“Este encontro será perda de tempo. Já tenho as informações necessárias pra minha decisão, agora é comigo!”, ponderei antes de uma conversa agendada a meu pedido. Sim, a decisão só cabia a mim naquele caso; mas como me enganei a respeito da inutilidade da conversa. Mantive a agenda, com uma certa má vontade, confesso, e, apesar de todas as minhas certezas, fatos, informações, saí daquele momento com novos olhares e um outro ânimo sobre a questão que me inquietava.
O poder das conversas sempre me encanta e surpreende. E, ainda assim, sou quase capturada por armadilhas tão comuns como a falta de tempo e o trânsito emperrado. Ou por uma outra, oculta sob desculpas simplórias: a crença de que já detenho o conhecimento necessário sobre aquele assunto. “Já sei...”. E foi essa armadilha que me fez parar pra pensar e indagar:
- Quem sabe o que?
- Que ou quanto de informação é suficiente?
- Que possibilidades podem resultar de cada uma de nossas conversas cotidianas?
- E, finalmente: “O que está por trás dessa vontade de não conversar?”
Não encontro respostas certas para essas perguntas, mas sigo surpresa com as experiências que se sucedem a cada conversa que me acontece. Através delas, consigo perceber possibilidades de realização que não conseguiria sozinha. E quando acho que já esgotei o assunto, uma outra conversa me conduz a um novo patamar, a um novo olhar. Se no quesito desenvolvimento pessoal, a jornada é longa, o que não dizer do desenvolvimento corporativo, onde limites precisam ser transpostos a todo momento. Qual a contribuição que as conversações podem oferecer em ambos os casos?
Facilitar a abertura de espaços em que essas conversas possam acontecer faz parte do meu trabalho. E, ainda assim, por muito pouco não me deixo seduzir por “empecilhos”, como o que descrevi. Tivesse eu abraçado a comodidade e a crença do “já sei”, teria perdido a riqueza dos olhares desafiadores do outro e o aprendizado que me trouxe para uma tomada de decisão.
O fato de eu ser profissional de Comunicação não minimiza o que o desafio de conectar-me ao outro representa. Isso porque, para que essa conexão de fato aconteça, preciso abrir mão de convicções cuidadosamente construídas. E isso nem sempre é fácil para nós humanos, que ainda carregamos uma boa herança de conservadorismo. Além disso, também há uma crença que adquirimos nos primeiros bancos de escola, de que devemos saber tudo. Quem não se lembra de alguma situação em que a resposta certa deveria estar na ponta da língua para evitar a pena da vergonha da confissão do não saber?
Quantas de nossas dificuldades, tanto na vida pessoal quanto profissional, poderiam ser vencidas mais facilmente com uma simples declaração de não saber? E o quanto mais leve seria a vida, desde a nossa infância, se pudéssemos ser recompensados pela honestidade de dizer que não temos a resposta certa? Somos seres que se constituem a cada momento através de nossas experiências, no plano individual e coletivo, portanto, nunca estamos prontos, ou seja, nunca sabemos tudo.
Segundo o sociólogo Rafael Echeverría, através da linguagem criamos a realidade e, constituímos a nossa identidade. E isso vale tanto para pessoas quanto para empresas, que também são constituídas a partir das conversações que abrigam. E se tudo isso está sempre em movimento, é bom lembrar que, quando não sabemos o que fazer, podemos explorar, através das conversas, ações que não conseguiríamos articular sozinhos.
“Toda inovação baseia-se na capacidade de gerar possibilidades que não estavam articuladas anteriormente. As possibilidades, tampouco estão “lá fora”, à vista de qualquer pessoa. As possibilidades são inventos que geramos em conversações. Ao desenhar conversações para possíveis ações, abrimos espaço para inovação e para ampliar nossas próprias possibilidades. E isto é fundamental para qualquer empresa que deseje conservar sua competitividade”¹, afirma Echeverria.
Eu confesso que lembrar que “não sei” tem sido libertador, mas esse nem é o lado que considero mais positivo desse caminho que escolho para mim todos os dias. O que mais me encanta são as possibilidades que surgem diante dessa declaração em todas as áreas da minha vida, e da qualidade das conexões que acabo estabelecendo com pessoas cuja passagem por mim, de outra forma, poderia nem ser notada. Por isso, ouso convidar você, que chegou até o fim desse texto, a declarar mais vezes: “não sei”!
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¹ ECHEVERRÍA, Rafael. Ontologia del lenguage. Chile: JC Sáez Editor, 2009.