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Luli Radfahrer
luli@luli.com.br

@radfahrer

Ph.D. em Comunicação Digital pela ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP, onde é professor há 18 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, Estados Unidos, Europa e Oriente Médio. Mantém um blog com seu nome, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Tem uma coluna semanal na Folha de S. Paulo e uma coluna mensal na Revista Imprensa.

Muitas vizinhanças

              Publicado em 28/08/2014

Marshall McLuhan falava muito da Aldeia Global, o momento em que todo o mundo estaria interligado e todas as pessoas estariam acessíveis, como em uma grande aldeia. Meio século mais tarde, várias redes sociais buscam esse objetivo.

Por mais que tenha mais de um bilhão de usuários ativos, cada um com várias horas dedicadas à rede por semana, o Facebook, infelizmente, está mais para aldeia do que para global. Pouco importa sua capacidade de conectar pessoas e ideias ao redor do mundo, a maior parte do tempo empenhado ali é desperdiçada em fofocas e linchamentos públicos.

Os covardes estão cada vez mais valentes no mundo digital. Protegidos (ou melhor, escondidos) das consequências de uma verdadeira interação social, estimulados a dizer a primeira coisa que lhes passar pela cabeça e apoiados pelo reforço de um grupo intolerante que parece não ter mais nada a fazer, ali não são economizados deboches, insultos e humilhações variadas.

Como velhas fofoqueiras debruçadas em suas janelas a vigiar o que acontece na praça, pessoas modernas, informadas, aparentemente bem-educadas, conscientes e esclarecidas, por falta de assunto nas mídias sociais, não perdem uma oportunidade para crucificar o próximo. 

Já no Linkedin, o contrário acontece. Todos são lindos, cultos e gentis nesse repositório de profissionais superqualificados à espera de oportunidades. Seus históricos são invejáveis e suas referências, indiscutíveis. Boas demais para serem verdadeiras.

As redes podem ter se digitalizado, mas os relacionamentos por trás delas continuam a ter sutilezas além da capacidade de compreensão de nossas poderosas bases de dados. Pouco importa o grau de digitalização, nas redes o contexto determina a função. 

Se entre executivos o que vale é o networking, não se pode esperar que alguém perca um contato potencial em nome dos lucros da firma. Com isso, a maioria dos perfis se transforma em exercício de realismo fantástico ainda mais grandioso do que os velhos currículos. Recomendações são ainda piores, já que ninguém o culpará por elogiar um chefe ou cunhado.

Ao interagir com o mundo por interfaces, aos poucos perdemos a capacidade de compreender o outro, de tentar imaginar seu ponto de vista. Quem se isola e se deixa moldar pelo grupo que frequenta acaba por diluir sua identidade, preso ao brilho das múltiplas telas. Muitos escrevem qualquer coisa só para mostrar que estão vivos, demandando resposta. Agem como ex-celebridades, sedentas de atenção. 

A tecnologia, não se pode esquecer, é só uma ferramenta. É o uso que se faz dela que traz o seu verdadeiro valor. Quando as pessoas com quem se convive são reduzidas a uma foto e um conjunto de linhas de texto, fica muito mais fácil atacá-las, ignorá-las, julgá-las. Ou esquecê-las. 

Comunidades profissionais on-line são boas ferramentas, mas estão do lado errado da recepção. Seriam mais efetivas se estivessem do lado de dentro das empresas, anônimas, depois do filtro da seleção. Sem a pressão social do cargo e salário e com a responsabilidade de uma indicação que afete a comunidade, é mais provável que identificassem a pessoa certa para cada função.


Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor. 1546

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