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COLUNAS


Leny Kyrillos


Fonoaudióloga pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, Especialista em Voz pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia – CFFa, Mestre e Doutora em Ciências dos Distúrbios da Comunicação pela Universidade Federal de São Paulo. É comentarista da coluna semanal Comunicação e Liderança na rádio CBN. Personal & Professional Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Professora convidada do Curso de Especialização em Distúrbios da Comunicação Humana da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina.

É coautora dos livros Voz e Corpo na TV – a fonoaudiologia a serviço da comunicação (editora Globo – 2003) e Comunicar para liderar (editora Contexto - 2015); organizadora dos livros Fonoaudiologia e Telejornalismo (editora Revinter – 2002, 2003 e 2004) e Expressividade (editora Revinter – 2004), além de autora de várias publicações científicas, nacionais e internacionais. 

Ainda participa da consultoria e assessoria de comunicação de diversas empresas, instituições financeiras e políticos e é responsável pelo atendimento a profissionais de rádio e televisão.

Comunicar para aproximar

              Publicado em 16/07/2014

Tive o prazer de assistir, há uns dias, a peça Tribos, baseada no texto da dramaturga britânica Ninna Raine, com direção primorosa do grande Ulysses Cruz.

A peça é encenada pelo Antonio Fagundes e seu filho Bruno, uma segunda parceria profícua nos palcos (Vermelho). Apesar dos outros quatro atores serem menos conhecidos, a importância deles na trama é absolutamente proporcional. A história se baseia numa família totalmente disfuncional, com pessoas problemáticas e com conflitos emocionais muito maiores que a limitação física de audição do Billy, personagem do Bruno Fagundes, que é surdo. O pai é um crítico acadêmico sarcástico, de humor ácido, que aproveita todas as oportunidades para subjugar os filhos e a esposa. A mãe é uma mulher ausente, aspirante à escritora, que se omite em grande parte das questões de sua família. A irmã é uma “cantora” frustrada, que não consegue chegar lá, insegura e frágil. O irmão mais novo é superprotetor, se esconde atrás das drogas e trabalha numa tese sobre linguagem e significado. Billy, o primogênito surdo, é, teoricamente, o foco de atenção de todos. Ele desenvolveu sua linguagem oral e aprendeu a fazer leitura labial, convivendo de modo “quase” satisfatório, com um baita esforço, nessa família que grita e praticamente “fala sozinha” o tempo todo. Billy se ressente porque sabe que teve que se esforçar e se adaptar ao modo de ser e de se comunicar de sua família. Ele, deficiente auditivo, aprendeu a comunicação oral apesar de todas as suas dificuldades. Os outros, apesar de ouvintes e falantes “normais”, não se ouvem, não se respeitam, não consideram a opinião uns dos outros... E confundem Billy o tempo todo! Apesar de ser super mais sensato que sua família, ele teve que se adaptar para se aproximar, para não ficar isolado. Teve que forçosamente fazer parte da “Tribo” para interagir com eles! Com a chegada de sua namorada, filha de deficientes auditivos e que está ficando surda também, ele teve acesso à linguagem de sinais. E teve, mais uma vez, que aprender uma nova forma de comunicação, para interagir agora com a namorada! Aprendeu para se comunicar com ela... E resolveu impor essa aprendizagem, na verdade, essa generosidade, à sua família, como condição para que continuassem a se comunicar e a se entender! É claro que essa primeira exigência por parte de Billy causou grande estranhamento, até rejeição. Mas foi a forma que ele encontrou para se impor e se fazer respeitar.

É interessante refletir sobre como a nossa sociedade isola as pessoas que são diferentes. A deficiência aqui demonstrada pode ser facilmente substituída por qualquer outra minoria! Um dos princípios da comunicação nos mostra que, para que haja entendimento, é fundamental que as pessoas utilizem o mesmo código. Claro, o código oral é o mais utilizado no mundo! Mas não é o único ou a única possibilidade de entendimento. Quando surge algum tipo de dificuldade, é muito saudável que nos permitamos olhar e ouvir de modo diferente, que busquemos nos abrir para outras possibilidades, que passemos a considerar, também, a forma de ver do outro! Se isso não é levado em conta, a falta de comunicação pode produzir isolamento. Pode impedir que as pessoas se entendam! Aqui, muito além das questões de código, também cabe a nossa boa vontade em lidar com outros pressupostos, com outros pontos de vista, com outras formas de julgamento, já que nossos valores e crenças são diferentes. E a diversidade é tão positiva e traz tantas contribuições quando nos dispomos a considerar! Muito além do código, deve haver a vontade de ouvir e de entender o outro. Deve haver a intenção de nos fazermos entender! E é só a partir dessa disponibilidade, dessa generosidade genuína de se expor e de compreender o outro, de acolher, que a comunicação cumpre a sua função primordial: APROXIMAR. Sempre, de qualquer modo que seja, com ou sem qualquer tipo de deficiência.


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