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COLUNAS


Marco Antônio Eid


Jornalista, escritor e executivo da área de comunicação, é Diretor de Conteúdo da RV&A (Ricardo Viveiros & Associados - Oficina de Comunicação).

O diferencial de credibilidade da mídia impressa

              Publicado em 28/04/2014

Ante o fechamento de jornais e revistas e a redução do número de páginas que se verifica no Brasil e em vários países, é preciso analisar com mais equilíbrio a real relação de causa-efeito entre esse fenômeno e o advento das mídias eletrônicas. Não se pode simplesmente ignorar algumas consequências resultantes do boom da internet e das fulminantes transformações que propiciou à comunicação. Negá-las seria o primeiro passo para uma atitude passiva ante algo que exige mobilização, mudanças, ousadia e postura competente de toda a cadeia produtiva da comunicação impressa.

Em nosso país, tivemos, nos últimos anos, o fechamento da Gazeta Mercantil e do Jornal da Tarde e a transformação do Jornal do Brasil e da Gazeta Esportiva em veículos on-line. Estes, considerada a tradição das marcas jornalísticas envolvidas, são os exemplos mais marcantes.

Porém, se analisarmos a questão mais profundamente, veremos que o problema desses veículos não é atrelado apenas à concorrência dos meios eletrônicos. Podemos compará-los a organismos já debilitados por distintas causas, que não é o caso de abordar aqui, e que, por isso, não resistiram ao ataque pontual de um vírus; ou que, embora saudáveis e robustos, não souberam tomar a vacina certa para se prevenir diante de uma nova doença.

Um aspecto a ser observado refere-se à regra geral de sobrevivência em todos os mercados de concorrência acirrada: é necessário enfatizar os diferenciais e valorizar os melhores atributos, valores e expertises. Considerando tal premissa, não há dúvida de que a grande vantagem competitiva da mídia impressa é a credibilidade. Numerosos estudos já demonstraram que a tinta sobre o papel agrega esse valor à comunicação. A imprensa, portanto, precisa capitalizar esse diferencial. O tema também é objeto de pesquisas acadêmicas e análises de abalizados estudiosos e intelectuais.

O genial escritor e linguista italiano Humberto Eco explica a percepção de confiança no impresso em uma frase cirúrgica: “A internet é perigosa para o ignorante e útil para o sábio, pois ela não filtra o conhecimento e congestiona a memória do usuário.” A mídia impressa, nesse contexto, tem a capacidade, que, aliás, deve exercer com senso ético e competência, de ser a mediadora da verdade e fiadora dos fatos. Não se deve prestar às versões, que campeiam nas páginas libertárias da Web.

Em nosso país, prevalece a tendência de maior credibilidade da mídia impressa. É o que mostra a novíssima Pesquisa Brasileira de Mídia 2014, realizada pelo Ibope, para a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. O brasileiro passa quase quatro horas por dia conectado à internet e tem a TV como meio de comunicação predileto, mas confia mais em uma notícia publicada em jornal impresso!

O jornal impresso é o veículo de maior credibilidade: 53% das pessoas consultadas responderam que confiam sempre neles. O mesmo percentual afirma acreditar poucas vezes em notícias veiculadas na Web. Redes sociais e blogs nunca são confiáveis para 20% dos entrevistados e os portais eletrônicos, para 16%. A amostragem da pesquisa é expressiva: foram entrevistadas 18.312 pessoas, em 848 municípios de todos os Estados.

É fundamental que a imprensa brasileira fique atenta às tendências e indicadores. Não é prudente atribuir quedas de tiragens, redução de páginas e perda de publicidade apenas ao advento dos meios eletrônicos. É importante fazer autocrítica e investir no diferencial da credibilidade, o que implica imparcialidade e não sectarismo. Informar corretamente o leitor deve ser prioritário! A pesquisa do Ibope mostra que os brasileiros esperam isso da mídia jornalística!

À credibilidade somam-se outros atributos capazes de contribuir para a atratividade de jornais e revistas impressos: produção de reportagens e conteúdos exclusivos; qualidade do texto (forma, informação, boa gramática, fontes abalizadas e consistência dos dados; diagramação bonita e atraente; e recursos visuais das artes gráficas). Investir nesses itens é mais produtivo do que ficar lamentando a concorrência da internet.

Prova disso é que veículos de comunicação importantes começam a perceber que a Web não é a raiz basilar de seus males. Um ano e dois meses após a publicação do que foi chamada de sua última edição impressa, a revista Newsweek voltou, em março de 2014, às bancas de Nova York. A publicação norte-americana, com assinantes em todo o mundo, tinha circulação de 1,5 milhão de exemplares no final de 2012, quando encerrou as edições impressas.

O diário californiano Orange County Register, depois de ter perdido páginas e encolher, passou a investir nos atributos da comunicação impressa. Agora, está ampliando a tiragem, aumentando o número de páginas e contratando jornalistas. Sua redação já está com 360 profissionais. Um dos segredos é justamente produzir material exclusivo em seus dez cadernos, mantendo foco no noticiário local e, assim, se diferenciando como informativo para a população. São vendidos 130 mil exemplares nos dias úteis e 300 mil aos domingos. A imensa maioria dos leitores lê a versão impressa, reforçando a receita publicitária.

Revistas e jornais impressos podem ser perenes. A eles próprios cabe garantir o seu futuro. Dentre os sete bilhões de habitantes da Terra, há públicos para todas as mídias. Nesse contexto, os distintos meios devem complementar-se no processo de difusão de conhecimento e informações. É preciso romper o paradigma do canibalismo entre eles. Educação é o fundamento básico e a grande conquista da humanidade para que a comunicação, impressa e eletrônica, seja cada vez mais ampla, democratizada e cumpra sua missão como catalisadora do desenvolvimento! 


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