Busca avançada                              |                                                        |                            linguagem PT EN                      |     cadastre-se  

Itaú

HOME >> ACERVO ON-LINE >> COLUNAS >> COLUNISTAS >> Marco Antônio Eid
COLUNAS


Marco Antônio Eid


Jornalista, escritor e executivo da área de comunicação, é Diretor de Conteúdo da RV&A (Ricardo Viveiros & Associados - Oficina de Comunicação).

Os números da Copa do Mundo

              Publicado em 19/05/2014

Devido à grande polêmica em torno dos números da Copa do Mundo e à infinidade de matérias contraditórias sobre o tema, dediquei-me a um detalhado exercício jornalístico, buscando apurar a realidade dos dados e investimentos. Creio que este conteúdo possa ser útil aos profissionais de comunicação, considerando que há um grande número de empresas patrocinadoras e/ou fornecedoras de serviços e produtos à edição brasileira do maior evento esportivo mundial, que ficam no fogo cruzado das informações desencontradas e expostas aos vândalos. Estes extrapolam o direito legítimo à livre manifestação e depredam o patrimônio público e privado nos protestos contra o torneio, como aconteceu em 15 de maio último em São Paulo, incluindo ataques a agências de automóveis de marcas atreladas à competição.

Por conta de informações muitas vezes irreais divulgadas aos quatro cantos, criam-se situações especiais e sensíveis a serem gerenciadas pelos profissionais de comunicação de muitas organizações. A ideia é contribuir, mesmo que modestamente, para que ninguém tome bola nas costas! Vamos lá...

A 36 dias do início da Copa do Mundo da FIFA, em 7 de maio, quando Felipão convocou os 23 jogadores da Seleção Brasileira, os números dos investimentos relativos à organização do evento eram os seguintes: R$ 25,79 bilhões previstos; R$ 23,48 bilhões contratados; e R$ 14,15 bilhões executados.

A grande pergunta que se tem feito é: haverá lucro ou prejuízo? Para respondê-la, não se pode pensar em um exercício contábil como se estivesse sendo abordado um empreendimento empresarial no qual se calculam a taxa de retorno, amortizações dos financiamentos e previsão dos resultados. No caso da Copa, as variáveis são absurdamente múltiplas.

Devido a essa complexidade, veem-se distintos estudos sobre o assunto, com conclusões opostas, dividindo a opinião pública quanto à pertinência de o Brasil sediar a competição. Para se ter uma visão mais realista, é preciso avaliar de modo separado cada uma das áreas de investimentos, porque são de natureza diversa. Tomaremos como base os R$ 25,79 bilhões de recursos previstos. Podemos dividir o montante em dois grupos quanto à natureza dos empreendimentos: estádios (R$ 8 bilhões), vinculados de modo direto ao futebol: e obras de múltiplo uso por parte da sociedade (R$ 17,78 bilhões), relativas à infraestrutura, mobilidade, segurança pública e turismo.

Quanto às arenas, a origem dos investimentos é a seguinte: R$ 1,86 bilhão de governos estaduais; R$ 14,25 milhões de prefeituras; R$ 1,40 bilhão do Governo do Distrito Federal; e R$ 807,75 milhões da iniciativa privada. A União não fez aportes diretos, mas, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), concedeu financiamentos de R$ 3,91 bilhões.

Os estádios darão lucro? Para os clubes que os construíram, como o Corinthians, o Internacional de Porto Alegre e o Atlético Paranaense, é presumível que sim, considerando que deverão jogar em suas novas casas pelo menos uma vez por semana, além da previsão de shows, espetáculos, movimento de lojas, restaurantes e vínculo com programas de sócios torcedores. Por isso, a pergunta a ser feita pela sociedade é se não representarão prejuízo ao setor público.

