de blogueiros cobram baratinho e não têm nenhum tipo de compromisso com a verdade. Por fim, não perca noites de sono com problemas éticos. Se for governo, com a integridade e a credibilidade e coisas pequenas desse tipo. Se empresário for, com a boa reputação da empresa juntos aos seus diversos públicos. Segundo o que prega o manual da comunicação Brasil 2014, tudo pode ser resolvido com muita propaganda enganosa e políticas de marketing desenvolvidas por um bom marqueteiro. Esse sim, é muito caro, mas... Vida que segue. Políticos querem mesmo é ganhar as eleições, não é mesmo? Empresários,  de resultados. Não é assim.

 Por fim, uma sugestão de economia. Se você concorda com tudo o que foi dito acima, reduza drasticamente sua equipe de comunicação social. Na versão Brasil 2014, comunicação séria, responsável, comprometida com a prestação de contas, está fora de moda. Mas se, como eu espero, você não concorda com nada do que foi descrito, continue a acreditar na democracia, na seriedade, na honestidade, na competência. E na comunicação de qualidade, sincera e leal. É mais difícil, dá trabalho, mas compensa.


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