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Luli Radfahrer
luli@luli.com.br

@radfahrer

Ph.D. em Comunicação Digital pela ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP, onde é professor há 18 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, Estados Unidos, Europa e Oriente Médio. Mantém um blog com seu nome, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Tem uma coluna semanal na Folha de S. Paulo e uma coluna mensal na Revista Imprensa.

Mobilidade, redefinida

              Publicado em 23/07/2014

Mobilidade, tanto em computação quanto em acesso à Internet, faz total sentido. Ninguém nasceu sentado, curvado sobre monitor e teclado.

Mas revolução das tecnologias móveis é muito mais abrangente do que sugere a ideia simples de acessar a Internet e as redes sociais via telefone.

A própria ideia de “computador” começa a perder sentido. Computação vestível, carros autônomos e automação residencial são aplicações de uma tecnologia cada vez mais distribuída, garantindo maior conveniência, conforto e segurança a seus usuários.

Toda essa traquitana parece supérflua, como um dia uma lava-louça o foi. Para quem é jovem e não tem problemas de locomoção, são quase um luxo. O mesmo não pode ser dito de uma população cada vez mais idosa que prefere (ou precisa) se manter independente.

Diz-se que o futuro é superestimado a curto prazo e subestimado a longo prazo, e com a mobilidade digital não é diferente. Máquinas “espertas”, que até há pouco só existiam em filmes de ficção científica, são cada vez mais populares. Hoje são parte integrante de muitos automóveis, implantes medicinais, ferramentas e brinquedos. Conectadas à Internet e controladas remotamente por aplicativos em celulares, são a face mais evidente da tão falada "Internet das Coisas".

É difícil imaginar o futuro próximo, em que pequenos sensores poderão capturar temperaturas, localizações, níveis de estoque, sinais biométricos, luminosidade, movimento, altitude, velocidade e praticamente tudo que puder ser medido. Munidos de antenas ou chips de telefonia, eles transmitirão os dados coletados para um servidor, onde serão traduzidos e analisados, gerando novas ações.

As possibilidades que surgem em um mundo que praticamente qualquer aparelho, de qualquer tamanho, pode coletar as informações do seu contexto, interligá-las, calculá-las e compará-las com bancos de dados imensos, distribuídos pelo mundo, instantaneamente e praticamente sem custo, são enormes. Mas elas envolvem um grande investimento em infraestrutura.

Sua instalação demanda regulamentações e protocolos de segurança, a começar pelas redes de comunicação. As atuais redes de telefonia móvel estão sobrecarregadas com chamadas, tráfego de dados e vídeo. Não é viável agregar a ela os 50 bilhões de novos dispositivos que se imagina estarem conectados no mundo até 2020, gerando cerca de 4 milhões de novos terabytes de tráfego.

A mobilidade digital é hoje muito maior do que o conjunto de laptops, tablets e smartphones. Ela está mais para uma nova forma de pensar a tecnologia do que para uma técnica, e seu impacto pode ser maior do que o da internet.

Comunicação, não se pode esquecer, é uma via de mão dupla: os mesmos aparelhos que acessam a Internet de qualquer lugar também poderão (e deverão) ser usados para transmitir dados a respeito do ambiente em que estão e de seu movimento. Graças a essas tecnologias, em breve não será mais preciso “alimentar” o sistema com vários dados, já que muitos poderão ser coletados automaticamente.

Quando estiver em ação, a integração de máquinas e inteligência poderá ajudar a resolver boa parte dos grandes problemas de megalópoles como São Paulo. Empresas de eletricidade, saneamento e abastecimento podem usar sensores para evitar desperdícios e sobrecargas. A condição das ruas, transporte público e trânsito podem ser monitoradas e corrigidas rapidamente. Várias ações de governança, planejamento urbano e impacto ambiental poderão ter ajuda de máquinas.

É claro que isso envolve uma perda de autonomia. Toda a comodidade resultará de uma negociação com os fornecedores de equipamentos e serviços de inteligência, que provavelmente subsidiarão seus equipamentos em troca de uma coleta de dados pessoais. Como se faz hoje com os celulares.

A rede não está se tornando um supercérebro onipotente e onisciente, distante dos operários que a construíram. Pelo contrário, ela está se misturando com a própria natureza do conhecimento. É impensável imaginar um sem o outro. Livre de seu suporte, a informação mudou, transformando o meio pelo qual se desenvolvem, preservam, comunicam e transformam ideias.

O conhecimento é hoje uma propriedade da rede. À medida que a Internet das coisas fará com que a pessoa mais inteligente da sala seja a própria sala não faz muito sentido resistir e se opor. A melhor maneira de avançar é abraçar as peculiaridades desta nova cultura que apesar de ser cada vez menos tangível, nunca foi tão humana.


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