Quero guardar minhas fotos íntimas na nuvem!
Como era imaginado, um mês depois do escândalo das fotos das celebridades, ninguém mais fala do assunto. Os únicos aprendizados parecem ter sido que não se deve tirar fotos íntimas com o celular, nem armazenar conteúdo sensível na nuvem.
Em Setembro, fotos de 101 atrizes e modelos de Hollywood em poses íntimas foram publicadas por um hacker no 4Chan, fórum anônimo de compartilhamento de imagens. Pela natureza das fotos, elas parecem ter sido tiradas pelas próprias atrizes ou por seus parceiros. A origem das fotos teria sido o serviço de armazenamento na nuvem iCloud, da Apple, que normalmente sincroniza fotografias tiradas por iPhones, iPods e iPads para que fiquem disponíveis em todos os aparelhos. Conveniências parecidas são oferecidas por serviços como Google Drive, Dropbox e OneDrive.
Dona de um dos melhores departamentos de relações públicas do mundo, a empresa saiu praticamente ilesa. E duas semanas depois estava lançando seu novo telefone, o iPhone 6. No lançamento, a empresa ofereceu a seus usuários o novo álbum da banda U2. Quem opta pelo download automático de músicas compradas teve o álbum “empurrado” para seu aparelho, quisesse ou não.
A culpa pelo vazamento das fotos acabou ficando para as celebridades, como se um hacker fosse inevitável e os serviços da nuvem fossem tão inseguros quanto uma motocicleta ou asa delta.
Mas será que essa é a conclusão certa? Ou será que essa atitude compactua com uma preguiça e comodidade da indústria?
Não se pode culpar a vítima. Ainda mais quando o uso do serviço é praticamente involuntário, escondido por termos de uso complicadíssimos – e que ninguém lê.
A principal ideia da Computação em Nuvem é a de armazenar as informações de seus usuários “lá fora”, na internet, disponíveis sempre que desejadas, a partir de qualquer computador. Em data centers, os dados estariam muito mais seguros do que em discos rígidos.
Aproveitando-se do fato que a tecnologia é nova e que as pessoas ainda estão fascinadas por suas possibilidades, as empresas abusam: Amazon e Disney tem histórico de retirar produtos comprados por seus usuários de suas bibliotecas
Provedores de serviços transferem o ônus da segurança para seus usuários, recomendando o uso de senhas longas, complicadas e frequentemente atualizadas, jamais reutilizadas em outras contas. Deve-se tomar grande cuidado com e-mails e, acima de tudo, evitar conteúdo “sensível”.
Há algo de errado. À medida que as fronteiras entre os mundos "on-line" e "off-line" tornaram-se praticamente inexistentes, não se pode depender de serviços precários, como o da Apple. Com perdão do sacrilégio, ele faria um grande serviço à indústria se quebrasse, e, no processo, fosse relançado com melhor qualidade. Novas tecnologias, como micro-ondas, raio X e Caixas Eletrônicos eram bastante precárias em seu início, mas melhoraram com o tempo para satisfazer a seus consumidores, e não os obrigaram a mudar de conduta.
Durante a última década, a indústria de tecnologia tem feito promessas exageradas com relação à capacidade da Computação em Nuvem. Não pode punir seus consumidores por terem acreditado nelas.
Alertar consumidores para que parem de usar a nuvem não é a resposta. A nuvem é de grande utilidade, um alívio em caso de perda inesperada de dados ou necessidade de acesso remoto. Ao reduzir seu uso, todos perdemos.
É preciso demandar das empresas que forneçam uma alternativa para colocar os dados de seus usuários sob condições de proteção comparável ao de serviços financeiros. Escândalos como o do vazamento das fotos de celebridades não devem ser encarados com normalidade, sob o risco de nos anestesiar para violências cada vez maiores.
Ah, e quanto ao título, ele só manifesta um desejo por privacidade e segurança para todos Não se assuste, não tenho fotos íntimas.
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