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COLUNAS


José Eustáquio Oliveira de Souza


Presidente da Editora VEGA Ltda. e membro do conselho da Aberje. Atuou em cargos de destaque na área de comunicação de grandes multinacionais, como o Grupo Gerdau.

A comunicação e a empulhação

              Publicado em 29/08/2014

“Em tempos de guerra, a primeira vítima é a verdade”, alertou o jornalista Harold Thomas Henry Carter (Boake Carter) em 1938, pouco antes de arrebentar a Segunda Guerra Mundial, em 1939. Não é muito difícil especular sobre as razões que induziram Boake Carter a chegar a tal conclusão. Aqueles eram tempos para além de bicudos. A saber. A Primeira Grande Guerra (1914/18) ainda exalava seu bafo de morte e ressentimentos na Europa, prenunciando novas tragédias em escalas então inimagináveis; o fascismo e o nazismo botavam suas manguinhas de fora; Stalin assassinava adversários, inimigos e, mais ainda, amigos e compatriotas na URSS; a guerra civil espanhola corria solta, gerando atrocidades como as que foram retratadas por Picasso no monumental painel Guernica; por fim, a depressão econômica causada pelo crash da Bolsa de Nova Iorque deixava seu rastro de quebradeiras, miséria, morte e medo pelo mundo todo.

É pouco ou querem mais? Pois foi nesse cenário que Boake Carter cunhou sua frase histórica. Para além de sua perspicácia, o jornalista norte americano já havia travado conhecimento com o pensamento totalitário do entre guerras. E que o deixaram, certamente, com a pulga atrás da orelha. O ministro da Propaganda, o “gênio” do marketing, do Nazismo de Hitler, Joseph Goebbels, construía seu castelo de trapaças com base na afirmação de que “uma mentira contada mil vezes torna-se uma verdade”. Mais: justificava o controle total que exercia sobre os meios de comunicação, artes e informação - por meio da censura, prisões, ameaças e utilização de modernas técnicas de propaganda - para enganar e submeter ideologicamente os alemães, usando também uma famosa frase de Hitler: “todo homem bem informado é perigoso”.

Pois é. Não estamos vivendo (apesar das ameaças) privação de liberdade de opinião e de imprensa no Brasil. O País também não está em guerra. A guerra mesmo. Porém, os tempos andam bicudos, dado que, para além das eleições para a presidência da república, governadores, senadores e deputados, o Brasil vive uma crise econômica muito séria, que traz em seu bojo uma brutal crise política, social, ambiental e, sobretudo, ética. Basta dizer que a previsão para o crescimento do PIB de 2014 é de 0,5%, a inflação está em alta, mais de 50 mil pessoas são assassinadas por ano em todo território nacional, nossos rios morrem de sede e os partidos – e seus políticos – engalfinham-se em lutas renhidas para garantir o seu pedaço de poder. E os escândalos tomam conta dos meios de comunicação e das redes sociais. Basta ler os jornais. É lama para todo lado. E quem são as vítimas desta vez? Nenhum dos denunciados apanhados com a boca na botija.

E sim a verdade... E a comunicação. É um tal de armar esquemas inconfessáveis para enganar CPI com a desculpa de que se fez media training; de transformar em um evento de relações públicas a inauguração de obras não terminadas; de dar “entrevistas exclusivas” para falar dos “números reais da economia”, tentando de esconder os rombos das contas governamentais e, depois das críticas dos especialistas, culpar a comunicação e a imprensa pelo pessimismo que assola o País. O horário reservado à propaganda eleitoral virou um reino da fantasia. Tudo róseo. Os candidatos recusam-se contar como resolverão as graves mazelas brasileiras. Que para serem verdadeiramente enfrentadas, exigirão do povo sangue, suor e lágrimas. Ou seja, sacrifícios do povo, seriedade e honestidade dos dirigentes e dos políticos. Sobretudo utilizando como estratégia a comunicação verdadeira com a população para envolvê-la diretamente na solução dos problemas a serem enfrentados. Exatamente o contrário da empulhação que somos obrigados a engolir diariamente.


Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor. 2480

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