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COLUNAS


José Eustáquio Oliveira de Souza


Presidente da Editora VEGA Ltda. e membro do conselho da Aberje. Atuou em cargos de destaque na área de comunicação de grandes multinacionais, como o Grupo Gerdau.

Accountability é a receita para matar a serpente antes que ela saia do ovo

              Publicado em 30/05/2014

Está lá na Wikipédia. Accountability é um termo em língua inglesa – sem tradução em português - que remete à obrigação de membros de um órgão administrativo (principalmente de governo, mas vale também para empresas, com ênfase para as de capital aberto) ou representativo de prestar contas a instâncias controladas ou a seus representados. Responsabilização pode ser uma possível versão do accountability em português. Como vivemos em um país no qual as palavras quase não significam mais aquilo que significavam originalmente, porque alteradas ao sabor os interesses políticos ou comerciais, refresquemos a cabeça do leitor.

Está lá na Wikipédia. Prestar contas – ou accountability – implica dizer que quem desempenha funções de importância na sociedade deve regularmente explicar o que faz, como faz, por que faz, quanto gasta e o que vai fazer a seguir. E eu acrescento: e quais são as consequências políticas, sociais e ambientais do fiz, farei ou estou fazendo. Para recuperar a memória de políticos, empresários e principalmente do nosso dileto público leitor profissional de comunicação, voltemos à Wikipédia. Está lá. Accountability não é apenas prestar contas em termos quantitativos. É auto avaliar a obra feita, dar a conhecer o que se conseguiu e justificar aquilo que falhou. E eu acrescento: é também se comprometer seriamente com clientes ou com a sociedade (cidadãos) de reparar, em tempo hábil, o erro cometido.

À Wikipédia, novamente. Está lá. A obrigação de prestar contas no sentido amplo é tanto maior quanto a função pública exercida. Ou seja: quando se trata do desempenho de cargos pagos pelo dinheiro dos contribuintes. E eu acrescento, accountability quer dizer seriedade, compromisso público. E não aquela conversa fiada que estamos cansados de ouvir diariamente nas crises criadas por denúncias de corrupção em órgãos públicos, e que tenta culpar a oposição pelo delito cometido em suas hostes; ou aquelas “notas oficiais” lamentando erros e acrescidas de promessas de punição para os culpados; ou que justificam atrasos de obras importantes divulgando cronogramas empolados e promessas vans; ou, pior, respondendo repórteres preguiçosos ou mal informados com o tradicional “estamos apurando o ocorrido e entraremos em contato quando nossa área técnica terminar seu trabalho”. Tudo isso sem falar das mentiras e falta de compromisso dos serviços de telemarketing que só faltam levar clientes à loucura.

Para o setor privado, vale a pena lembrar outros significados de accountability. Na esfera ética, por exemplo, é um conceito frequentemente usado em circunstâncias que denotam responsabilidade civil, imputabilidade, obrigação e prestação de contas. Na administração, a acountability é considerada um aspecto central da governança, tanto na esfera pública, quanto na privada, como na controladoria ou contabilidade e custos. Na prática - está lá na enciclopédia eletrônica mundial - accountability é a situação em que “A reporta B quando é obrigado a prestar contas a B de suas decisões, passadas ou futuras, para justificá-las e, em caso de eventual má conduta, receber punições”.

Em outras palavras, accountability é o outro nome de democracia porque significa a responsabilidade do governo de prestar contas de seus atos para os cidadãos. E eu acrescento: principalmente por meio de uma comunicação clara, correta, objetiva e honesta. Está é também a obrigação das empresas privadas nas sociedades democráticas e que deve ser cumprida à risca em relação aos seus diversos públicos que gravita em seu redor: clientes, sociedade, fornecedores, empregados e acionistas.

Agora uma reflexão que não está na Wikipédia. Ela é apropriada para nos indagarmos a respeito do significado dos fatos estranhos que tomaram conta do Brasil nos dias de hoje. Mire e veja, meu caro leitor. Quando uma sociedade entende que deve fazer justiça com as próprias mãos; quando líderes sindicais entendem que podem fazer greves e parar uma cidade à revelia da Constituição e com a aquiescência escamoteada do Poder Público e do Judiciário, contra o sagrado direito de ir e vir da maioria; quando a corrupção corroe as relações de poder e não é devidamente apurada e punida por questões eleitoreiras; quando empresas vendem gato por lebre para os consumidores (cidadãos) e não são exemplarmente punidas; ou quando policiais entram em greve (à revelia da Lei) e as cidades são apropriadas imediatamente por saqueadores, estupradores e assassinos... alguma coisa podre tomou conta do ar que a sociedade respira.

E a maior parte da podridão pode ser perfeitamente atribuída ao comportamento pouco responsável de grande parte dos dirigentes em razão da falta de accountability que grassa no país. Uma das saídas é fazer como eu: correr à Wikipédia para relembrar o significado do prestar contas para a saúde da democracia e tentar colocá-lo em prática todos os dias, custe o que custar. Ainda é tempo de ajudarmos a civilização brasileira a vencer a barbárie na terrinha descoberta por Cabral. Tenho plena certeza de que não disse nada de novo para o leitor bem informado do site da Aberje. Mas, do jeito que a carruagem anda, é sempre bom lembrar o óbvio. Afinal, a história tem demonstrado: quando a serpente sai do ovo, as consequências são terríveis.


Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor. 1900

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