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COLUNAS


Lidiane Amorim


Gerente de Comunicação Corporativa da Rede Marista e docente na área de Comunicação Organizacional. Doutora e Mestre em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS), com estágio doutoral na Universidad Complutense de Madrid (UCM-Espanha). Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Maria (2006), com formação em Comunicação Institucional pela Universidade Austral (Arg). Tem experiência em Comunicação Organizacional e Integrada, tendo atuado em assessorias de comunicação e marketing e também tem passagem em rádio e TV como editora, apresentadora, repórter e produtora. 

Da beleza dos ideais x a crueldade do real

              Publicado em 25/11/2014

Ouvi nas últimas semanas uma frase que ficou ecoando em mim por dias a fio: a beleza da utopia versus a crueldade do real. Falávamos, num encontro de líderes, sobre o desafio de manter os ideais fundantes de uma organização diante da complexidade dos cenários onde está inserida. A frase ilustra o paradoxo vivido por instituições que nasceram de sonhos e ideais louváveis, com uma missão realmente diferenciada no mundo e na vida de pessoas e que, para sobreviver e continuar mantendo-se atualizadas e em sintonia com o presente, precisam adaptar-se, profissionalizar-se, transformar-se. Recomeçar é preciso.

Organizações de longa trajetória necessitam reinventar-se, sabemos disso. Nasceram em outro contexto sócio-político-econômico-cultural-tecnológico e sua perenidade depende do modo como conseguem redesenhar a si mesmas para continuar respondendo à vocação que as faz existir. O mesmo ocorrerá com as organizações contemporâneas, daqui há 10, 30, 50 anos. A transformação revigora, desacomoda, abre caminhos, mentes, olhares. Dá-nos a oportunidade de sermos melhores do que já fomos. Num mundo de mudanças assustadoramente aceleradas, de “velocidade implacável e urgência desvairada”, parafraseando Dênis de Moraes, paralisar é, de certo modo, sair do trilho da história e correr sérios riscos de morrer em si mesmos. 

Por outro lado, corremos também outro risco: o de apostar em mudanças de modo igualmente acelerado e desvairado, irresponsável, e abandonarmos ao esquecimento os ideais e valores que são, ‘tão somente’, a razão de existirmos. Talvez, como nunca antes, para as organizações foi tão necessário ter clareza do que são, da sua identidade, de suas fragilidades e de seus diferenciais verdadeiramente genuínos. E ressalto a expressão genuínos, porque em tempos de falatórias e discursos facilmente manipuláveis, é relativamente fácil construir (embora seja difícil manter) um DNA ideal, que diga quem gostaríamos de ser perante um conjunto seleto de interesses, enquanto tacitamente esquecemos quem somos, verdadeiramente.

Mudar, qualificar, reiventar é necessário, mas a que preço? Com que sentido e objetivos? De que maneira e para chegar aonde? O que nos move, afinal? Defendo a mudança que atualiza processos, modelos, estratégias para fortalecer, antes de mais nada, a missão fundante. Defendo a  transformação consciente, que supera a crueldade do real, para permencer fiel à beleza dos ideais. Defendo a mudança pelos ideiais e não dos ideais, levada simplesmente pelo rumo dos ventos. Defendo a mudança responsável que olha para o futuro, sem romper as raízes – mesmo que fluidas e dinâmicas – da  identidade, sem ignorar a história construída no passado e os princípios que sustentaram a organização até o presente.

 

P.s: e em tempos de pós eleições, deixo essa mesma frase para (re)pensarmos nosso papel num cenário político e social cruel com os ideais, sejam eles de que lado, cor, credo, número, geografia forem. 


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