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Luli Radfahrer
luli@luli.com.br

@radfahrer

Ph.D. em Comunicação Digital pela ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP, onde é professor há 18 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, Estados Unidos, Europa e Oriente Médio. Mantém um blog com seu nome, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Tem uma coluna semanal na Folha de S. Paulo e uma coluna mensal na Revista Imprensa.

A edição dos e-books

              Publicado em 10/06/2014

A edição bibliográfica sempre foi uma indústria parcialmente democrática. Se por um lado qualquer pessoa poderia submeter seu manuscrito para publicação, a produção e distribuição era um negócio de risco.

Para minimizá-lo surge o conselho editorial, que decide o que seria publicado. Abre-se o parêntese de Gutenberg e o livro se transforma em símbolo de conhecimento. Tê-los é quase tão importante quanto lê-los.

Por mais que filósofos e literatos defendessem variações da ideia proposta por John Donne no Século 17, todo leitor era, sim, uma ilha. Seus livros, como suas aulas, músicas e histórias, acabavam. Fim. The End.

Mas conversas não acabam. No máximo são interrompidas para serem continuadas posteriormente até que sejam eventualmente abandonadas.

E-books não são "apenas" livros, mas uma espécie de software livre. Como tal, podem ser consumidos em diversos aparelhos, podem ser alugados, baixados, armazenados em bolsos, discos rígidos e na nuvem.

Não são finitos nem devem ter a pretensão de serem definitivos. Acessíveis a qualquer hora, podem ser buscados, anotados sem comprometer o original e ter todos os destaques compilados. Acima de tudo, podem ser compartilhados à vontade, sem que se perca a posse do original. O que, aliás, é um original?

O livro, como o leitor, mudou bastante nos últimos anos. A transformação é muito mais ampla do que sugere a mera semântica. Ou a eletrônica. Tirado da ignorância em que foi envolvido até praticamente o final do século 20, o leitor hoje é maestro de seu conteúdo. Toda obra é incompleta, infinita, como uma conversa.

Um bom livro, como uma boa conversa, não deve ser difícil nem admirado, mas usado como ferramenta de empoderamento. Talvez, por isso, eles tenham se transformado em símbolos de status intelectual, a ponto de serem acumulados em estantes nas paredes.

No mundo de abundância em rede, o conhecimento não é mais representado por uma biblioteca, mas por uma playlist. Não representa a verdade absoluta, nem tem pretensões de encontrá-la. Pelo contrário, mostra caminhos para a imensidão do mundo, que devem ser percorridos até que a curiosidade seja saciada.

Livre de seu suporte, o conteúdo mudou, transformando o meio pelo qual se desenvolvem, preservam, comunicam e transformam ideias.

Mas não se pode esquecer que o Livro é mais do que um objeto. Ele também é um formato de comunicação importantíssimo, cuja extinção é preocupante. Por demandar uma leitura contínua, concentrada e dedicada, ele estimula a reflexão. Seu raciocínio estruturado e envolvente cria uma pausa quase meditativa na correria do cotidiano.

Como há espaço para enumerar, desenvolver e, acima de tudo, fundamentar os argumentos expostos, é possível criar linhas de pensamento das quais qualquer um pode concordar ou discordar, parcial ou completamente. Só não se pode ignorá-las. Livros estimulam e fundamentam qualquer discussão.

Se a popularização dos e-books é bem-vinda por se sobrepor ao objeto livro, ela é preocupante por colocar em risco o formato literário, longo, reflexivo e profundo, fundamental em tempos impulsivos de excesso de informação e decisões por impulso. Pontos de referência em um universo de estímulos, livros editados representam a curadoria do conhecimento acumulado ao longo da história, que não pode ser ignorada.


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