A liberdade na revolução
A verdade é comparada nas Escrituras a uma fonte que jorra. Quando suas águas não correm numa progressão perpétua, degeneram em uma poça lodosa e estagnada de conformismo e tradição. [1]
A informação é preciosa: a liberdade de expressão é filha da Revolução Inglesa. Não do pós-revolução, mas do calor da luta. Está no livro Pensadores da liberdade, que acaba de ser lançado pelo Instituto Palavra Aberta, mais exatamente no artigo do professor Paulo Nassar, presidente da Aberje, sob o título Liberdade para além da liberdade de imprensa.
Os fatos: em novembro de 1644, portanto há 370 anos, o erudito John Milton apresentou no parlamento inglês o discurso Areopagítica, que entrou para a história como marco da liberdade de imprensa. O autor de Paraíso perdido, fluente em latim e grego, escreveu condenando a censura prévia de livros, num momento em que a Revolução Inglesa, deflagrada em 1640, sob a liderança de Oliver Cromwell, avançava para derrubar aristocracia dos Stuart.
A guerra civil se prolongou até 1649 e a censura na Inglaterra só seria abolida em 1694. Mas ficou a marca do posicionamento político e, mais do que isso, a advertência: o progresso não viria com a censura, mas com a liberdade. Fora a falta de liberdade que aniquilou o poder da Grécia Antiga.
Humanista, insubmisso, poeta imortal como foram Homero e Virgílio, Milton inspirou-se na história, o Conselho do Areópago, que se notabilizou pelo conservadorismo na aplicação das leis e a na educação dos jovens atenienses. Entendia que a cidade e o povo tinham liberdades em excesso.
O discurso de Milton, posteriormente publicado em livro, demonstrava justamente o contrário. Onde não havia cultura da liberdade, a exemplo da mítica Esparta, devotada à arte da guerra, não da cultura, não poderia haver desenvolvimento da economia nem da sociedade. Fosse diferente, os gregos não teriam sido conquistados pelos romanos e as ditaduras, historicamente, não estariam condenadas a perecer.
O livro Pensadores da Liberdade reúne 20 autores, entre eles os filósofos Fernando L. Schüler, Luiz Felipe Pondé, o antropólogo Roberto da Matta, jornalistas como Eugênio Bucci, Mônica Waldvogel, Ricardo Gandour e Roberto Civita (1936-2013). Reúne, igualmente, Fábio Colleti Barbosa, presidente do grupo Abril, Joaquim Falção e Adriana Lacombe, da Fundação Getúlio Vargas, Judith Brito, diretora-superintendente do Grupo Folha e Marcel Leonardi, diretor de políticas públicas da Google no Brasil e Orlando Marques, CEO da rede de agências Publicis no Brasil.
Cada um dos artigos trata de um tema da atualidade, sempre relacionados à liberdade de expressão. No caso específico do artigo de Nassar, destaca-se ao fato de Milton criticar os censores, de maneira impiedosa, denominando-os de mercadores do atraso, pois a “mais rica mercadoria” da Inglaterra não estava nos bens de consumo que produzia em abundância e, sim, na “verdade”. São palavras que permanecem vivas. E que no conjunto livro, por caminhos diversos, fica cristalino que contra o excesso de liberdade só existe um caminho a seguir: a liberdade ainda maior. O lançamento dos Pensadores da liberdade ocorreu no dia 29 de maio, no SESC Pinheiros, durante o Seminário Cultura do Debate.
[1] MILTON, John. Areopagítica: discurso pela liberdade de imprensa ao parlamento da Inglaterra. Tradução Raul de Sá Barbosa. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999, p. 141
Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje
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