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COLUNAS


Francisco Viana
viana@hermescomunicacao.com.br

Jornalista, Doutor em Filosofia Política (PUC-SP) e consultor de empresas.

 

Comunicação desafiada

              Publicado em 14/10/2014

Copyright Correio Braziliense - 10/10/2014

 

Os desafios da comunicação estão materializados diante dos nossos olhos. As eleições, que agora vão para o segundo turno, demonstram que a verdade se politizou e que os fatos, embora continuem consistentes e teimosos, passam a ser mais uma questão política, portanto de visão de mundo, do que uma realidade substancial, inquestionável.

Há quem veja na comunicação uma simples justificativa para suas vontades. São, digamos, aqueles que irão, a qualquer preço, encontrar explicações para os acontecimentos, mostrar menos do que se precisa revelar e, de preferência, nada a dizer. Há, igualmente, os que comemoram a nova fase da comunicação como a libertação do antigo espartilho de verdades acabadas e vejam, no novo momento, a abertura para admitir erros, equívocos e corrigir distorções antes impostas pelo mito do progresso contínuo. E, por fim, não falta quem veja nas novas tendências a oportunidade para afirmar o caráter educativo da comunicação, empenhando-se em formar pessoas conscientes das suas responsabilidades.

É fato que, em sintonia com as liberdades públicas, a comunicação passou a ser cotidianamente desafiada. Os fatores primários de organização da sociedade brasileira – a legislação, as instituições, os partidos – parecem cada vez mais distantes de uma população que julga, escolhe, decide e não aceita a exclusão. Há conquista de caráter hegeliano, a exemplo da democracia representativa e participativa, o direito a igualdade perante a lei, o respeito as diferenças e de comportamento, além do valor supremo do Estado laico que não se aceita ver ameaçadas e muito menos subestimadas.

Tudo isso passa a exigir novas posturas dos comunicadores. No passado, a pedra angular da comunicação foi o interesse das organizações, movido pelas necessidades de se manter longe de escândalos, a definição de códigos de conduta, postura e uma ética política que dizia mais respeito às aparências do que à realidade. De repente, tudo mudou. As mídias sociais entraram em cena e passam a constituir uma nova espécie de Leviatã. Não estão deixando pedra sobre pedra dos muros que antes cobriam com o manto de uma certa pureza as reputações e identidades. Nada parece ter sobrado desse tempo. E se sobrou foi muito pouco.

A transição foi acompanhada pela rapidez da informação. Perdeu-se a substância do tempo para pensar os acontecimentos, interpretá-los, captura-los na essência, ganhou-se na instantaneidade da difusão da informação. Perdeu-se no confronto dos pontos de vista, das diferentes visões ideológicas, na conjugação da teoria e prática, ganhou-se na impossibilidade da repetição de velhas práticas e antigas certezas. A hipótese básica é que a comunicação deixa de ser unidimensional para ser multifacetada, tal como se revela a sociedade.

O desafio maior do comunicador é a sua capacidade de prever. E prevendo, mudar estratégias. Antes, até as eleições passadas, a comunicação podia ser definida como a arte da estratégia. A estratégia era a comunicação. O comunicador era o guardião e o advogado do cliente junto à opinião pública. Maximizando ou não suas oportunidades, defendendo ou alinhando-se aos seus interesses, era um conselheiro.

Nos dias atuais, se observamos as novas características da geografia política e dos sonhos das multidões, torna-se imperativo ter formação suficiente para ir além. Cabe ao comunicador construir alternativas reais para os movimentos inconstantes das novas formas democráticas de mobilização e os novos poderes, constituídos ou não, que conduzirão o País a fronteiras de novas ideias e inovações históricas. Não adianta mais lamentar a insurgência das massas ou as limitações dominantes, não pode mais ficar amarrado a formas ultrapassadas de apenas conceber estratégias.

O Brasil se tornou uma terra mediada pelo social mais do que pela economia, mais pelas forças políticas, com raízes na população, do que pelas abstrações críticas. É uma situação que lembra, guardadas as proporções, a antiga Grécia ao ser invadida pelos romanos. Famílias enlouqueciam e se perguntavam: como podemos ser dominados pelos bárbaros? Não era exatamente assim. Como não é agora. A novidade é que a comunicação de um tornou-se um ponto de vista sobre a comunicação do outro. Vai demorar algum tempo que para que os polos dissonantes se entendam e que se afirme a educação, em larga escala, para a democracia, assim como caberá ao comunicador reeducar-se para compreender essa nova sociedade que emerge das urnas. No último dia 8, a Aberje, entidade voltada para o pensamento, educação e formação do comunicador, fez 47 anos. A data serve de motivação simbólica para o repensar da comunicação à luz dos novos tempos e das novas vontades.


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