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COLUNAS


José Eustáquio Oliveira de Souza


Presidente da Editora VEGA Ltda. e membro do conselho da Aberje. Atuou em cargos de destaque na área de comunicação de grandes multinacionais, como o Grupo Gerdau.

A comunicação e seus paradoxos

              Publicado em 03/10/2014

O sociólogo Dominique Wolton, diretor de pesquisas no Centre de La Recherche Scientifique de Paris, é um cientista que nada contra a corrente na sua área de atuação. Especialista em mídia – esteve recentemente no Rio de Janeiro para falar sobre o futuro da informação na política – autor consagrado e fundador da revista Hermès, especializada no estudo interdisciplinar da comunicação e sua relação com os indivíduos, Dominique Wolton tem bons motivos para integrar a banda dos que vieram ao mundo para desafinar o coro dos contentes. No caso, aqueles – a maioria – que ainda acreditam que estamos em plena era da sociedade da comunicação e do conhecimento. Longe disso, acredita o pensador.

Para o sociólogo francês, um dos grandes paradoxos do século XXI é que, apesar de ser uma aspiração universal, a comunicação foi reduzida a ferramentas técnicas, como o rádio, a televisão e, principalmente, a internet. Irônico, ele diz que os estudos sobre o assunto só falam em internet, mídia digital, redes sociais... E pergunta: mas, e depois? “Em algum momento temos que desligar o computador e conversar com alguém. É aí que começa o desafio da comunicação humana, que se apresenta muito mais difícil do que a comunicação técnica”, problematiza. É que os computadores, a internet e as demais ferramentas são muito úteis, mas a ideia de que podemos eliminar a complexidade da comunicação humana pela performance da comunicação técnica  é ingênua.

Vou mais além. É verdade que vivemos a ilusão de acreditar que ferramentas técnicas resolvem problemas de comunicação. Nas áreas empresarial e pública, por exemplo, prevalece a crença de que a comunicação com os chamados stakeholders pode ser feita por meio de jornais, jornais murais, TVs corporativas, internet, intranet, boletins, campanhas de relações públicas, publicidade e propaganda. Ou, pior, por meio das ferramentas de marketing. O mais grave é que essa visão fantasiosa do poder da técnica não é compartilhada apenas por empresários, políticos, executivos, gerentes e de especialistas em recursos humanos.

A maioria dos comunicólogos ainda se deixa iludir pelo poder de sedução das técnicas, apesar de amargarem fracassos frequentes. Sabem por quê? “A informação é fácil porque é a mensagem; a comunicação é muito mais complicada e frustrante porque é a relação com o outro. Transmitir não é comunicar,” ensina o sociólogo. Nas corporações, os vacinados contra os “males das técnicas”, ainda se valem da velha e boa comunicação face a face (ou olhos nos olhos) para estabelecer pontes de relacionamento com os diversos stakeholders e superar o desafio da comunicação humana. É que eles perceberam na prática o que Dominique Wolton constatou em suas pesquisas: a comunicação é uma forma de negociar nossas diferenças, de coabitar e, por isso, é uma questão, antes de tudo, humana e política, não apenas técnica.

No Brasil, a coisa fica ainda pior quando se trata da comunicação pública (do Estado com a sociedade) e da comunicação na política. É que ambas valem-se das assessorias de imprensa, da propaganda e da publicidade como estratégia de marketing para se comunicar com seus “públicos-alvo”. Porém, o problema não está apenas no mau uso das ferramentas, mas no conteúdo das mensagens. Além de não se disporem a estabelecer diálogo verdadeiro com a sociedade para, por meio dele, encontrar soluções negociadas para os graves problemas de saúde, segurança, educação, corrupção, meio ambiente e participação democrática do povo na gestão pública, o que estamos assistindo da parte dos políticos no horário eleitoral é um festival de empulhação, mentiras e grosserias para seduzir o eleitor, incentivadas por marqueteiros de plantão. Na internet, vale o que Dominique Wolton critica. Pensava-se que quando todos estivessem conectados por meio das redes, haveria mais tolerância e diálogo. Mas o que está havendo é mais desconfiança do que cooperação. “Se não temos nada a nos dizer, todos falam, ninguém fala”, diz. E assim, continuamos surdos de tanto falar, mudos de tanto ouvir e cegos de tanto enxergar... Sem ver. Até quando?


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