Para a União, não haverá danos se os financiamentos do BNDES forem pagos de modo correto e pontual pelos clubes e governos tomadores dos empréstimos. Para que se possa acompanhar isso, é importante conhecer as condições da linha de crédito denominada ProCopa: podem ser financiados 75% de cada obra, no limite de R$ 400 milhões; a base é a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), mais remuneração do BNDES, de 0,9% ao ano, e spread; prazo para o pagamento é de 15 anos, incluindo até três de carência.

No tocante às arenas estatais, como o Maracanã (Governo do Rio de Janeiro), Mané Garrincha (Distrito Federal) e Mineirão (Minas Gerais), dentre outros, o prejuízo será evitado se houver a reposição dos recursos aos cofres públicos. Em distintos prazos, pois não se pode comparar o movimento, número de jogos e eventos das diferentes cidades, pode-se presumir que haverá retorno dos investimentos, também como resultado dos jogos, shows e eventos, que deverão ser incrementados nas novas arenas.

Quanto aos empreendimentos de múltiplo uso por parte da sociedade, a questão não é se darão lucro. Deve ser avaliada a relação custo-benefício para a população, pois se trata de investimento a fundo perdido do setor público, como ocorre com hospitais e escolas, por exemplo.

No caso dos aeroportos, o investimento da União é de R$ 2,66 bilhões e o da iniciativa privada, R$ 3,61 bilhões, totalizando R$ 6,28 bilhões. Não há recursos estaduais e municipais. O aporte público é ínfimo ante as receitas auferidas pelo Governo Federal somente nos leilões de concessão do Galeão e Cofins (R$ 20,83 bilhões) e Cumbica, Viracopos e Brasília (R$ 24,5 bilhões).

No tocante às obras de mobilidade urbana, os maiores investimentos em trens, metrôs e projetos viários são dos governos estaduais (R$ 2,42 bilhões), seguidos dos municípios (R$ 1,32 bilhão), da União (R$ 24,71 milhões) e do Distrito Federal (R$ 2,2 milhões). O Governo Federal concedeu financiamentos de R$ 4,37 bilhões. No total, são R$ 8,14 bilhões.

 Há, ainda, os investimentos em telecomunicações (R$ 404,56 milhões) e segurança pública (R$ 1,87 bilhão), ambos com recursos exclusivamente federais; portos (R$ 649,50 milhões, sendo R$ 643,20 milhões da União e R$ 6,30 milhões de governos estaduais); e desenvolvimento turístico (R$ 184,93 milhões, sendo R$ 162,75 milhões do Governo Federal, R$ 3 milhões dos estados, R$ 17,87 milhões dos municípios e R$ 1,29 milhão do governo distrital).

Esclarecida a impossibilidade de uma análise contábil convencional, pode-se dizer que a Copa não dará prejuízo, mas terá um impacto positivo pequeno na economia (afinal, os R$ 25,79 bilhões de investimentos previstos representam apenas cerca de 0,5% do PIB nacional de R$ 4,84 trilhões). Porém, estimulou alguns segmentos, em especial a construção civil, e seu legado será importante para as cidades-sede, em especial se, após o torneio, concluírem-se as obras de infraestrutura que estão atrasadas.

Também seria interessante aproveitar a presença de 600 mil torcedores estrangeiros, que deverão deixar cerca de US$ 3 bilhões (R$ 6,7 bilhões) em nossos restaurantes e comércio, para convertê-los em turistas frequentes e multiplicadores da imagem do Brasil como destino. Este seria um ganho extraordinário, pois o turismo é uma das maiores indústrias do Planeta. A França recebe 80 milhões de visitantes/ano e nós, apenas seis milhões. Tapete vermelho neles... 


Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor. 1615

O primeiro portal da Comunicação Empresarial Brasileira - Desde 1996

Sobre a Aberje   |   Cursos   |   Eventos   |   Comitês   |   Prêmio   |   Associe-se    |   Diretoria   |    Fale conosco

Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial ©1967 Todos os direitos reservados.
Rua Amália de Noronha, 151 - 6º andar - São Paulo/SP - (11) 5627-9090